NOTA DO AUTOR: o intuito da série não é influenciar o leitor a usar suplementos! QUE FIQUE BEM CLARO! Privilegio sempre a livre escolha.
Objetivos dos artigos: caso você tome suplementos, quero que entenda o porquê de está-los consumindo e como eles funcionam em seu organismo; se nunca ouviu falar sobre o tema, ampliará seu conhecimento de mundo ao ler a série; se está na dúvida entre comprar ou não tal coisa, depois da leitura conhecerá os prós e os contras; e, para o caso de você ser radicalmente contra a utilização de qualquer suplementação, conhecerá novos argumentos para reforçar ou mudar suas opiniões.
Fala rapaziada! Tudo na santa paz?
Hoje daremos início a uma nova série, que tratará sobre um suplemento
até que recente no mercado e não muito famoso: a beta-alanina. Achei
interessante escrever sobre o assunto pois é um aminoácido bastante promissor,
não só pelas pesquisas, mas também pelos resultados satisfatórios na prática.
A exposição desse assunto se faz meio delicada em algumas partes pois
para explicar determinados termos e mecanismos de ação, ficamos dependentes da
explicação de outros “termos e mecanismos de ação”... Complicado, não?! Mas
escolhi uma linha de raciocínio que acho que ficará legal.
Boa leitura a todos!
FERNANDO PAIOTTI
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1. O QUE É
BETA-ALANINA (β-alanina)?
A beta-alanina é um aminoácido beta não essencial (nosso próprio organismo a produz), encontrado
principalmente nas carnes, incluindo peixes e aves. Mesmo com esse fabrico
natural, a disponibilidade deste nutriente pode ser insuficiente para os
atletas mais dedicados, e é aí que entra em cena a suplementação.
Por ser um aminoácido, você deve estar pensando: “legal,
ela participa na síntese de proteínas, para ganhar massa magra, afinal, esse é
o principal papel deles, certo? Crescer!”.
Bom, se você pensou isso, errou. Ela não é sintetizada em
proteína para construir músculo, pois isso é função dos aminoácidos alfa. O beta
no nome dela quer dizer que ela não faz parte desse grupo, já que seu papel principal,
na verdade, é aumentar a concentração de L-carnosina intramuscular, que também
é chamada de Beta-alanil-L-histidina, uma vez que é formada pela união da
Beta-alanina com a L-histidina. Essa conversão pode ocorrer no estômago, rins,
cérebro, bulbo, sangue e, em maior parte, no músculo esquelético (especialmente
nas fibras tipo-II, que são as rápidas e de explosão, já que as tipo-I possuem
bem menos).
Como a histidina existe em abundância no organismo,
pode-se dizer que a produção de carnosina é totalmente dependente da
disponibilidade de beta-alanina, que, em outras palavras, seria o seu fator
limitante.
Posto isso, agora ganhamos uma nova pergunta:
2. O QUE É
L-CARNOSINA?
A carnosina é um dipeptídeo que foi descoberto há mais de
100 anos e que, além de ser antioxidante, é um dos principais responsáveis pelo
tamponamento ácido-base no tecido muscular (outro importante tampão é o
bicarbonato de sódio, mas isso será assunto de artigo futuro).
Tentarei, de forma mais breve e simples possível,
explicar o que seria isso e como ocorre:
Aí está lá você, todo paquitão na academia, fazendo o seu
treino. Qual a principal fonte de energia gasta pelo músculo durante os
exercícios? O glicogênio. A glicose dele é oxidada e vai te fornecer os
subsídios para você realizar o seu trabalho muscular. Só que nem tudo são
flores, essa reação produz um resíduo, que acredito que quase todos já ouviram
falar, chamado ácido lático.
Como o próprio nome já diz, ele é ácido, ou seja,
possui pH baixo (se fosse básico, o ph seria alto). Sendo assim, durante
o exercício, o pH muscular vai ficando ácido, por conta do acúmulo de H+ (íons de hidrogênio). Acho que até aqui, está tudo tranquilo, não?
Continuando, o meio ácido tem um problema: ele prejudica
o seu desempenho ao puxar ferro, meu caro leitor. Em outras palavras, causa
fadiga muscular, queda de rendimento e a impossibilidade de se executar aquela repetição
a mais. Agora, posto isso, vamos chamar a carnosina na brincadeira.
Como disse no primeiro parágrafo, ela participa do
tamponamento ácido-base no tecido muscular. Isso significa que ela é capaz de
atrapalhar/atrasar o processo de acidificação que ocorre por conta do acúmulo
de íons de hidrogênio, fato que vai permitir que você tenha maior disposição no
treino, pegue mais peso, faça mais repetições, etc., melhorando, assim, seu
desempenho como um todo. Por conta disso que se começou a acrescentar
beta-alanina nos suplementos chamados de “pré-treino/pre workout”, que viraram
uma verdadeira febre já há alguns anos...
Rapaziada, só para frisar, já que o assunto é muito
importante, temos as seguintes ideias centrais discutidas até agora: os
exercícios aumentam o ácido lático, que por sua vez acidifica a musculatura,
gerando a fadiga. A carnosina vai atuar nesse cenário como tampão, atrasando a
acidificação e ajudando a retardar a exaustão muscular, permitindo, com isso, que
se aumente a intensidade nos treinos.
Acredita-se, também, que a carnosina ainda ajude a
musculatura a reter cálcio. Isso é de grande valia, uma vez que este mineral
está envolvido na contração muscular, sendo que suas quedas, podem comprometer
o andamento do exercício.
Vimos, então, que a suplementação de beta-alanina é
importante pois ela vira carnosina no organismo. Aposto que muitos devem estar
se perguntando:
3. Por que não suplementar carnosina ao invés
de beta-alanina?
Pois é, seria muito mais fácil mesmo, mas isto é inviável
por conta dos seguintes problemas:
A) Após
ingerida, ela irá para o estômago certo? Mas acontece que lá ela poderá ser
hidrolisada e digerida, liberando, com isso, beta-alanina e histidina, ou seja,
fez exatamente o caminho inverso do que gostaríamos. Sendo assim, ela não
chegaria inteira ao músculo.
B)
Caso ela não seja hidrolisada e seja absorvida integralmente, a brincadeira vai
terminar mal do mesmo jeito, haja vista que há uma enzima chamada carnosinase,
que estará esperando por ela no plasma sanguíneo, para fazer o mesmo estrago:
quebrar a carnosina.
C) Mas
você poderá estar pensando: “bom, tudo bem, o corpo quebrou nosso dipeptídeo,
mas aí ele já terá a matéria-prima para fazê-lo de novo... é só esperar”.
Engano seu, caro leitor. A suplementação também se mostra desvantajosa pois,
além de ser muito mais cara, as pesquisas apontam que no final não se acaba
elevando significativamente a quantidade de carnosina intramuscular.
Isso ocorre uma vez que sua quebra fornece apenas 40% de
beta-alanina, ou seja, é muito mais interessante consumir esse aminoácido
sozinho, mesmo porque, a histidina já é encontrada em abundância em nosso
organismo, não sendo um fator limitante nesta equação. Isso explica o motivo de
não se suplementá-la.
Resumindo: a carnosina não é suplementada diretamente
pois não é absorvida pelos músculos, muito pelo contrário, ela é desmembrada em
histidina e beta-alanina. O consumo deste último, por sua vez, mostra-se muito
mais eficiente e barato, pois fornecerá matéria-prima para que o organismo
fabrique a carnosina em escala muito mais elevada.
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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