Fala
rapaziada!
Vamos dar
continuidade à série falando um pouco mais sobre o processo de hipertrofia,
além de discutirmos sobre os hormônios que atuam neste contexto.
DISCUTINDO SOBRE O FENÔMENO DA
HIPERTROFIA DE FORMA DESCOMPLICADA
Bom, agora
vem a parte “complicada”. Como esse texto é voltado para o público em geral
(não para profissionais da área), tentarei omitir nomes “esquisitos”, coisas
técnicas e “chatas”, para evitar que a leitura fique uma merda entediante e
você arrume outra coisa para fazer, ou seja, vamos “descomplicar”.
Quando você
está treinando e judiando do seu corpo, a musculatura começa a “quebrar”. Esta
ruptura vai soltando enzimas conhecidas por “fosfolipases”, liberando
fosfolipídios das camadas das células musculares. A parte negativa do exercício
(excêntrica) é a que faz o maior estrago neste quesito.
Este
processo, de forma resumida, acaba liberando ácido araquidônico (ou
aracdônico), um lipídio bioativo no processo de anabolismo. Ele também serve
para causar dor e inchaço na musculatura trabalhada. Posto isto, por conta de
vários tipos de enzimas, este ácido será transformado em algumas outras
substâncias, sendo as prostaglandinas uma das mais interessantes.
Um dos
vários efeitos dela é o de controlar a produção de óxido nítrico, o famoso NO2
que a galera tanto curte, que é um vasodilatador (aumenta o calibre dos vasos), fato que permite uma maior disponibilidade/circulação de nutrientes e de hormônios
anabólicos.
Além disso,
também se aumenta a produção do hormônio HGF (fator de crescimento de
hepatócitos) que ativa o trabalho das células satélites (discutidas no artigo
anterior desta série).
Repare que,
até agora, tivemos uma espécie de cascata de reações. Os nomes são os menos
importantes, já que o interessante aqui são os gatilhos. É como se tivéssemos
uma corrida com bastão: um corredor vai passando o bastão para o outro, dando,
ao que recebe o objeto, oportunidade de agir/participar. Podemos ilustrar o cenário também citando o “efeito dominó”.
Outro
aspecto interessante é que as quantidades de substâncias dependem umas das
outras. Por exemplo: quanto menos ácido aracdônico estocado, menos
prostaglandinas serão produzidas, logo, menor a eficácia do processo de
hipertrofia.
Posto isso,
todo esse processo que ocorreu até agora, em conjunto com várias substâncias as
quais eu propositalmente omiti, irá deixar o tecido muscular mais suscetível à
ação de hormônios anabólicos e dos fatores de crescimento.
Sendo assim,
sem todos estes gatilhos (treino avassalador e tudo mais), de nada adiantaria
fazer uso de anabolizantes, dado o custo X benefício singelo por conta de um start ruim: você estará lotado de hormônios, mas suas células musculares não
estarão interessadas neles, afinal, se musculação e hipertrofia fossem coisas
fáceis, qualquer trouxa por aí seria gigante...
Por exemplo,
uma das coisas que nosso corpo faz, através de treinos pesados, é aumentar a
densidade de receptores de hormônios anabólicos (insulina, IGF-1, testosterona,
MGF) nas zonas que necessitam de reparação muscular.
O
diferencial de quem faz o uso de drogas é que a quantidade de hormônios
disponíveis irá aumentar absurdamente, permitindo que se liguem aos receptores
com maior facilidade, rapidez e quantidade, dada a elevada oferta.
Pronto,
agora que o terreno está preparado, teremos uma gigantesca orgia de ligações
hormonais, reparação, construção proteica, divisão de células satélites,
criando um verdadeiro canteiro de obras na sua musculatura para deixá-la mais
hipertrofiada. Vejamos:
HORMÔNIOS
- HGF (fator de crescimento de
hepatócitos):
reside na superfície de células danificadas. Quando traumas ocorrem, migra até
as células satélites e as ativa. É regulado via liberação de óxido nítrico.
- Androgênicos: aumentam a síntese proteica no
tecido muscular, estimulam a produção de IGF-1, melhorando o ciclo das células
satélites. O ácido aracdônico aumenta a densidade de receptores para os
hormônios andrógenos. Para finalizar, estas substâncias são imitadas e sintetizadas pela indústria
(em sentido bem amplo) e vendidas como medicamentos.
- IGF-1 (fator de crescimento
semelhante à insulina tipo 1): aumenta a síntese proteica e a proliferação e diferenciação
de células satélites. As prostaglandinas aumentam os receptores deste hormônio
e sua síntese.
- IGF-2: aumenta a proliferação de células
satélites.
- MGF (fator mecânico de crescimento): variante do IGF-1. Promove suporte
na proliferação de mioblastos. É produzido no fígado.
- FGF (fator de crescimento de
fibroblastos):
família composta por 9 fatores de crescimento. Acredita-se que sirvam para
aumentar a proliferação de células satélites.
- Insulina: aumenta a síntese proteica, inibe o
catabolismo proteico, transporta hormônios, aminoácidos e glicose para dentro
das células, especialmente no pós-treino, nas áreas musculares mais
danificadas.
- Citoquinas: estimulam a migração de células de
defesa (linfócitos, neutrófilos, monócitos) para as áreas musculares
danificadas para ajudar na reparação e remoção celular. Estas células também liberam substâncias de atração de células satélites.
- Prostaglandinas: aumenta a quantidade de receptores
de hormônios em locais de interesse, assim como eleva a síntese proteica.
- Estrogênio: tem uma pequena atuação, mas ajuda
a aumentar a densidade de receptores androgênicos em zonas de reparação,
estimula o eixo GH-IGF-1 e aumenta a utilização da glicose para o crescimento e
reparação de tecidos.
Ficamos por
aqui. Espero que tenham gostado desta série diferente, que tentou expor, de
forma simples, um fenômeno muito curioso e tão presente em nosso dia-a-dia: a
hipertrofia.
Esta série contém duas partes. Leia a anterior clicando AQUI.
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FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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