TUDO SOBRE A GLUTAMINA – PARTE 2

NOTA DO AUTOR: o intuito da série não é influenciar o leitor a usar suplementos! QUE FIQUE BEM CLARO! Privilegio sempre a livre escolha.

Objetivos dos artigos: caso você tome suplementos, quero que entenda o porquê de está-los consumindo e como eles funcionam em seu organismo; se nunca ouviu falar sobre o tema, ampliará seu conhecimento de mundo ao ler a série; se está na dúvida entre comprar ou não tal coisa, depois da leitura conhecerá os prós e os contras; e, para o caso de você ser radicalmente contra a utilização de qualquer suplementação, conhecerá novos argumentos para reforçar ou mudar suas opiniões.


FERNANDO PAIOTTI.

Fala rapaziada!

Ao final do último artigo desta série vocês me xingaram? Escrevi pouco né?! Mas foi pelo seu bem, assim a informação fica mais fácil de ser assimilada! “Nossa de desculpinha safada, heim Fernando?!”...

2. SOBRE A INFLUÊNCIA NO SISTEMA IMUNOLÓGICO.

Muitas pesquisas estão sendo feitas para identificar as substâncias capazes de melhorar a resposta imune do nosso organismo, os chamados imunonutrientes. A imunonutrição é um campo que vem crescendo e foi através dela que consegui diversos artigos sobre a suplementação da glutamina, que a partir de agora passaremos a chamar de Gln.

Para que você tenha uma ideia da importância deste aminoácido para nosso sistema imunológico, nossos macrófagos utilizam-no para a realização das funções fagocíticas e citotóxica. Além disso ele também é utilizado em altas taxas para a proliferação de linfócitos e para a atividade fagocítica de neutrófilos (Calder PC, Yaqoob P. Glutamine and the immune system. Amino Acids. 1999). O que exatamente isto quer dizer? Significa que nossos leucócitos, também chamados de células brancas ou células de defesa, que são células que defendem nosso corpo contra doenças, bactérias, vírus, etc, utilizam a Gln como energia para se duplicarem e formarem mais anticorpos (Rowbottom, 1996). Resumindo: a suplementação com glutamina pode te deixar mais resistente a doenças.

Em situações de estresse constante e prolongado, como exercícios exaustivos e pós-cirurgias, a oferta de glutamina cai bastante, deixando o organismo mais suscetível a doenças (PACIFICO et al., 2005) e ao overtraining: de forma simplificada, este seria o estado causado pelo excesso de treinamento, fazendo com que nosso organismo não mais consiga se recuperar adequadamente. Os sintomas normalmente envolvem perdas de força, massa muscular, apetite, disposição, insônia, dores de cabeça e infecções oportunistas. Para fortalecermos a ligação entre overtraining e baixos níveis de glutamina, temos pesquisas que relataram que as concentrações de Gln plasmática em marombeiros saudáveis e overtreinados, são, respectivamente, 550 micromol/L, e 503 micromol/L.

Esse estresse todo irá aumentar os níveis plasmáticos de cortisona, o que por sua vez aumentará a gliconeogênese, causando degradação proteica acompanhada de padrão específico de liberação de aminos no sangue (Moinard et al., 1999). Isso significa exatamente o que tanto se fala e se ouve nas rodas de musculação: o aumento do stress, aumenta o cortisol, que aumenta o catabolismo para liberar aminoácidos no sangue que, por fim, nos faz perder massa muscular...


Quando isso acontece, a Gln é um dos primeiros aminos a serem recrutados e mandados para o sangue, só que nessas situações, os rins, o fígado (especialmente quando a oferta de carboidratos é pequena) e, principalmente, o intestino, acabam captando muita Gln (Rowbotton, 1996 e Walsh, 1998), resultado: demanda muito maior que a oferta, sendo que muitos órgãos e tecidos, ficarão sem... Vira aquele saldão de fim de ano: todo mundo gritando, se empurrando, aí quando você vai ver, acabou tudo! 
“é minha, dá minha glutamina, vi primeiro”
Para exemplificar o quadro crítico que pode ocorrer durante atividades físicas extenuantes, mostrarei um estudo de duas partes realizado com ciclistas. O primeiro, relatou que, após uma competição, a queda nos níveis de glutamina é tão grande, que leva 16 horas para se reestabelecer e que todos os envolvidos apresentaram algum tipo de infecção viral e/ou bacteriana nos dias que sucederam à pesquisa. Já no segundo estudo, 10 gramas de Gln foram administradas entre os atletas da seguinte maneira: 5 gramas após a maratona e mais 5 gramas, duas horas depois dela. Apenas 19% dos atletas apresentou algum tipo de infecção desta vez.

