A DIETA DO PALEOLÍTICO - THE PALEO DIET – PARTE 5

Fala rapaziada! Último artigo da série. Aproveitem a leitura.



C. AGRICULTURA VS. FOME

Imaginem se o mundo todo seguisse a Paleo Diet: haveria comida para todos? Totalmente impossível galera, especialmente por conta da péssima distribuição de renda no planeta.

O cultivo de alimentos, através da agricultura, permitiu o crescimento de populações e o combate à fome. A Paleo critica os grãos ou, alguns autores ainda mais extremistas, as raízes tuberosas, como a batata. Mas é importante lembrar que, sem esta última e sem o trigo, a população europeia teria sido quase que dizimada nos séculos XV-XVI, pelas crises de fome, guerras e doenças (como a peste bubônica).

A título de curiosidade, a batata é um vegetal nativo da América e foi levada para a Europa, onde se adaptou facilmente, pelos primeiros europeus filhos da puta que vieram arregaçar e invadir nosso continente.

É fato que a agricultura desregulou totalmente a proporção dos macronutrientes consumidos, mas sem ela, talvez nem estivéssemos mais por aqui...


D. ALIMENTOS INTEGRAIS X REFINADOS

Os defensores da PD agridem tanto os grãos, porém, o problema que vejo não está neles em si, mas na forma como são consumidos: integrais ou refinados.

O alimento integral, além de conter mais nutrientes, como vitaminas e minerais, ainda contribui com fibras na dieta, fato que não só auxilia no controle da fome e tempo de digestão, como na formação do volume fecal, motilidade intestinal e evacuação.

Quando refinados, eles perdem nutrientes, fibras e ainda ganham uma resposta insulínica muito maior, sendo este um dos principais causadores da epidemia da resistência à insulina, digamos assim.


E. O VERDADEIRO “X” DA QUESTÃO

Qual é o verdadeiro X da questão na atual crise alimentar do século XXI: o elevado consumo de legumes e grãos ou a vida sedentária regada a carbos refinados, comidas processadas, junk food e óleos industrializados?


Temos que ver que o homem paleolítico não só comia alimentos saudáveis, como também possuía uma vida muito atlética e isto também influenciava no seu metabolismo e na prevenção de doenças. Não foi apenas a alteração na dieta que derrubou a saúde humana, mas também o diálogo que o homem tem com a vida: trabalhando 10 horas por dia, alimentando-se rápida e porcamente, sem tempo ou interesse para o lazer e para os esportes, entre eles, o melhor de todos: a musculação.

O grande problema da alimentação humana atual são as alterações que a indústria faz nos alimentos, seja criando coisas novas, seja pela adição de açúcares, sal, conservantes, aromatizantes, etc.

Isso sim que é introduzir alimentos totalmente "desconhecidos pelo código genético", haja vista que não é do dia para a noite que seu corpo, ou melhor, a espécie humana, conseguirá metabolizar 1-2kg de açúcar em algumas horas e permanecer 100% saudável cronicamente.

Vejam a merda que deu quando introduziram a gordura trans (foram querer mexer com a manteiga, que estava quietinha na dela e fizeram uma tremenda cagada). E em relação à caça às bruxas (proteínas) que fizeram depois da segunda guerra mundial: os otários conseguiram um boom de carboidratos, especialmente os de alto índice glicêmico, em quase todas as refeições do dia.
E a arregaçada no balanço de ômega-3? E a inflação nutricional dos alimentos?

Todos esses pontos/perguntas foram discutidos na série “denúncias da alimentação industrializada” (clique AQUI para ler) com que praticamente abri o meu trabalho neste site.

Acho que focar todos os problemas da nossa vida nos “alimentos proibidos” da Paleo Diet é covardia ou uma forma muito simplista de ver o mundo e nossa atual realidade. O ideal é que cada um olhe para o próprio umbigo, literalmente, e perceba o que está fazendo com seus hábitos alimentares e seu estilo de vida.

Nunca vi a aveia derrubar ninguém, assim como a cenoura mandar alguém para o hospital (a menos que o sujeito tenha enfiado-a onde não deve e se “machucou”). Mas já vi muitos procurando ajuda por conta de variados "graus" de diabetes e/ou obesidade, por não mais terem controle sobre a própria vida, por conta da infindável busca pelo açúcar e pelas gorduras.

Ampliando o leque da discussão e amarrando alguns pontos, o problema não está exatamente na agricultura, mas sim na industrialização e no sedentarismo. Sendo assim, procure consumir alimentos não transformados pelo homem, ou seja, não processados, pois sua saúde irá agradecer. 

Agora, vamos absorver o que há de bom na proposta da Paleo Diet e ir além.




9. PALEO DIET MODERNA: MINHA PROPOSTA

Caso voltemos ao capítulo 4 desta série, encontraremos os níveis de integração (um passo à passo) à PD, que são a eliminação da dieta dos seguintes alimentos:

1- açúcar refinado
2- alimentos industrializados
3- álcool
4- óleos vegetais
5- laticínios
6- glúten
7- grãos
8- legumes

Como considero a dieta dos caras radical demais e desnecessária em alguns pontos, criei uma variante mais aceitável, em minha opinião, retirando os alimentos até o nível 4. Como toda adaptação, essa acaba por matar a essência de um tema, sendo assim, tenha em mente que não há mais a Paleo Diet aqui, mas sim uma interpretação dela.

Os pontos 1 a 4 já foram debatidos no capítulo 4 e meus argumentos são os mesmos dos defensores da PD, portanto, não irei repeti-los.

