DESABAFOS DE UM MAROMBEIRO LESIONADO E RECÉM-OPERADO: CAPÍTULO 7

ATENÇÃO: o artigo que você está prestes a ler não é censurado e contém muitas palavras de baixo nível, afinal, trata-se de um “desabafo”. Recomendo que pense duas vezes antes de ler, uma vez que eu sou um bom moço, educadinho, e quero que você continue com essa imagem de mim! (Ai, meu deus, quanta hipocrisia!!).

Fala rapaziada! Vamos dar continuidade às crônicas que escrevi sobre as 30 horas de internação da minha pós-cirurgia de hérnia inguinal, presente que recebi por ter treinado pesado, ou seja, como se deve, por mais de uma década. Boa leitura!



CRÔNICAS DE UMA CIRURGIA – PARTE II


UM VERDADEIRO CARNAVAL!
Um dos efeitos de se tomar uma tremenda anestesia no corpo é que seu metabolismo fica um bocado comprometido. Exemplos: a digestão fica mais lenta, assim como o peristaltismo. O esfíncter não trabalha bem, muito menos a bexiga...

Porra, bebendo água e tomando litros de soro por hora, minha bolsa de urina simplesmente não dava conta e enchia rapidamente. Acontece que eu não conseguia calibrar meu sistema excretor para mijar a hora que me desse vontade, já que o esfíncter não me obedecia.

Para piorar, eu permanecia o tempo todo deitado, e você, creio eu, sabe desde os 5 anos de idade (alguns aprendem aos 20) que deitado não é a posição correta para urinar, então o cérebro trabalha contra.
Toda vez era aquele sacrifício para começar o serviço, levando, em algumas situações, 5 minutos com meu pinto na mão, que nessa altura do campeonato já estava verde de tantos hematomas, assim como meu saco, que estava maior do que uma batata inglesa tamanho GG.

Pausa: só para lembrar, operei o testículo esquerdo e a virilha direita, ok? Varicocele e hérnia, respectivamente.

Amigo leitor, uma pergunta: é legal parar aquela urinada gostosa pela metade? Não é né... E nem que eu quisesse, conseguiria. Detalhe: os galões que me davam para usar, que na gíria deles chamam-se papagaios, eram de 500mL.

Em um destes sufocos urinários, depois de eternos 5 minutos de reza braba, o ouro líquido começou a sair! Ufa!

AEEE GENTE!!!
Consegui! Uhuulll, ESTOU MIJANDOOOO, ESTOU MIJANDO!!
Estou... Porra não consigo parar!!! NÃO PARA!

E o papagaio estava praticamente afogado, 5!
Minha mãe veio correndo, 4!
Olhei para todo aquele conflito, 3!
Toma o outro galão, filho, 2!
Caralho, não vou conseguir, 1!
Fudeu! 0!

SSHHHHH! Um jato de urina voou pelo céu feito serpentina de carnaval! E eu, para tal comemoração, estava vestido à caráter: com uma camisolinha mijada, fazendo papel de palhaço!
Ah!, o carnaval...

“A pipa do vovô não sobe mais... A pipa do vovô não sobe mais... Apesar de fazer muita força, o vovô foi passado pra trás!”

Sr. Fernando, se o senhor precisar de qualquer coisa, qualquer coisa MESMO, é só me chamar viu: estou à disposição...


GET UP, STAND UP!
Agora, o episódio mais bad mother fucker de todos foi depois do lanche da tarde, quando dois enfermeiros vieram pedir para eu tentar ficar de pé. Eu me lembro da dor até hoje: foi de longe a pior que já senti na vida, parecia que estavam rasgando o meu abdômen de ponta a ponta, com uma faca nada afiada.

Eu não conseguia respirar nem pensar, apenas berrar, comecei a perder os sentidos e me atirei nos braços do enfermeiro. Digo, apoiei-me como consegui no ombro do cara e ele me ajudou a sentar numa cadeira, às pressas, antes que eu apagasse. A cena foi meio gay, confesso, mas era beijar o ombro dele ou o chão... Até que era um ombrinho fortinho!

 Lutei o máximo que pude para não desmaiar e consegui, como tantas outras vezes depois de um agachamento profundo, com o diferencial de não ter que segurar o vômito também.

 De novo, aquele silêncio. Enxergava o mundo tingido de negro, enquanto era banhado por um suor gelado. Aos poucos voltei ao normal e deixei de parecer um fantasma, ou um cadáver, aos olhos de minha mãe, que me observava com um ar maternal preocupadíssimo, fato que me trouxe à tona.

Viram que a coisa era séria e comecei a receber fortes remédios para dor, da classe dos opióides, a famosa morfina: estudei essas porras na facul e sei que não brincam jamais em serviço. Sinceramente, foi a primeira vez na vida que tomei um remédio para dor e pensei: porra... funcionou heim... legal!

No final do dia fui capaz de ficar de pé pela primeira vez e arriscar alguns passos. Também, com a minha noiva ali me incentivando, eu executaria até um agachamento livre para impressionar.

Quero fazer uma pausa para explicar alguns problemas da minha cirurgia. Seguinte: o fato de ser marombeiro, ajudou o médico, segundo palavras dele, a identificar com facilidade as camadas musculares, por conta da hipertrofia e da definição, dando maior precisão e segurança à operação. Até aqui, ponto para o time dos marombas.


