NOTA DO AUTOR: o intuito da série não é influenciar o leitor a usar suplementos! QUE FIQUE BEM CLARO! Privilegio sempre a livre escolha.
Objetivos dos artigos: caso você tome suplementos, quero que entenda o porquê de está-los consumindo e como eles funcionam em seu organismo; se nunca ouviu falar sobre o tema, ampliará seu conhecimento de mundo ao ler a série; se está na dúvida entre comprar ou não tal coisa, depois da leitura conhecerá os prós e os contras; e, para o caso de você ser radicalmente contra a utilização de qualquer suplementação, conhecerá novos argumentos para reforçar ou mudar suas opiniões.
FERNANDO PAIOTTI.
Dando continuidade à série, hoje trataremos sobre a glutamina na musculação. De longe, acredito que era o que os leitores mais queriam aprender, então resolvi adiantar o tema. Boa leitura!
4. Sobre a influência na musculação: gliconeogênese, níveis de
insulina e hidratação muscular.
Exercícios intensos e de longa
duração causam uma considerável queda nos níveis de glutamina muscular. A
título de exemplificação, temos que uma prova de Triathlon retira cerca de 23%
deste aminoácido da musculatura (BASSIT et al,
2000). Para sermos mais precisos, normalmente o que se observa é o seguinte:
durante o exercício, a concentração da glutamina na musculatura se eleva; duas
horas depois da prática deste, seus níveis caem absurdamente. Estudiosos
acreditam que isso ocorra por conta da queda dos níveis de glicogênio
pós-exercício.
Bom, vamos bem
na manha agora, com tranquilidade nas explicações. Você está lá todo(a)
paquitão/paquitona fazendo o seu treino e gastando seu glicogênio para gerar
energia para os exercícios. Infelizmente, os desgraçados dos nossos músculos
vão querer entrar nessa brincadeira de fornecer mais energia, mesmo sem serem
convidados... Eles vão se oxidar, ou seja, vão se transformar em combustível,
gastando os aminoácidos que os compõem nesse processo.
O nome disto é
gliconeogênese, que quer dizer formação ou síntese de glicose, tendo nesse caso,
os aminos como matéria-prima. Nesse processo, quem mais perdemos são a Gln e os
BCAAs (leucina, valina e isoleucina). Daí o motivo de tanto falarem da
suplementação deles. Resumo da ópera: catabolismo muscular.
Agora vamos admitir que você suplemente Gln no pós-treino. Com ela entrando de forma exógena no organismo,
não haveria motivo para catabolizar o músculo. Explico melhor: você vai tomar o
suplemento, ele será absorvido e irá para a corrente sanguínea. Se já está
ocorrendo uma oferta de aminoácidos, por que nosso corpo catabolizaria massa
muscular para obtê-lo? Não haveria necessidade, então, concorda? Ou você acha que
seu corpo iria pensar “ah, vou queimar
toda a massa muscular desse cara mesmo assim, só pra sacanear ihihihi”.
Penso que não é por aí...
Quando consumida assim, a glutamina
auxilia na reposição do glicogênio (VARNIER
et al., 1995), devido à sua conversão em glicose e, prestem bastante
atenção agora: SEM QUALQUER ALTERAÇÃO NOS NÍVEIS DE INSULINA DO ORGANISMO!
Evitando, assim, efeitos lipogênicos (acúmulo de gordura). Essa informação é de
extrema importância para pessoas que são sensíveis à insulina ou que estejam
praticando uma dieta de baixo carbo.
Mas gostaria de chamar a sua
atenção para o seguinte: caso você não esteja em fase de definição muscular,
restrição calórica ou com problemas quanto aos níveis de insulina, considero a
suplementação de Gln que visa somente à
reposição de glicogênio, desnecessária. Seria muito melhor e mais barato simplesmente ingerir algum carbo no pós-treino, concordam? Haja vista que a Gln
ainda é muito cara no Brasil.
