DESABAFOS DE UM MAROMBEIRO LESIONADO E RECÉM-OPERADO: CAPÍTULO 6

ATENÇÃO: o artigo que você está prestes a ler não é censurado e contém muitas palavras de baixo nível, afinal, trata-se de um “desabafo”. Recomendo que pense duas vezes antes de ler, uma vez que eu sou um bom moço, educadinho, e quero que você continue com essa imagem de mim! (Ai, meu deus, quanta hipocrisia!!).

Fala rapaziada!

Dei uma bela de uma sumida com esta série, heim?! Desde dezembro do ano passado... Bom, mas não foi por vacilo não, é que gostaria de ter informações mais consistentes para passar a vocês. Minha recuperação no pós-operatório sofreu diversos altos e baixos, sendo que ora estava bem, ora estava muito mal. O jeito foi esperar completar 6 meses de cirurgia para vir falar algo mais concreto.

Lendo o capítulo 5 da série, vi que parei exatamente no momento em que me dirigia ao hospital. Vamos retomar por lá, boa leitura!



CRÔNICAS DE UMA CIRURGIA- PARTE I



O HOSPITAL

O barulho da sirene era ensurdecedor e a ambulância corria a pouco mais de 100km/h. O paramédico, desesperado, tentava me reanimar: totalmente em vão... "A hemorragia é muito grande! Nós o estamos perdendo!", dizia ele tremendo. Minha mãe, desesperada, chorava aos berros...
De repente, eu acordei... Era só um pesadelo! Ufa! Começava a véspera da minha cirurgia. 

O dia que antecedeu a operação foi fodinha, mas tirei de letra. A promessa que citei ao final do capítulo anterior me motivou. Eu teria que me manter calmo durante todo o dia.

 Na manhã seguinte, ou melhor, na madruga, às 4 da matina, saímos para o hospital, eu, minha mãe, minha tia e minha namorada. Não tinha equipe melhor.

Em uma única palavra, o que definiu esse dia foi o silêncio. No carro fomos todos quietos, o hospital estava deserto, o caminho até o quarto também: só se ouviam nossos passos no corredor.

Fui ao banheiro colocar o avental e tentar dar uma última urinada, ou melhor, mijada, já que a série é sem censura. Fiquei algum tempo pelado me olhando no espelho. Queria guardar a imagem daquele corpo todo hipertrofiado, cheio de veias, coisa que eu não veria mais por uns bons meses. Queria ver minhas virilhas “originais”, sem cicatrizes, pela última vez.

Coloquei a camisolinha e a toquinha, e sai parecendo um baitolinha do banheiro. Minha tia, pra zuar, pediu uma pose duplo bíceps, e tiramos algumas fotos. Pensei em colocá-las aqui, mas mudei de idéia, quero guardar só pra mim aquele momento, que foi ao mesmo tempo especial, assustador e muito íntimo.

De repente, o enfermeiro chegou e me deu uma injeção de Dormonide, acho que é esse o nome, que nada mais é do que um “boa noite Cinderela”, que alguns arrombados colocam na bebida das mulheres na balada com o objetivo de estuprá-las. Deveriam empalar e cortar o pau fora de um corno desses.

Galera, só sei que deitei na maca, despedi-me da mulherada e fui para a sala de cirurgia. E nada de o remédio fazer efeito... Aí o anestesista veio falar comigo e começou a procurar as veias na minha mão. Quando olhei pra frente, vi a coisa mais bizarra desta série: o médico assistente estava de terno e gravata borboleta. E digo mais, era tudo de tecido de veludo da cor roxa!

Esta bizarra imagem é a última lembrança que tenho de antes da operação...


