Fala
rapaziada! Último artigo da série. Aproveitem a leitura.
C. AGRICULTURA VS. FOME
Imaginem se
o mundo todo seguisse a Paleo Diet: haveria comida para todos? Totalmente
impossível galera, especialmente por conta da péssima distribuição de renda no
planeta.
O cultivo de
alimentos, através da agricultura, permitiu o crescimento de populações e o
combate à fome. A Paleo critica os grãos ou, alguns autores ainda mais
extremistas, as raízes tuberosas, como a batata. Mas é importante lembrar que,
sem esta última e sem o trigo, a população europeia teria sido quase que
dizimada nos séculos XV-XVI, pelas crises de fome, guerras e doenças (como a peste
bubônica).
A título de
curiosidade, a batata é um vegetal nativo da América e foi levada para a
Europa, onde se adaptou facilmente, pelos primeiros europeus filhos da puta que
vieram arregaçar e invadir nosso continente.
É fato que a
agricultura desregulou totalmente a proporção dos macronutrientes consumidos,
mas sem ela, talvez nem estivéssemos mais por aqui...
D. ALIMENTOS INTEGRAIS X REFINADOS
Os
defensores da PD agridem tanto os grãos, porém, o problema que vejo não está
neles em si, mas na forma como são consumidos: integrais ou refinados.
O alimento
integral, além de conter mais nutrientes, como vitaminas e minerais, ainda
contribui com fibras na dieta, fato que não só auxilia no controle da fome e
tempo de digestão, como na formação do volume fecal, motilidade intestinal e evacuação.
Quando
refinados, eles perdem nutrientes, fibras e ainda ganham uma resposta
insulínica muito maior, sendo este um dos principais causadores da epidemia da
resistência à insulina, digamos assim.
E. O VERDADEIRO “X” DA QUESTÃO
Qual é o
verdadeiro X da questão na atual crise alimentar do século
XXI: o elevado consumo de legumes e grãos ou a vida sedentária regada a carbos refinados,
comidas processadas, junk food e óleos industrializados?
Temos que
ver que o homem paleolítico não só comia alimentos saudáveis, como também
possuía uma vida muito atlética e isto também influenciava no seu metabolismo e
na prevenção de doenças. Não foi
apenas a alteração na dieta que derrubou a saúde humana, mas também o diálogo
que o homem tem com a vida: trabalhando 10 horas por dia, alimentando-se rápida
e porcamente, sem tempo ou interesse para o lazer e para os esportes, entre
eles, o melhor de todos: a musculação.
O grande
problema da alimentação humana atual são as alterações que a indústria faz nos
alimentos, seja criando coisas novas, seja pela adição de açúcares, sal, conservantes,
aromatizantes, etc.
Isso sim que
é introduzir alimentos totalmente "desconhecidos pelo código genético", haja vista
que não é do dia para a noite que seu corpo, ou melhor, a espécie humana,
conseguirá metabolizar 1-2kg de açúcar em algumas horas e permanecer 100% saudável cronicamente.
Vejam a
merda que deu quando introduziram a gordura trans (foram querer mexer com a
manteiga, que estava quietinha na dela e fizeram uma tremenda cagada). E em
relação à caça às bruxas (proteínas) que fizeram depois da segunda guerra
mundial: os otários conseguiram um boom de carboidratos, especialmente os de
alto índice glicêmico, em quase todas as refeições do dia.
E a
arregaçada no balanço de ômega-3? E a inflação
nutricional dos alimentos?
Todos esses
pontos/perguntas foram discutidos na série “denúncias da alimentação
industrializada” (clique AQUI
para ler) com que praticamente abri o meu trabalho neste site.
Acho que
focar todos os problemas da nossa vida nos “alimentos proibidos” da Paleo Diet
é covardia ou uma forma muito simplista de ver o mundo e nossa atual realidade.
O ideal é que cada um olhe para o próprio umbigo, literalmente, e perceba o que
está fazendo com seus hábitos alimentares e seu estilo de vida.
Nunca vi a
aveia derrubar ninguém, assim como a cenoura mandar alguém para o hospital (a
menos que o sujeito tenha enfiado-a onde não deve e se “machucou”). Mas já vi
muitos procurando ajuda por conta de variados "graus" de diabetes e/ou
obesidade, por não mais terem controle sobre a própria vida, por conta da infindável
busca pelo açúcar e pelas gorduras.
Ampliando o
leque da discussão e amarrando alguns pontos, o problema não está exatamente na
agricultura, mas sim na industrialização e no sedentarismo. Sendo assim, procure consumir
alimentos não transformados pelo homem, ou seja, não processados, pois sua saúde irá agradecer.
9. PALEO DIET MODERNA: MINHA PROPOSTA
Caso
voltemos ao capítulo 4 desta série, encontraremos os níveis de integração (um
passo à passo) à PD, que são a eliminação da dieta dos seguintes alimentos:
1- açúcar
refinado
2- alimentos
industrializados
3- álcool
4- óleos
vegetais
5-
laticínios
6- glúten
7- grãos
8- legumes
Como
considero a dieta dos caras radical demais e desnecessária em alguns pontos,
criei uma variante mais aceitável, em minha opinião, retirando os alimentos até
o nível 4. Como toda adaptação, essa acaba por matar a essência de um tema,
sendo assim, tenha em mente que não há mais a Paleo Diet aqui, mas sim uma
interpretação dela.
Os pontos 1
a 4 já foram debatidos no capítulo 4 e meus argumentos são os mesmos dos
defensores da PD, portanto, não irei repeti-los.
