VITAMINA C e MUSCULAÇÃO – PARTE 5

Fala rapaziada! No artigo de hoje, discutiremos sobre possíveis efeitos colaterais causados pelo excesso de vitamina C.

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7. EFEITOS COLATERAIS CAUSADOS PELO EXCESSO DE VITAMINA C

Vamos abrir este capítulo citando alguns problemas mais simples, depois vamos nos ater aos mais graves/delicados.

A vitamina C pode causar desconfortos gastrointestinais (cólica, dor de estômago, diarreia) quando sua ingestão for mal planejada. Normalmente os motivos são dois: ou o sujeito está tomando uma dose muito grande de uma só vez, ou a quantidade diária está exagerada. Em outras palavras, erre a mão e você terá uma bela caganeira...


Além disso, ela também poderá causar deficiência em vitamina B12 e excesso de ferro no organismo. Tais fatos são fáceis de explicar uma vez que nossas reações químicas internas ocorrem de maneira interligada, com uma dependendo da outra, de forma que o aumento ou diminuição de uma reação traga consequências para as demais.

Vamos trazer o exemplo do ferro à tona como ilustração do que foi exposto: a vitamina C, como já explicado, aumenta bastante a absorção deste mineral. Até aí tudo bem, afinal, a falta de ferro pode causar, dentre outras coisas, anemia.

No entanto, o excesso também é prejudicial, pois cria um quadro chamado hemocromatose, que é a deposição de ferro em alguns tecidos do corpo, como coração e fígado, causando lesões às células, além de comprometer seu funcionamento e, consequentemente, o do órgão também.

Outros efeitos colaterais que podemos citar são: piora do quadro de gota, agravamento da anemia falciforme e mascaramento de exames laboratoriais para analisar glicose na urina (uma vez que esta e a vitamina C tem estruturas semelhantes).

Vamos agora passar aos casos mais complicados, digamos assim:

- ESCORBUTO DE REBOTE: abro com este pois é meu efeito colateral “favorito” (cientificamente, é claro). Ele não acontece da noite para o dia e o sujeito tem que caprichar para ter a doença. O grupo alvo é a galera teimosa que chuta o pau na suplementação e toma todos os dias 5, 8, 10g ou até mais.

Acontece que seu corpo simplesmente não precisa e não quer toda essa quantidade, então, ele vai se esforçar para excretar todo o excesso continuamente: a vitamina C entra no seu corpo, é retida na dose necessária e todo o resto lançado para a urina.

E o tempo vai passando, dias, semanas, meses...



Aí, por algum motivo (pedra nos rins, hemocromatose, viagem), o sujeito teve de diminuir a dose ou parou a suplementação. Infelizmente, o corpo não irá detectar a queda brusca por um tempo e vai continuar naquele lifestyle esbanjão, jogando a pouca vitamina C, que agora é consumida, diretamente na privada. Resultado: vai ficar dodói...

Se você toma doses absurdas de ácido ascórbico e quer parar, é essencial que as reduza aos poucos, assim seu corpo terá maiores chances de se acostumar e entender o que está se passando. A título de curiosidade, o escorbuto de rebote pode acontecer também em bebês cujas mães suplementam vitamina C: durante a amamentação a oferta do micronutriente é absurdamente grande, mas , quando esta é interrompida, a coisa fica feia.


- CÁLCULO RENAL: agora o assunto mais delicado, recheado de polêmicas e especulações. Afinal, a vitamina C dá mesmo pedra nos rins?


Tudo começou pelo fato de a vitamina C aumentar os níveis de oxalato no organismo, componente este que integra o hall de substâncias capazes de formar cálculos renais.

Para começar, vamos a um estudo publicado na associação americana de urologia (Olivier et al., 2003): a ingestão de 2g de vitamina C por dia aumentou, estatisticamente, a concentração de oxalato na urina. No entanto, mesmo pacientes com histórico de pedras nos rins não manifestaram o distúrbio. Aparentemente, doses de até 2g poderiam ser seguras (ao menos no que tange ao cálculo renal).

- Massey et al., “Ascorbate increases human oxaluria and kidney stone risk”, 2005: a suplementação utilizada neste estudo foi também de 2g. No entanto, a coisa já foi mais explicativa, haja vista que detectaram um aumento de excreção de oxalato na urina e de risco de desenvolvimento em pedras de oxalato de cálcio em 40% dos participantes da pesquisa.

- Auer et al., “The effect of ascorbic acid ingestion of the biochemical and physicochemical risk factors associated with calcium oxalate kidney stone formation”, 2005: 10 homens receberam 4g de vitamina C por 5 dias. Detectaram, assim como em outros estudos, que o pool de excreção oxalato não metabolizado ocorre 24 horas após o início da suplementação. Este estudo concluiu que: megadoses (4g/dia) de ácido ascórbico não aumenta as chances de desenvolver pedra de oxalato de cálcio nos rins.

- Thomas et al., “ascorbic acid supplements and kidney stone incidence among men: a prospective study”, 2013: neste estudo, analisaram 23 mil homens, por 11 anos e detectaram que apenas 2% deles desenvolveu pedra nos rins. No entanto, desse pequeno grupo, observou-se que a rapaziada que suplementava ácido ascórbico tinha o dobro de probabilidade de cálculo renal.

Conforme exposto, vocês puderam perceber que não temos ainda uma opinião formada e 100% precisa. Vários fatores precisam ser também levados em consideração para a análise deste contexto, como predisposição genética, estilo de vida, massa corporal, hábitos alimentares e ingestão de água.

É certo, aparentemente, que doses moderadas de vitamina C (como 2g/dia), sejam seguras, mesmo para grupos de risco, no que diz respeito ao surgimento de pedras nos rins. Aguardemos estudos melhores e mais conclusivos.

Existem ainda outros efeitos colaterais, mas vou guardá-los para o próximo e último capítulo desta série: “musculação e vitamina C”. Até lá!


ATENÇÃO: Essa série contém 6 partes. Continue a leitura acessando: 
- parte 1: Histórico/ Vitamina C: funções e benefícios;
- parte 2: Radicais livres Vs. vitamina C e seu efeito antioxidante/Efeitos da falta de vit. C no organismo;
- parte 3: Fontes naturais e dose diária recomendada;
- parte 4: Gripes, resfriados e vitamina C;
- parte 5: Efeitos colaterais causados pelo excesso de vitamina C;
- parte 6: Vitamina C e musculação.



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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