ACORDANDO

Três horas e meia mais tarde, lembro-me de acordar na sala de cirurgia com uma dor fodida na barriga, e ficar reclamando. Depois, de aparecer no quarto, com a mesma dor e reclamar. Vi umas pessoas fazendo alguma coisa nas minhas pernas (wtf?!) e a dor passou. Depois acordei para valer e me contaram o que houve enquanto estava desacordado:

A segunda anestesia que recebi, a tal da raque, dada na coluna, não fez total efeito e minhas pernas ainda se mexiam... acabaram dando uma terceira, a geral. Gosto bastante de pensar que erraram por eu ser marombeiro e subestimaram o tamanho da minha carcaça, capaz de anular a quantidade de anestésicos fatais para uma pessoa normal/comum. É nóis, marombada!

A dor foderosa que senti quando acordei, era minha bexiga que estava MUITO CHEIA e, por isso, forçava todos os pontos que levei na cirurgia. Quando acordei no quarto, reclamando de dor, vi umas pessoas mexendo na minha perna. Na verdade eles estavam introduzindo uma sonda na minha uretra, ou seja, colocaram uma mangueira na minha mangueira.

O resultado foi nada mais nada menos do que 950ml de urina! Detalhe: a capacidade média de volume comportado pela bexiga de um adulto é 800ml, ou seja, essa porra estava prestes a estourar e me encher de mijo por dentro!

Sendo assim, quando disse que estava MUITO CHEIA, não foi uma hipérbole...

Como estava muito anestesiado ainda, nem sentia nada ali nos Países Baixos. Lembro-me apenas de ver dois galões amarelos nas mãos do enfermeiro que, apressado, ia a caminho do banheiro esvaziar os meus excretas.


O MALA SEM ALÇA

Segundo minha tia, eu falava assim quando voltei para o quarto: “eu to bem viu, já estou lúcido, estou muito bem, e vocês?” O problema é que eu não estava lúcido porra nenhuma, e fiz esse comentário umas 30 vezes, com intervalos de 5 segundos entre eles...


VERDADEIROS BANQUETES

Carrinho de comida

Como bom fisiculturista que sou, assim que recuperei a consciência eu perguntei: “e a comida? Estou com muita fome, não como há mais de 12 horas (tô catabolizando pra carai (essa pensei, mas não falei))”.

Só sei que o almoço sairia em meia hora, mas a enfermeira me trouxe um lanche, que sumiu antes mesmo de ela sair do quarto. Aí chegou o almoço, que também foi destruído sem dó.

Depois do almoço, uma pessoa muito especial veio me visitar, a nutricionista do hospital:
- Fernando Paiotti? O senhor está conseguindo comer???

(ai caraio, eu dou risada só de lembrar!!!)

Ela me perguntou de um jeito tão preocupada e inocente, rapaziada. Mal sabia ela com quem estava lidando... Não resisti e dei risada:

- Olha moça, eu sou marombeiro e como de 3 em 3 horas (ou menos) há tantos anos que já até perdi a conta. Comer, para mim, não é problema, pelo contrário. Estou cheio de fome...

Depois de uma piscadela, ela me olhou, riu, anotou umas coisas e saiu toda animada, pois finalmente ganhara um paciente com quem conseguiria desempenhar um trabalho legal.

Certamente ela entendeu a “gravidade da situação” e absorveu o recado como ninguém, haja vista que em pouco tempo mandaram-me um lanche que, poucos minutos depois, foi acompanhado pelo jantar.
Sou muito grato a essa adorável nutricionista, uma vez que, para complementar esta última refeição, recebi o melhor de todos os cartões/votos de “BOA RECUPERAÇÃO” desta cirurgia:

“Favor reforçar a alimentação do paciente Fernando Paiotti.
Atenciosamente,
Nutricionista X”

Lembro, como se fosse hoje, da cena do carrinho de comida chegando: duas sopas, duas saladas, dois sucos e um prato que transbordava de tanta comida, enfim, ela não brincou em serviço. Sinceramente, em 30 horas de internação, eu devo ter comido o suficiente para alimentar uma ala médica inteira.

Eu nunca tomo sopa, acho uma puta frescura, além de não encher a barriga. Comida que é comida tem que pesar no estômago, feito carne vermelha. Mas nesse dia abri duas exceções e bebi as sopas como se fossem o líquido da minha refeição.

