A DIETA DO PALEOLÍTICO - THE PALEO DIET – PARTE 4

Fala rapaziada!

No último artigo discutimos sobre quais os melhores alimentos a serem utilizados num programa de Paleo Diet. Hoje, finalmente, começarei a tecer críticas sobre esse estilo de vida, rompendo alguns mitos e mostrando que a coisa não é tão mágica e especial como pregam. 


8. PALEO DIET: CRÍTICAS

Bom, finalmente poderia expor melhor minha opinião. Como disse, até agora, eu tentei expor o tema evitando ao máximo comentar minhas ideias e até abraçando a causa dos caras!

Muita gente deve ter me aplaudido ou me xingado, porém, fizeram-no por equívoco...

Recapitulando, os principais objetivos da Paleo são:

1- Consumir todos os nutrientes que precisamos,
2- Desde que recepcionados pelo nosso código genético,
3- Para garantir a máxima eficiência do nosso metabolismo,
4- Evitando alimentos prejudiciais à saúde, como grãos, laticínios, carbos de alto índice glicêmico e industrializados.

Tudo o que foi visto até agora é muito interessante, tem embasamento científico em alguns casos e dá resultados, mas sou obrigado a discordar de vários pontos, logo, gostaria de apontar algumas falhas e/ou ingenuidades da dieta.


A. PALEO DIET, UM PAU PARA TODA OBRA?

Para começar, eu pergunto: será a Paleo Diet um “pau para toda obra”? Um coringa? Um modelo de alimentação universal que serve para todos os povos?

Em minha opinião, não. Povos diferentes passaram por “evoluções” (seleções naturais) diferentes, a ponto de existirem várias “Paleo Diets” iniciais, que definiram os rumos posteriormente tomados por algumas civilizações. Para corroborar a teoria, observe os gráficos abaixo:

Se fizéssemos um intercâmbio entre um sujeito da população Inuíte e um da !Kung, será que ambos conseguiriam "aproveitar" todos os alimentos típicos do programa com 100% de eficiência (usando essa ideia de "estar adaptado ao alimento" que eles pregam), já que todo mundo come como os ancestrais de dez mil anos atrás?

A teoria deles acaba furando aqui, pois, como podem observar, as porcentagens de macronutrientes na dieta são muito diferentes entre esses povos. Para reforçar a ideia, vamos conversar um pouquinho sobre esses dois deles.

Inuítes, também chamados de esquimós, vivem/viviam no norte do Canadá e Groenlândia, basicamente. O tipo de vegetação da região é a tundra, formada normalmente por musgos e líquens, que aparecem somente no verão e servem de pasto para alguns animais. Não é um povo que come alimentos de origem vegetal com frequência, ficando restrito às carnes de foca e de baleia, por exemplo.

Alguém mais antenado pode achar estranha a ausência de algumas vitaminas na dieta deles, sendo o maior destaque a C, normalmente encontrada em hortaliças e frutas cítricas frescas.

De fato, não é fácil obtê-la nas carnes, sendo assim, a única maneira de consegui-la seria abater um animal, abri-lo e consumir suas vísceras cruas, ainda pulsando e cheias de sangue. Talvez para você isso seja asqueroso ou nada convidativo, mas lembre-se que em matéria de sobrevivência, vale tudo (respeitando a Lei de Gil, é claro).

Os !Kung, por sua vez, vivem num ambiente nada convidativo chamado Deserto de Kalahari, também conhecido por Deserto da Namíbia, localizado no sudoeste do continente africano. 
(Obs: essa exclamação no nome é referente a um estalido que se faz com a língua, no idioma deles.)

Reparem, no gráfico apresentado, como é curioso o elevado consumo de sementes e de vegetais, além, é claro, da presença de leite e cereais na dieta. Todos esses alimentos citados são normalmente obtidos pelas mulheres, que fazem o papel de coletoras, enquanto os homens, de caçadores.

Sendo assim, não podemos generalizar a PD como a dieta universal, que serve para toda a humanidade. Percebam que o ambiente desértico-quente fornece fontes de alimentação diferentes das do desértico-gelado, e nem por isso podemos dizer que são povos mal adaptados aos alimentos consumidos, afinal, por quantas centenas de anos esses caras não vivem nesses locais, reproduzindo-se e perpetuando a espécie?!


É certo falar que os !Kung não deveriam comer cereais? Só porque a maioria dos outros povos também não os consome? "Ae, !Kung, cuidado com o glúten e lactose, para aí!"????? Ou que a dieta dos inuítes está errada, já que não consomem sementes ou berries?! Pelo amor...

