Fala
rapaziada!
Mais uma
vez, três temas e muitas coisas em comum. Já pararam para pensar se seria
saudável um diabético praticar exercícios? Afinal, existe aquele lance de
hipoglicemia e o cara passaria mais mal ainda, não? Será?
Bom, é o que
veremos neste artigo.
1. INSULINA
A insulina é
um hormônio peptídico (não sabe o que é isso? Clique AQUI) produzido pelas células B das ilhotas pancreáticas,
sendo considerada um dos mais anabólicos que existe.
Seu
mecanismo de secreção é muito complexo, porém, como visto num artigo aqui do
site sobre feedback (clique AQUI),
grandes concentração de glicose são o estímulo mais importante para sua
liberação.
Existem
algum potencializadores da secreção de insulina, a saber, os aminoácidos e os
ácidos graxos, com destaque para os saturados. Talvez agora você entenda o
porquê de falarem que o “pico de insulina” é maior quando se toma um shake de
carbo (malto ou dextrose) com aminos, feito BCAAs, por exemplo.
A insulina
liberada vai diretamente para o fígado, onde 50% dela é destruída por enzimas.
Dos outros 50% restantes, 40% é eliminado pelos rins na primeira ultrafiltragem
realizada, cabendo a estes 10% sobreviventes, que têm uma meia-vida de apenas 5
minutos, exercerem a função deste hormônio, a saber:
- Inibir a
produção e liberação de glicose no fígado, para estimular a síntese e
armazenamento de glicogênio hepático;
- Aumentar a
captação de aminoácidos pelo músculo e de glicose para produzir glicogênio
muscular;
- Aumento do
armazenamento de triglicerídeos no tecido adiposo e inibição da lipólise.
Agora você
entende o porquê de este hormônio ser tão anabólico! Ao contrário do que alguns
imaginam, anabolismo não significa apenas construir massa muscular, conforme
expliquei num artigo aqui do site (clique AQUI), mas sim promover um metabolismo
construtor, que agrega e armazena material em nosso corpo.
Como puderam
perceber, a insulina é totalmente anabólica, pois não só evita degradação, como
também estimula captação e armazenamento de diversas substâncias.
Bom, mas
afinal, como a insulina estimula esses processos descritos?
Algumas
células do nosso organismo não têm a capacidade de captar glicose sozinhas,
como é o caso das do músculo esquelético, músculo cardíaco e tecido adiposo.
Para tanto, elas irão depender da insulina, que exerce a função de um
facilitador de entrada.
Essas
células têm um receptor de membrana (clique AQUI para entender melhor
sobre o tema) que pode se ligar à insulina. Feita a conexão, ativa-se uma série
de reações dentro da célula, até que, por fim, transloca-se o GLUT-4 para a
membrana da célula, permitindo a entrada da glicose de acordo com um gradiente
de concentração.
Em outras
palavras, depois que o hormônio chega, é como se ele apertasse um botãozinho
dentro da célula para obrigar um tubo específico, chamado de GLUT-4, a migrar
para a membrana da célula e servir de passagem para a glicose. Sem ele, o
carboidrato ficará de fora, sem ter como entrar.
Nem todas as
células do organismo dependem da insulina para obter glicose, como é o caso das
do cérebro, que possuem grande permeabilidade a esta fonte energética, e do
hepatócito, células do fígado, que recebem glicose através do GLUT-2, que
independe do hormônio em questão para funcionar.
2. DIABETES MELLITUS
Olha, para
encurtar a história, já que a quantidade de informações sobre este tema me
levaria a escrever diversos e diversos artigos, a diabetes é uma doença que
envolve disfunções na glicemia, ou seja, na quantidade de glicose no sangue.
Existem dois
tipos:
-
Diabetes tipo I:
doença de caráter geralmente hereditário, onde o indivíduo possui uma maior
suscetibilidade das células beta a vírus ou ao desenvolvimento de uma doença
autoimune, que destrua as próprias células pancreáticas que produzem insulina.
