ENTENDENDO O FENÔMENO DA HIPERTROFIA DE FORMA DESCOMPLICADA – PARTE 2

Fala rapaziada!

Vamos dar continuidade à série falando um pouco mais sobre o processo de hipertrofia, além de discutirmos sobre os hormônios que atuam neste contexto.


DISCUTINDO SOBRE O FENÔMENO DA HIPERTROFIA DE FORMA DESCOMPLICADA

Bom, agora vem a parte “complicada”. Como esse texto é voltado para o público em geral (não para profissionais da área), tentarei omitir nomes “esquisitos”, coisas técnicas e “chatas”, para evitar que a leitura fique uma merda entediante e você arrume outra coisa para fazer, ou seja, vamos “descomplicar”.

Quando você está treinando e judiando do seu corpo, a musculatura começa a “quebrar”. Esta ruptura vai soltando enzimas conhecidas por “fosfolipases”, liberando fosfolipídios das camadas das células musculares. A parte negativa do exercício (excêntrica) é a que faz o maior estrago neste quesito.

Este processo, de forma resumida, acaba liberando ácido araquidônico (ou aracdônico), um lipídio bioativo no processo de anabolismo. Ele também serve para causar dor e inchaço na musculatura trabalhada. Posto isto, por conta de vários tipos de enzimas, este ácido será transformado em algumas outras substâncias, sendo as prostaglandinas uma das mais interessantes. 

Um dos vários efeitos dela é o de controlar a produção de óxido nítrico, o famoso NO2 que a galera tanto curte, que é um vasodilatador (aumenta o calibre dos vasos), fato que permite uma maior disponibilidade/circulação de nutrientes e de hormônios anabólicos.

Além disso, também se aumenta a produção do hormônio HGF (fator de crescimento de hepatócitos) que ativa o trabalho das células satélites (discutidas no artigo anterior desta série).

Repare que, até agora, tivemos uma espécie de cascata de reações. Os nomes são os menos importantes, já que o interessante aqui são os gatilhos. É como se tivéssemos uma corrida com bastão: um corredor vai passando o bastão para o outro, dando, ao que recebe o objeto, oportunidade de agir/participar. Podemos ilustrar o cenário também citando o “efeito dominó”.

Outro aspecto interessante é que as quantidades de substâncias dependem umas das outras. Por exemplo: quanto menos ácido aracdônico estocado, menos prostaglandinas serão produzidas, logo, menor a eficácia do processo de hipertrofia.

Posto isso, todo esse processo que ocorreu até agora, em conjunto com várias substâncias as quais eu propositalmente omiti, irá deixar o tecido muscular mais suscetível à ação de hormônios anabólicos e dos fatores de crescimento.

Sendo assim, sem todos estes gatilhos (treino avassalador e tudo mais), de nada adiantaria fazer uso de anabolizantes, dado o custo X benefício singelo por conta de um start ruim: você estará lotado de hormônios, mas suas células musculares não estarão interessadas neles, afinal, se musculação e hipertrofia fossem coisas fáceis, qualquer trouxa por aí seria gigante...

Por exemplo, uma das coisas que nosso corpo faz, através de treinos pesados, é aumentar a densidade de receptores de hormônios anabólicos (insulina, IGF-1, testosterona, MGF) nas zonas que necessitam de reparação muscular.



O diferencial de quem faz o uso de drogas é que a quantidade de hormônios disponíveis irá aumentar absurdamente, permitindo que se liguem aos receptores com maior facilidade, rapidez e quantidade, dada a elevada oferta.

Pronto, agora que o terreno está preparado, teremos uma gigantesca orgia de ligações hormonais, reparação, construção proteica, divisão de células satélites, criando um verdadeiro canteiro de obras na sua musculatura para deixá-la mais hipertrofiada. Vejamos:


HORMÔNIOS

- HGF (fator de crescimento de hepatócitos): reside na superfície de células danificadas. Quando traumas ocorrem, migra até as células satélites e as ativa. É regulado via liberação de óxido nítrico.

- Androgênicos: aumentam a síntese proteica no tecido muscular, estimulam a produção de IGF-1, melhorando o ciclo das células satélites. O ácido aracdônico aumenta a densidade de receptores para os hormônios andrógenos. Para finalizar, estas substâncias são imitadas e sintetizadas pela indústria (em sentido bem amplo) e vendidas como medicamentos.

- IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1): aumenta a síntese proteica e a proliferação e diferenciação de células satélites. As prostaglandinas aumentam os receptores deste hormônio e sua síntese.

- IGF-2: aumenta a proliferação de células satélites.

- MGF (fator mecânico de crescimento): variante do IGF-1. Promove suporte na proliferação de mioblastos. É produzido no fígado.

- FGF (fator de crescimento de fibroblastos): família composta por 9 fatores de crescimento. Acredita-se que sirvam para aumentar a proliferação de células satélites.

- Insulina: aumenta a síntese proteica, inibe o catabolismo proteico, transporta hormônios, aminoácidos e glicose para dentro das células, especialmente no pós-treino, nas áreas musculares mais danificadas.

- Citoquinas: estimulam a migração de células de defesa (linfócitos, neutrófilos, monócitos) para as áreas musculares danificadas para ajudar na reparação e remoção celular. Estas células também liberam substâncias de atração de células satélites.

- Prostaglandinas: aumenta a quantidade de receptores de hormônios em locais de interesse, assim como eleva a síntese proteica.

- Estrogênio: tem uma pequena atuação, mas ajuda a aumentar a densidade de receptores androgênicos em zonas de reparação, estimula o eixo GH-IGF-1 e aumenta a utilização da glicose para o crescimento e reparação de tecidos.


Ficamos por aqui. Espero que tenham gostado desta série diferente, que tentou expor, de forma simples, um fenômeno muito curioso e tão presente em nosso dia-a-dia: a hipertrofia.


Esta série contém duas partes. Leia a anterior clicando AQUI.



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


Para conhecer meus serviços de consultoria online, currículo, fotos de alguns alunos e muito mais, clique AQUI ou envie email para: fernando.paiotti@gmail.com

Comentários