Sendo assim, temos o exemplo de duas civilizações que viviam da caça e da coleta e que desenvolveram desfechos diferentes originados pela verdadeira e milenar Paleo Diet, cada uma a sua maneira.


B. MUTAÇÕES GÊNICAS E CONSUMO DE NOVOS ALIMENTOS.

A Paleo critica alimentos como grãos e laticínios uma vez que acredita que em 10 mil anos o homem não se tornou apto a metabolizá-los. Ok, mas mandaram mal novamente... Vejamos dois exemplos para rebater a afirmação:

Nem todas as pessoas conseguem digerir a lactose, o açúcar do leite, e têm algum grau de intolerância a este alimento. No entanto, há menos de 9 mil anos atrás, durante o período Neolítico, apareceu na Europa um gene mutante capaz de codificar a enzima lactase mesmo no indivíduo adulto, permitindo a digestão e melhor aproveitamento nutricional do leite.

Embora seja relativamente comum encontrarmos pessoas com algum tipo de problema em relação à lactose, especialmente nas de descendência asiática, uma parte muito significativa da população mundial é capaz de beber leite numa boa, contrariando o que é pregado pela Paleo Diet.

Por curiosidade, mesmo um indivíduo intolerante a lactose, pode fazer consumo diário de leite, desde que não ultrapasse a ingestão de 2 copos no período.



Infelizmente, mesmo discordando da teoria da PD e sendo capaz de digerir lactose, evito laticínios pois, a menos que você more numa fazenda ou compre leite pasteurizado na padaria diariamente, você estará bebendo uma água suja que passou por um processo chamado UHT.

Recordo-me de que há professores na faculdade de veterinária da USP que defendem que o UHT estraga totalmente o cálcio, as proteínas e a vitamina D do leite, tornando-o impróprio para o consumo.

Além disso, um conhecido meu que trabalhou na análise laboratorial de leite de caixinha me falou que sempre são encontrados resquícios de antibióticos no leite, variando apenas a quantidade, conforme a marca. É comum também aparecer o formol, que é cancerígeno, em níveis quase imperceptíveis com o intuito de driblar a fiscalização.

Se você gosta de tomar leite, escolha o pasteurizado pois a coisa é menos "complicada" por ali, fechado?

Outro exemplo interessante que vale a pena destacar, mais por curiosidade, é o do arroz. Não sei dizer quando, mas em Okinawa, no Japão, em algum momento da história surgiu um gene capaz de decodificar uma enzima própria para metabolizar a casca do arroz, desmentindo, mais uma vez, a teoria de que o homem não é apto a consumir grãos.

Temos por fim o caso do trigo e da sua famigerada proteína, o glúten. Não é raro encontrarmos pessoas com algum tipo de reação negativa em relação a este alimento.

Quem apresenta a forma mais acentuada da doença celíaca, acaba desenvolvendo alergias pelo corpo ou pior: um tipo de destruição intestinal, que impede a correta absorção de nutrientes pelo intestino.

Ok, mas apenas 1% da população tem realmente a doença celíaca, enquanto 30% possui um tipo de intolerância. Se este não for o seu caso, não vejo um motivo para você abolir o pão da sua dieta...

"Ah, mas o glúten não faz engordar?!"

Isso é uma lenda bem idiota! Acontece que esse povinho das dietas da moda deve ter percebido, em algum momento, que "cortar o glúten faz emagrecer". Isso fica óbvio quando paramos para analisar o caso e percebemos que, para tirar esse nutriente, os caras cortaram cereais e massas do cardápio, como pão, macarrão, etc., implicando numa ampla restrição calórica.

Emagreceu? Sim, mas não por conta do glúten, oras, mas sim porque você está comendo menos!

Observação: se você lia “contém glúten” na embalagem de pães e sempre pensava “que porra é essa?!”, agora descobriu.


Ficamos por aqui. No próximo artigo trarei maiores informações e encerraremos a série.


ATENÇÃO: Essa série contém 5 partes. Continue a leitura acessando: 
- PARTE 1: O QUE SIGNIFICA PALEOLÍTICO?/ CONHECENDO A PALEO DIET
- PARTE 2: ANALISANDO A DIETA MAIS PROFUNDAMENTE: DISCUTINDO MACRONUTRIENTES
- PARTE 3: NÍVEIS DE INTEGRAÇÃO COM A PALEO DIET/ MELHORES ALIMENTOS NA PALEO DIET/ PIORES ALIMENTOS NA PALEO DIET/ SUPLEMENTAÇÃO
- PARTE 4: PALEO DIET: CRÍTICAS
- PARTE 5PALEO DIET: CRÍTICAS (continuação)/ PALEO DIET MODERNA: MINHA PROPOSTA/ CONSIDERAÇÕES FINAIS


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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