Também é possível que a pessoa tenha uma simples tendência à degeneração dessas
células.
-
Diabetes tipo II:
conhecida também como resistência à insulina ou doença metabólica, esta diz
respeito a uma menor sensibilidade das células beta do pâncreas à glicemia
aumentada ou a uma perda de receptores para insulina no corpo todo. De qualquer
forma, o perfil aqui é que a insulina fique alta e a glicemia também.
O foco deste
artigo está principalmente no Tipo-I, onde o indivíduo não tem insulina, logo,
muitos tecidos do corpo, como músculos, não receberão glicose sanguínea.
Alguns dos
problemas de saúde que estas pessoas possuem são:
- Perda de
glicose na urina: é tanta glicose disponível que o rim simplesmente não
consegue reabsorver tudo. Por uma diferença de concentração, esse açúcar no
sangue arrasta água consigo, logo, a pessoa urina MUITO, trazendo problemas
como desidratação. Por conta disso, portadores da doença têm muita sede.
- É dito que
diabéticos passam fome em meio à fartura. Mesmo com a glicemia elevada, muitos
tecidos do corpo não conseguem obter energia, por conta da falta de insulina, a
facilitadora do transporte. Sendo assim, a fome é constante e o catabolismo
proteico e lipídico também.
- Um
problema do grande metabolismo anormal de ácidos graxos nos diabéticos é o
aumento da deposição de placas de gordura nas artérias, trazendo todos os
riscos cardiovasculares da arteriosclerose.
- A grande
quantidade de glicose no sangue torna-o mais viscoso e volumoso, pois atrai
maior quantidade de água para si, elevando a pressão do sujeito e causando mais
impacto no sistema circulatório.
- Perda de
peso e falta de energia são outros sintomas comuns.
3. EXERCÍCIO FÍSICO E DIABETES
Agora, depois
de tantos problemas, vamos falar sobre algo bom.
Quando os
portadores da doença se exercitam (não só eles, mas todas as pessoas), por
mecanismos ainda desconhecidos, aquele transportador chamado GLUT-4 é
translocado na membrana celular, permitindo que a glicose entre na célula. E o
mais interessante disso tudo é que o fenômeno ocorre sem a presença da
insulina!
Sendo assim,
no decorrer da prática esportiva, o tecido muscular esquelético consegue captar
carboidratos do sangue para utilizá-los como substrato energético da atividade.
Porém, esta deve ser feita em intensidade leve à moderada, caso contrário,
ocorre a liberação de hormônio hiperglicemiantes, havendo uma descompensação,
fato que invalidaria a eficácia desta manobra.
Outro ponto
positivo, mas neste caso específico àqueles que sofrem de diabetes tipo II, é
que a prática esportiva aumenta a sensibilidade à insulina, fato que poderia
auxiliá-los na recuperação de uma qualidade de vida.
Caso você
conheça um diabético, recomende a leitura deste texto e o estimule a procurar
profissionais capacitados para auxiliá-lo na prática esportiva. Que fique claro
que não estou me referindo aos médicos! Eles não estão aptos a prescrever
exercícios físicos pois não estudam e não manjam do assunto!
O que você
ou seu amigo precisarão é de um educador físico, devidamente qualificado, e que
tenha algum conhecimento em lidar com diabéticos, o que, infelizmente, é uma
minoria quase inexistente. Isto é uma vergonha para a área, já que todos
deveriam saber muito bem sobre o assunto, haja vista que é matéria de
graduação...
REFERÊNCIAS:
- Guyton,
Arthur C. Tratado de fisiologia médica. 9ª edição. Guanabara Koogan.
- Aires,
Margarida de Mello. Fisiologia. 3ª edição. Guanabara Koogan.
- Minhas
anotações do curso de endocrinologia da minha graduação em educação física na
USP, ministrado pela Professora Doutora Maria Teresa Nunes.
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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