Para que você veja na prática como
a coisa funciona, foi feito um estudo com ciclistas que, após 90 minutos de
exercícios intensos, receberam aplicações intravenosas de Gln. Duas horas após
o treino, seus níveis de glicogênio haviam mais do que dobrado. Foi observado
também que, no caso de a Gln ser administrada junto aos carboidratos, a
reposição de energia e a síntese proteica foram brutalmente potencializadas (RENNIE et al, 1994).
Até agora vimos como a glutamina pode te
ajudar a evitar o catabolismo muscular (preservando o aminoácido dentro
da musculatura, mesmo quando ficamos expostos à ação dos glucocorticóides),
assim como a repor glicogênio. Além do que já foi explanado, não
podemos deixar de citar a importância da Gln no anabolismo muscular. Como isso
ocorre? Ela aumenta o volume das células musculares, promovendo sua hidratação,
ou seja, faz com que as células captem e retenham mais água em seu interior
(fique tranquilo que essa hidratação, como disse, é intracelular, e não vai
deixar seu físico “embaçado” ou com aparência flácida, pois não retém água por
debaixo da pele...).
O fato de a célula estar bem hidratada ajuda a evitar o catabolismo e aumenta seu potencial anabólico, elevando, assim, a síntese proteica. Esse efeito poderia ser otimizado ainda mais, com a suplementação conjunta de Gln e creatina. Apenas por curiosidade: você sabia que nossa massa muscular tem, em sua composição, 75% de água?
O fato de a célula estar bem hidratada ajuda a evitar o catabolismo e aumenta seu potencial anabólico, elevando, assim, a síntese proteica. Esse efeito poderia ser otimizado ainda mais, com a suplementação conjunta de Gln e creatina. Apenas por curiosidade: você sabia que nossa massa muscular tem, em sua composição, 75% de água?
Antes
de encerrar mais um capítulo, gostaria de citar um estudo da Universidade de
Melbourne, Austrália. Os pesquisadores administraram 0,8 gr de Gln para cada
grama de peso corporal de ratos com uma severa patologia, semelhante à
distrofia muscular de Duchenne que ocorre em humanos, causadora de atrofia e
enfraquecimento muscular. Os resultados foram animadores: em quatro semanas, os
animaizinhos apresentaram fortalecimento 28% maior da musculatura da
panturrilha, se comparado ao grupo controle que recebeu o placebo.
5. Sobre a influência no GH, o hormônio do crescimento.
Em matéria de musculação, o
hormônio do crescimento, o GH, é um importantíssimo aliado. Ele impede com
bastante eficácia o aumento do tecido adiposo ao mesmo tempo em que mobiliza
gordura para que seja convertida em energia. Além disso, parece ter relação com
o transporte de aminoácidos para as células musculares, estimulando, assim, seu
crescimento. Show de bola, não?! Ajuda a
musculatura a crescer ao mesmo tempo em que queima gordura!
Ok, mas o que isso
tem a ver com a glutamina?
Gostaria de citar duas pesquisas
que, a meu ver, complementam-se, para mostrar como a glutamina pode exercer
influência na produção de GH. Estudos: (i) Universidade de Medicina de
Louisiana, EUA; (ii) WELBOURNE, 1995. Somando os
resultados de ambos temos que 2 gramas de glutamina são capazes de elevar consideravelmente
as concentrações plasmáticas do hormônio do crescimento. No caso de esse
aminoácido ser ingerido em jejum, o aumento de GH no sangue pode chegar a 400%!
Se o leitor está lendo a série “A Dieta do Guerreiro”, agora entendeu um dos
motivos de se suplementar com a glutamina, para potencializar os efeitos do
método.
Bom, por hoje
ficaremos por aqui. Acabei passando muitas informações e acho importante interrompermos
a leitura para não prejudicar o aprendizado. Só para despertar sua curiosidade,
citarei cenas dos próximos capítulos: continuaremos falando sobre a influência
da glutamina em nossos hormônios, em nosso cérebro, as doses ideais a serem
consumidas, os efeitos colaterais, o controle do PH sanguíneo, entre outras
coisas. Aguardem!
(Essa série contém 5 partes. Continue a leitura acessando: parte 1, parte 2, parte 3, parte 4 e parte 5).
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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