O grupo 5, dos laticínios, já discuti anteriormente. Acho bastante válido o seu uso, desde que você consiga digerir lactose e que compre através de boas fontes, caso contrário, estará consumindo antibióticos, água e formol.

Em relação ao grupo 6, do glúten, acabei comentando algumas coisas também. O interessante seria não abusar, porém, se você não possui alergia ou intolerância, mantenha estes alimentos moderadamente na dieta e não seja neurótico.

Eu sou de família italiana e comemos, por tradição, alguma massa aos domingos (sem falta), normalmente o macarrão. Imagino chegar para os meus antepassados e falar: gente, precisamos mudar nossa refeição para folhas e um tipo de carne ok?! Vocês estão fazendo tudo errado e vão destruir seu intestino assim! Boa piada...

Alem disso, a aveia também possui glúten, porém, é um alimento top para caceta, que traz muitos benefícios ao organismo. Então, mais uma vez eu pergunto: vai parar de comê-la já que um cara há mais de 12 mil anos atrás não a cultivava?!

Acabei já entrando no grupo 7, dos grãos, faltando apenas o 8, dos legumes e leguminosas. Mas, cá entre nós, alguém vai querer comprar essa briga e defender que não devemos comer feijão, batatas, cenoura, amendoim, etc, etc, etc?

Acho que não, né?! Todos eles são bem-vindos em nossos pratos. Então, fim de papo.


10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma maneira bem simples de definir a Paleo Diet seria dizer que ela consiste apenas na ingestão de carnes, peixes, frutos do mar, legumes (de forma restrita), frutas, verduras, nuts e sementes.

Quem acha que é um estilo de vida difícil de seguir, deixo um famoso slogan dos adeptos: Dieta Paleo, tão fácil que até um homem das cavernas consegue seguir.

Uma das principais vantagens da Paleo é que o único “conservante” que alguns de seus alimentos podem precisar é a refrigeração. Fora isso, nada de aditivos, aromatizantes, corantes e outros produtos químicos que não sabemos se algum dia poderão nos causar algum dano.

Para os sedentários que queiram se aventurar, uma dica que dou é para começar pela Paleo Diet original e, aos poucos, ir reintroduzindo os alimentos que desejar, para observar como o seu corpo vai reagir.

O ideal é que se faça a inserção de um em um, com intervalos de pelo menos 3 semanas, já que muitos tóxicos têm efeito cumulativo. Se nada acontecer por 2-3 semanas, ok. Próximo da lista. Exemplo: se o seu corpo digere glúten e este não lhe causa nada, porque retirá-lo? Só porque o pão engorda? Coma menos, oras, e pratique exercícios.

Vá reintroduzindo os grãos e os legumes numa boa, mantendo a sua dieta livre de industrializados e com alta ingestão de carnes. Aproveite o dinheiro que você gastaria com tranqueiras para investir em alimentos orgânicos, pois estes contêm mais nutrientes e (espera-se) são livres de agrotóxicos e antibióticos.

Todavia, o maior problema que vejo aqui seria o déficit calórico e uma brusca restrição na dieta de uma hora para outra. Sendo assim, para marombeiros, a abordagem teria de ser diferente e melhor pensada. Acredito que seguir as críticas e comentários que fiz no capítulo anterior seria mais acertado.

Para finalizar, a PD é um tipo de dieta muito sedutora, que vende um rótulo muito convidativo e bastante plausível, especialmente por se utilizar de um embasamento predominantemente científico.
Porém, eu a julgo muito extremista, com uma visão parcial da realidade que nos cerca e nos cercou. 

Segui-la à risca é totalmente inviável, haja vista que o valor nutricional dos alimentos de hoje são muito diferentes dos da pré-história, por exemplo, no que diz respeito ao tipo de gordura dos alimentos, assim como suas concentrações de vitaminas.

Além disso, acho que o verdadeiro X da questão não são os alimentos em si, mas sim como as pessoas dialogam com eles e, sobretudo, a forma como vivem: se praticam esportes, hábitos de vida saudáveis ou se têm lazer, tudo isso em detrimento de rotinas estressantes, sedentárias e infelizes.


11. REFERÊNCIAS

Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre as principais abordagens da Paleo Diet, seus autores, etc., deixo uma pequena lista de referências:

Arthur De Vany, The New Evolution Diet. http://www.arthurdevany.com/
Loren Cordain, The Paleo Diet. http://thepaleodiet.com/
Robb Wolf, The Paleo Solution. http://robbwolf.com/
Dr. Kurt G. Harris http://www.paleonu.com/


ATENÇÃO: Essa série contém 5 partes. Continue a leitura acessando: 
- PARTE 1: O QUE SIGNIFICA PALEOLÍTICO?/ CONHECENDO A PALEO DIET
- PARTE 2: ANALISANDO A DIETA MAIS PROFUNDAMENTE: DISCUTINDO MACRONUTRIENTES
- PARTE 3: NÍVEIS DE INTEGRAÇÃO COM A PALEO DIET/ MELHORES ALIMENTOS NA PALEO DIET/ PIORES ALIMENTOS NA PALEO DIET/ SUPLEMENTAÇÃO
- PARTE 4: PALEO DIET: CRÍTICAS
- PARTE 5PALEO DIET: CRÍTICAS (continuação)/ PALEO DIET MODERNA: MINHA PROPOSTA/ CONSIDERAÇÕES FINAIS



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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