Para ele foi bem mais fácil, mas pra mim, isso seria pago com juros de agiota, em dólar e com correção monetária, já que a musculatura dura e desenvolvida perde elasticidade, mantendo, assim, os pontos e a tela costurada no buraco da hérnia constantemente sob tensão. Logo, eu sentiria muita dor (e como sentiria viu, hoje vejo como paguei caro...)! Ponto para o time... dos... frangos... (?!). 



RISADAS INFERNAIS
Para ajudar na recuperação, nada como se distrair certo? Com pessoas te animando e contando coisas engraçadas! Pois bem, lembro-me, infelizmente, de que em um daqueles banquetes medicinais que descrevi no último capítulo desta série, minha mãe, ao me servir, tropeçou e quase derrubou toda a bandeja repleta de alimentos nutritivos no chão. A cena, que de fato foi engraçada, virou um verdadeiro inferno de dores.

Comecei a rir e, ao mesmo tempo, a sentir torturas alucinantes. Fato que me deixou tenso, nervoso, em pânico, com traços de insanidade. O episódio terminou por me desencadear um ataque de risos. Ria aos grunhidos, implorando para que tudo passasse. Eu suava, babava e, por esforço extremo e/ou risadas, vertia algumas lágrimas, tamanho era meu desespero. Depois de uns bons minutos, com muitas recaídas, a cômica tormenta passou.



O HOMEM DO TERNO ROXO
À noite, o médico assistente, aquele do “terno roxo” do capítulo anterior, veio me examinar e me contou sobre as  paradas da anestesia, já relatadas anteriormente.

Lembrei-me do episódio e aí a ficha caiu: naquele início de cirurgia, eu já estava alucinando quando ele entrou na sala e eu nem havia percebido: na cabeça de um chapado marombeiro, um avental roxo, virou um terno de veludo roxo.

Pois é, acho que os cirurgiões não são tão dados assim às excentricidades da profissão...



UM PEQUENO ALÍVIO DEPOIS DE 5 MESES
Os leitores mais assíduos do site devem se lembrar de que na época eu estava com uma grave lesão na fibrocartilagem triangular do punho direito. Pois bem, quando voltei da anestesia, lembro-me de que uma coisa chamou barbaramente a minha atenção: minha mão não doía mais!

Depois de cinco meses sem conseguir rotacionar o punho, lá estava ele: firme e forte! Tomando morfina então, nem se fala, era uma verdadeira beleza. Mas... alegria de marombeiro dura pouco, pois quando recebi alta, e cheguei em casa, a dor voltou, fato que me levou a operar a região, em 10 de janeiro de 2014. Discutiremos isso mais à frente desta série, ok?

Mas de qualquer forma, o episódio foi mágico! Senti como se tivesse conseguido inspirar depois de 5 meses prendendo a respiração: inesquecível.



ENFERMEIRAS ASSANHADAS
Bom, o título desta crônica já disse tudo. A cada hora uma enfermeira vinha examinar o meu peru. Algumas mais “atentamente”, outras de forma mais profissional e séria. Até minha tia estranhou, tamanha era a atenção que eu recebia!

Não tenho certeza do porquê,  mas gosto de imaginar que fiz sucesso. Eu sei, eu sei, amigo leitor, mas vamos imaginar, ok?

Será que nas rodinhas do cafezinho delas eu virei o Sr. Bombadão da hérnia? Ou o Mr. Varicocele? Como o texto é meu, assim como o site, essa é a versão que vou empurrar para vocês e peço, por gentileza, que acreditem, combinado?

Bom, de qualquer forma, elas queriam algo de mim que eu não poderia dar, uma vez que estava operado tenho namorada...

Cadê o meu paciente lindo!? Cadê?! Quero te dar mais uma examinadazinha, meu marombeiro dodói... hihihi


UMA DUCHA E UMA DESPEDIDA
Depois do dilúvio, a calmaria: 30 horas após ser operado, recebi alta. Como em casa seria um verdadeiro sacrifício tomar banho e eu já estava meio mijado pelo episódio carnavalesco anteriormente citado, resolvi que a ajuda da enfermagem seria muito bem vinda nessa despedida.

Ah! Só para deixar claro, eu não tinha esperanças de que as enfermeiras da crônica aí de cima viessem me dar banho não, ok? Eu... é... não tinha... (Minha noiva lê meu site... o que eu poderia falar?!)

Infelizmente, veio um brother para fazer o serviço, o mesmo que introduziu um cateter na minha uretra logo após a cirurgia. Bom, depois dessa, acho que eu não tinha mais nada a esconder dele...

O banho foi rápido e estranho, já que fiquei sentado num tipo de cadeira. Antes que perguntem, o sabonete caiu sim, mas quem pegou foi ele, ok? Mas só porque eu mal conseguia me mexer... Ui!

Depois de um sufoco colossal para me trocar, fomos embora. Ufa! Não aguentava mais o hospital!

Tudo o que eu queria era chegar em casa em segurança e deitar na minha cama. Voltei no maior cagaço do mundo: tinha medo que batessem no carro da minha mãe durante o trajeto. O pior é que quase aconteceu, mas felizmente cheguei vivo para escrever mais um artigo desta série.

Continua no próximo capítulo...

ATENÇÃO: esta série contém várias partes. Continue a leitura acessando:
PARTE 1: Introdução e apresentação dos eventos da série.
PARTE 2: Um jardineiro com o punho lesionado
PARTE 3: A epididimite
PARTE 4: A hérnia e a varicocele I
PARTE 5: A hérnia e a varicocele II
PARTE 6: CRÔNICAS DE UMA CIRURGIA - PARTE I
PARTE 7: CRÔNICAS DE UMA CIRURGIA - PARTE II


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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