Mas que fique claro que a pesquisa foi feita com ciclistas, ou seja, em nós marombeiros o efeito seria diferente, e acredito que a Gln não levaria tantas horas assim para se restabelecer  A importância desse estudo foi comprovar que de fato os níveis do aminoácido caem radicalmente após a prática esportiva.

Bom, vamos fingir que a série se encerra aqui, ok? “Ufa! Não aguentava mais mesmo! To achando uma...”. Beleza, filhão, beleza... Até agora você aprendeu que a gluta te ajuda a prevenir doenças e diminui os riscos de overtraining. Só essas duas informações já seriam ótimos motivos para seduzi-lo a utilizá-la. Quem aqui nunca pegou uma gripe e ficou uma semana de cama faltando no trabalho/faculdade e, pior, nos treinos?! Quem nesse incidente perdeu 2kgs e 0,5 cm de braço? Aí quando volta a treinar é aquela moleza de merda, o supino mais pesado do que nunca...


Não estou bem...

Enfim, é um cenário muito desagradável, que pode comprometer os ganhos por meses a fio. Pior ainda seria o caso de você já estar com uma agenda toda marcada de eventos/festas/viagens/fotos e ficar doente, sendo que aqui, mais do que nunca, a Gln entraria como nossa aliada. Isso sem mencionar a questão do overtraining, caro leitor, porque aí sim o problema ficaria muito mais sério.
Para finalizar, uma última informação: o consumo de 40grs de Gln por dia mostrou-se bastante eficaz na manutenção e fortalecimento do sistema imunológico em pacientes portadores de AIDS, assim como nos que foram submetidos a transplante de medula.


3. SOBRE A INFLUÊNCIA NO TRATO GASTROINTESTINAL

Nosso trato gastrointestinal está entre os maiores consumidores do aminoácido em estudo, representando, sozinho, 40-60% da glutamina gasta pelo organismo!

O intestino, malandrinho e egoísta que só, segura para ele uns 50% de glutamina que passa pela região no processo de digestão. Aí, como ninguém fala nada, ninguém bate nele, ele faz o que quer... Gosto de comparar essa atitude do intestino como a do típico político brasileiro: toda verba que entra é desviada um pouco para ele, sendo o resto destinado à realização de algum projeto.



A Gln é uma importante fonte energética para a integridade e bom funcionamento da mucosa intestinal, além disso, preserva a barreira física do intestino, impedindo, por exemplo, invasões de bactérias e vírus (PACIFICO et al., 2005).

Temos também que a gluta melhora a absorção de nutrientes pelo organismo, uma vez que auxilia na proliferação de células intestinais, além de alimentá-las, otimizando, assim, o trabalho por elas desempenhado.

Estudos demonstraram que pessoas que usam medicamentos do tipo anti-inflamatórios não esteroidais, como o ibuprofeno, talvez precisem de uma suplementação especial de glutamina, pois ela é capaz de desfazer os malefícios causados por estas drogas ao trato gastrointestinal, como o aparecimento de úlceras e a agressão à parede do intestino, prejudicando, assim, a absorção de nutrientes.

Além disso, a glutamina também pode ajudar no tratamento de cólicas e diarreias (em pequenas doses, como 2-3grs), assim como auxiliar na recuperação dos devastadores efeitos colaterais que a quimioterapia pode causar, porém, para tanto, doses mais “cavalares” serão necessárias. 
Ficamos por aqui. Marombeiros de plantão, aguardem! No próximo artigo, a influência da glutamina na musculação.

(Essa série contém 5 partes. Continue a leitura acessando: parte 1parte 2parte 3parte 4 e parte 5).



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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