AERÓBIO EM JEJUM, BCAA E GLICONEOGÊNESE

Fala rapaziada!

Recentemente comecei a escrever textos num formato diferente, onde, num único artigo, associo três ideias aparentemente não interligadas, tendo por pano de fundo a musculação, e depois as costuro num só tema, enriquecendo nosso conhecimento de mundo.

Para dar continuidade a esse novo estilo, que estou gostando bastante e que veio para ficar, pretendo trazer uma discussão muito recorrente, que vira e mexe ouço ou me perguntam e que não faz sentido algum, desde que se conheça um pouquinho de bioquímica:

Posso utilizar BCAAs (ou qualquer aminoácido) antes do AEJ (aeróbio em jejum)?


AERÓBIO EM JEJUM

Não quero me estender em explicações sobre o tema, haja vista que muito já foi dito na série: “Tudo sobre o AEJ” (clique AQUI para ler).

Apenas para não passar em branco, o AEJ consiste na prática de exercícios aeróbios em baixa intensidade logo ao acordar, em jejum, com o intuito de maximizar a queima de gordura, ou lipólise, como preferir.

Para maiores informações, acesse o link fornecido, leia e depois volte.


BCAA

Outro tema muito manjado, inclusive já discutido aqui no site (clique aqui).

Pela milésima vez na história, BCAA é uma sigla que vem de “Branched Chain Amino Acids” e que significa aminoácidos (AAs) de cadeia ramificada.

Este grupinho é composto por três AAs essenciais, a saber, leucina, valina e isoleucina, além de ser alvo de muita putaria e enganação pela indústria de suplementos. E não falo só de adulteração não, mas também dos preços abusivos praticados e da propagação da desinformação através do uso de subdosagens.

Quando você faz aquele estúpido uso de uma ou duas cápsulas antes e uma ou duas depois do treino, tudo o que você conseguiu foi jogar seu dinheiro fora, pois vai enriquecer uns malandros aí e não terá melhora física alguma praticamente.

Bom, mas deixemos isto de lado para voltar ao tema do artigo, ok?

Muitas pessoas têm o péssimo hábito de suplementar BCAA antes do AEJ por medinho de perder massa muscular durante o exercício... Tal prática é totalmente contraproducente, além de muito bitolada.
Por medinho, vou tomar o meu suquinho hihi...

E isso vale não só para o BCAA, mas também para quem manda uma glutamina ou aqueles pós e xaropes nada a ver sob a alcunha de Amino 690000000, também com o mesmo objetivo de “proteção” da frágil massa magra.

Veremos mais a frente o porquê dessa minha crítica.


GLICONEOGÊNESE

“A gliconeogênese é um processo de síntese de glicose a partir de precursores não glicídicos”, segundo Stryer.

Tranquilo, não? Essa foi fácil. Acho que a explicação já bastou e podemos encerrar por aqui. Agradeço a todos pel...

Não, né pessoal?! O que o grande autor quis dizer é que a gliconeogênese consiste num processo onde produzimos glicose a partir de substâncias que não sejam carboidratos (que também podem ser chamados de glicídios).

Os principais precursores que existem são o lactato, o glicerol e os aminoácidos.

O lactato é produzido pelo nosso músculo esquelético, como produto da fermentação da glicose, naqueles processos onde a demanda energética é alta e o espaço de tempo, curto. Um exemplo disso é a nossa maior paixão: a musculação.

Por outro lado, algumas atividades, como caminhada, utilizam predominantemente como substrato energético a gordura, oxidando-a.

Por conta de uma enzima, o lactato produzido é metabolizado a piruvato, molécula esta que serve de pontapé inicial para a gliconeogênese (neste nosso caso).

Em relação ao glicerol, que inclusive temos uma série dedicada apenas a ele (clique AQUI), este é um precursor da glicose, além de ser componente dos triacilglicerois: forma como estocamos gordura dentro dos nossos adipócitos (células armazenadoras de lipídios. Clique AQUI para ler mais).

Quando a gordura é quebrada para produção de energia, ela libera cadeias de ácidos graxos e glicerol. Os primeiros, infelizmente, não podem ser transformados em glicose no reino animal. Sendo assim, eles são metabolizados de outra maneira.

Porém, em relação ao glicerol, este sim é capaz de participar da gliconeogênese, entrando já numa etapa começada do processo, e não no início, como piruvato.

Por fim, temos os aminoácidos, ou AAs, oriundos das proteínas da dieta ou de alguma suplementação que a pessoa faça.

A contribuição deles é bastante ampla, já que existem bastantes tipos, sendo que uma parte dos AAs pode gerar ácidos graxos e outra, intermediários que podem ser convertidos em glicose (alguns entram nos dois processos).

Eles poderão participar da geração de glicose diretamente pela alimentação ou, em situações de jejum, através da nossa musculatura esquelética.



A gliconeogênese ocorre principalmente no fígado, mas também, em menor escala, em outros locais, como nos rins. Ela vai ajudar a manter o nível de glicose no sangue para que o cérebro e o músculo possam extrair açúcar suficiente para suas demandas metabólicas.

No caso do cérebro, a glicose é sua fonte primária de energia, gastando por volta de 120g todos os dias. Dependendo do caso, né, já que existem pessoas que praticamente não usam o cérebro e não devem gastar nem 0,5g por dia, mas enfim...

No que diz respeito ao músculo, voltando ao que falei anteriormente na parte do lactato, existe uma cooperação entre ele e o fígado, num processo chamado “ciclo de Cori”:

O lactato gerado pelo músculo, em contração intensa, é convertido em glicose pelo fígado, que a produz através da gliconeogênese, exportando-a pela circulação (sangue) até o músculo, novamente, que poderá utilizá-la como fonte de energia. Perceberam o porquê de “ciclo” de Cori? Já que a relação é cíclica?


JUNTANDO TUDO

Agora vem a melhor parte: costurar as ideias.

Como deu para perceber nos textos, o aeróbio em jejum é uma prática que visa a maximizar a queima de gordura, feito de uma maneira que preserve a massa magra e gaste quase que apenas lipídios como combustível.

Caso você se alimente, quebrando a situação de jejum, não haverá porque usar sua reserva energética, dado que substratos estarão sendo disponibilizados de uma fonte exterior (forcei a barra mas acho que deu para pegar a ideia).

Quem consome algum aminoácido (normalmente mandam os famosos BCAAs) tendo por base o ingênuo pensamento ou conselho de que “não está consumindo carboidrato/glicose, logo, não estará fornecendo energia para o AEJ, quebrando o jejum”, na verdade, está fazendo uma baita merda.

Como pudemos ver, os AAs podem ser utilizados como fonte de energia, por exemplo, produzindo glicose. Sendo assim, seu consumo pré-AEJ é totalmente contraproducente, fazendo você perder os resultados que queria, tempo e muito dinheiro.

Além disso, o medinho de perder massa magra é bastante desnecessário, já que apenas uma pequena porcentagem de músculo é gasta nesse tipo de exercício, muito menor do que se comparada àquela dos aeróbios tradicionais...
Cola neles, Lee Priest, cola neles!
Sendo assim, para encerrarmos, pare com essas suplementações infelizes e, acima de tudo, pare de seguir dicas dessa turma “fitness de modinha”, que nunca abriu um livro teórico na vida e quer ficar dando conselhos de “musculação” na internet, especialmente através de execuções de exercícios ridículas, que gosto de chamar de musculação circense...

REFERÊNCIAS
- Stryer, Bioquímica, 5ª edição, Guanabara Koogan. Glicólise e Gliconeogênese. 



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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