Nesse aspecto, minha estadia foi TOP, pois vinha tanta comida, que as vezes eu tinha que matar em dois tempos, sendo que quando acabava o prato principal, traziam-me a próxima refeição!
Esse episódio me marcou muito! E tudo isso regado a muito soro na veia, mantendo uma oferta bacana e constante de aminoácidos no organismo: era o paraíso.

Pensei em jogar um verde e pedir se, de repente, sabe como é, né malandro?!, eles não possuíam alguns suplementos sobrando por lá, tipo uma glutamina e alguns BCAAs para darem aquela reforçada no sistema imunológico e no combate ao catabolismo “pós-operatório”... Ah moleque!
Mas acabou não rolando... que pena! 

Bons tempos...



UM REI DESTRONADO



Bom, só sei que em algum momento toda essa quantidade de comida teria que ser, humm, se o leitor me permite o gracejo, mandada embora... Pois é, e a tarefa não seria fácil, já que seu querido escritor não poderia fazer nenhum tipo de pressão abdominal.

Para o rei em seu trono, tudo o que restou foi “meditar”, jogar aquela porra daquele joguinho "Candy Crush" (odeio doces) e gritar: SAIA JÁ DESTE CORPO, POIS ELE NÃO TE PERTENCE... por favor!!! (suando gelado e já sussurrando).

Só para adiantar a história, eu acabei por entrar no Guiness Book, que será publicado no próximo ano: homem que mais pintou a porcelana num único dia: 9 vezes.

É galera, marombeiro que se preze, bate cartão várias vezes por dia no toillet. Quando não o faz com maestria (no meu caso, mais de 48hrs), é obrigado a fazer hora extra: fudido e mal pago!

Maus tempos...


Continua no próximo capítulo...

ATENÇÃO: esta série contém várias partes. Continue a leitura acessando:
PARTE 1: Introdução e apresentação dos eventos da série.
PARTE 2: Um jardineiro com o punho lesionado
PARTE 3: A epididimite
PARTE 4: A hérnia e a varicocele I
PARTE 5: A hérnia e a varicocele II
PARTE 6: CRÔNICAS DE UMA CIRURGIA - PARTE I
PARTE 7: CRÔNICAS DE UMA CIRURGIA - PARTE II



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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Comentários

  1. Grande, Fernando!

    Essa série é muito boa, sempre rende boas risadas...

    Vê se não demora com os próximos capítulos... Continuo aqui torcendo pela sua total recuperação!

    Abração!

    Pedro Henrique

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    Respostas
    1. Fala Pedro, te agradeço man. Dessa vez vou com ela até o final, sem mais pausas. Te agradeço pela força!
      Aquele abraço!
      Fernando Paiotti.

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    2. E vc já ta treinando Fernando Paiotti ?e quanto tempo de descanso no pós-operatório ?

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    3. Fala parceiro. Bom, vou explicar isto com mais detalhes nos próximos capítulos, mas para não deixar a pergunta sem resposta, este tipo de cirurgia funciona assim:
      - 30 dias de repouso absoluto. podendo tentar voltar a treinar de forma muito leve ao final. o que é quase impossível na maioria das vezes, sendo apenas papo médico para te por para cima e te enganar.
      - após 90 dias da data da cirurgia, os pontos internos não estouram mais e já dá para treinar meio pesado.
      - entre 6 meses e um ano após a cirurgia: este é o tempo que leva para parar de sentir dores. semana passada completei 6 meses de cirurgia e ainda sinto dores fuderosas quando treino pesado. o que só reforça a minha crença de que a medicina para um atleta dedicado e para uma pessoa comum são totalmente diferentes, não sendo possível comparar a recuperação de um sedentário com a de um marombeiro.

      Acredito que vou sentir dores por muitos meses ainda...

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    4. vlw parceiro,muito obrigado pela atenção tamo ai pra ver os próximos capítulos abraço.

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