O grupo 5,
dos laticínios, já discuti anteriormente. Acho bastante válido o seu uso, desde
que você consiga digerir lactose e que compre através de boas fontes, caso
contrário, estará consumindo antibióticos, água e formol.
Em relação
ao grupo 6, do glúten, acabei comentando algumas coisas também. O interessante
seria não abusar, porém, se você não possui alergia ou intolerância, mantenha
estes alimentos moderadamente na dieta e não seja neurótico.
Eu sou de
família italiana e comemos, por tradição, alguma massa aos domingos (sem falta),
normalmente o macarrão. Imagino chegar para os meus antepassados e falar:
gente, precisamos mudar nossa refeição para folhas e um tipo de carne ok?!
Vocês estão fazendo tudo errado e vão destruir seu intestino assim! Boa
piada...
Alem disso,
a aveia também possui glúten, porém, é um alimento top para caceta, que traz
muitos benefícios ao organismo. Então, mais uma vez eu pergunto: vai parar de
comê-la já que um cara há mais de 12 mil anos atrás não a cultivava?!
Acabei já
entrando no grupo 7, dos grãos, faltando apenas o 8, dos legumes e leguminosas. Mas,
cá entre nós, alguém vai querer comprar essa briga e defender que não devemos
comer feijão, batatas, cenoura, amendoim, etc, etc, etc?
Acho que
não, né?! Todos eles são bem-vindos em nossos pratos. Então, fim de papo.
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma maneira
bem simples de definir a Paleo Diet seria dizer que ela consiste apenas na
ingestão de carnes, peixes, frutos do mar, legumes (de forma restrita), frutas,
verduras, nuts e sementes.
Quem acha
que é um estilo de vida difícil de seguir, deixo um famoso slogan dos adeptos: Dieta
Paleo, tão fácil que até um homem das cavernas consegue seguir.
Uma das
principais vantagens da Paleo é que o único “conservante” que alguns de seus
alimentos podem precisar é a refrigeração. Fora isso, nada de aditivos,
aromatizantes, corantes e outros produtos químicos que não sabemos se algum dia
poderão nos causar algum dano.
Para os
sedentários que queiram se aventurar, uma dica que dou é para começar pela
Paleo Diet original e, aos poucos, ir reintroduzindo os alimentos que desejar,
para observar como o seu corpo vai reagir.
O ideal é
que se faça a inserção de um em um, com intervalos de pelo menos 3 semanas, já
que muitos tóxicos têm efeito cumulativo. Se nada acontecer por 2-3 semanas,
ok. Próximo da lista. Exemplo: se o seu corpo digere glúten e este não lhe
causa nada, porque retirá-lo? Só porque o pão engorda? Coma menos, oras, e pratique
exercícios.
Vá
reintroduzindo os grãos e os legumes numa boa, mantendo a sua dieta livre de
industrializados e com alta ingestão de carnes. Aproveite o dinheiro que você
gastaria com tranqueiras para investir em alimentos orgânicos, pois estes contêm mais
nutrientes e (espera-se) são livres de agrotóxicos e antibióticos.
Todavia, o
maior problema que vejo aqui seria o déficit calórico e uma brusca restrição na
dieta de uma hora para outra. Sendo assim, para marombeiros, a abordagem teria
de ser diferente e melhor pensada. Acredito que seguir as críticas e comentários
que fiz no capítulo anterior seria mais acertado.
Para
finalizar, a PD é um tipo de dieta muito sedutora, que vende um rótulo muito
convidativo e bastante plausível, especialmente por se utilizar de um
embasamento predominantemente científico.
Porém, eu a
julgo muito extremista, com uma visão parcial da realidade que nos cerca e nos
cercou.
Segui-la à risca é totalmente inviável, haja vista que o valor
nutricional dos alimentos de hoje são muito diferentes dos da pré-história, por
exemplo, no que diz respeito ao tipo de gordura dos alimentos, assim como suas
concentrações de vitaminas.
Além disso,
acho que o verdadeiro X da questão não são os alimentos em si, mas sim como as
pessoas dialogam com eles e, sobretudo, a forma como vivem: se praticam
esportes, hábitos de vida saudáveis ou se têm lazer, tudo isso em detrimento de
rotinas estressantes, sedentárias e infelizes.
11. REFERÊNCIAS
Para quem
quiser conhecer um pouco mais sobre as principais abordagens da Paleo Diet,
seus autores, etc., deixo uma pequena lista de referências:
Arthur De Vany, The New Evolution Diet. http://www.arthurdevany.com/
Loren Cordain, The Paleo Diet. http://thepaleodiet.com/
Robb Wolf, The Paleo Solution. http://robbwolf.com/
Dr. Kurt G. Harris http://www.paleonu.com/
ATENÇÃO:
Essa série contém 5 partes. Continue a leitura acessando:
- PARTE 2: ANALISANDO A DIETA MAIS PROFUNDAMENTE: DISCUTINDO MACRONUTRIENTES
- PARTE 3: NÍVEIS DE INTEGRAÇÃO COM A PALEO DIET/ MELHORES ALIMENTOS NA PALEO DIET/ PIORES ALIMENTOS NA PALEO DIET/ SUPLEMENTAÇÃO
- PARTE 4: PALEO DIET: CRÍTICAS
- PARTE 5: PALEO DIET: CRÍTICAS (continuação)/ PALEO DIET MODERNA: MINHA PROPOSTA/ CONSIDERAÇÕES FINAIS
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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