Fala
rapaziada!
O
objetivo deste artigo, de parte única, será o de discutir o processo de
digestão e absorção de lipídios (gordura) pelo nosso organismo, podendo, quem
sabe, a partir daí planejar melhor nossa dieta.
1. BOCA
Como
todos que já frequentaram o colégio, mesmo que porcamente, sabem que a digestão
começa na boca.
O
processo de mastigação acaba por triturar os alimentos, facilitando a
deglutição e aumentando a superfície de contato com as enzimas, substâncias estas que mais nos interessam neste tópico.
A amilase salivar acredito
que todos já conhecem, que seria a tal que digere amido, correspondendo a 3-5%
do total da quebra de polissacarídeos no organismo.
Porém,
o que não é comentado na escola, e não sei por que caralhos, é a lipase
lingual: uma enzima que digere lipídios, sendo secretada também na saliva, mas que alguns autores defendem ser a lipase gástrica, que veremos abaixo.
2. ESTÔMAGO
Na
saliva, essa lipase citada mal tem tempo de agir, o mesmo valendo para a
amilase. Sendo assim, elas irão exercer seus papéis, pra valer, no estômago.
O
alimento chega, primeiramente, no chamando “fundo do estômago”, onde ainda não
sofre ação do ácido suco gástrico, ou seja, onde o pH não é baixo.
Ali
a brincadeira vai acontecer por um tempo e as enzimas vão agindo, até que o
alimento vá para o corpo do estômago, recebendo, então, o suco gástrico: HCl +
pepsinogênio (digestão de proteínas) + lipase gástrica.
A
título de curiosidade, o pH de suco é por volta de 2, sendo que, durante os
períodos interdigestivos, o corpo do estômago fica por volta de 4.
Apesar
de esta etapa estomacal não ser o forte da digestão de gorduras, por conta da
elevada acidez, que atrapalha o funcionamento ótimo dessas enzimas, se somarmos
as duas lipases comentadas até o momento temos algo como 10-20% da digestão de
lipídios. Em bebês este número é muito maior, pois a digestão pancreática de
gorduras deles é um bocado inferior a nossa.
3. DUODENO
O
duodeno é a primeira porção do intestino delgado, que vem logo depois do
estômago.
O ácido
produto digestivo recebido é logo alcalinizado pelo bicarbonato de sódio e
bile, permitindo que o pH fique básico, proporcionando o melhor ambiente
possível para a ação das enzimas que atuarão na região.
O
primeiro ponto importante na digestão de lipídios aqui é a bile. Produzida pelo
fígado, ela exerce efeito detergente, emulsificando as gorduras. Além disso, ela se une à fração ômega do lipídio, expondo a carboxila, que é a parte hidrofílica.
Em
outras palavras, seria como se ela desagrupasse aqueles montinhos de gordura,
já que elas ficam todas juntas, uma vez que não se misturam com a água.
Isso
vai favorecer a fragmentação das gotas de gordura em gotículas, aumentando a
superfície de contato para as lipases pancreáticas.
Para
que estas possam agir, elas precisam de uma espécie de âncora, para melhor
quebrar as moléculas de gordura, papel este que será exercido pelas colipases.
As principais enzimas aqui que posso citar são
a lipase pancreática, que quebra triacilgliceróis; a
colesterol-ester-hidrolase, para colesterol esterificado; fosfolipase A2, para
fosfolipídios.
5. ABSORÇÃO
Terminada
a etapa de digestão, que seria a transformação de triacilgliceróis (TAG) em
ácidos graxos + glicerol, poderemos, finalmente, absorver as gorduras.
O
processo é feito por células do intestino delgado chamadas de enterócitos.
Uma
vez dentro da célula, os ácidos graxos são reesterificados e novamente
transformados em TAG. Para tanto, o enterócito absorve glicose e faz glicerol a partir dela.
Feito isto, são envolvidos por uma lipoproteína chamada
quilomícron (QM) e lançados na circulação linfática, entrando no sangue na altura da veia subclávia.
Isto ocorre para diminuir a quantidade de lipídio circulante, de modo que se reduzam as chances de formação de placa de ateroma, coisa que poderia entupir suas veias.
6. QUILOMÍCRON
(QM)
Talvez você nunca tenha ouvido falar desse cara, mas ele é
de total importância para sua vida.
Existem dois grandes circuitos de transporte de lipídios na
circulação: os da via exógena, ou seja, as gorduras obtidas pela alimentação, e
aí entram os QM, e os da via endógena, da banha produzida pelo próprio
organismo, coisa que fica com o VLDL.
Observe a foto abaixo para facilitar a explicação:
Acompanhando os números, temos que você se alimenta, faz
digestão das gorduras e o intestino absorve os ácidos graxos e, a partir deles,
sintetiza triglicerídeos, que é a forma através da qual armazenamos gordura no
tecido adiposo.
Se o intestino simplesmente soltasse essa gordura no sangue,
não seria possível transportá-la pois ela não se solubiliza, ou seja, é a mesma
ideia de se pingar óleo num copo com água: ele fica lá boiando sem se
misturar...
No plasma o QM vai receber as apolipoproteínas que faltam
para deixá-lo completo: APO C-II e APO E, a partir do HDL. Para maiores
informações, leia a série “TUDO SOBRE O COLESTEROL”.
Pronto, agora que o QM está finalizado, poderá transportar
gordura de forma adequada em nosso corpo.
Essa apolipoproteína chamada APO C-II sinaliza para uma
enzima no vaso sanguíneo, a lipase lipoproteica, degradar a gordura que o QM
está trazendo, para liberar ácidos graxos e glicerol na circulação, de modo que
eles possam ser absorvidos pelas células. Isso ocorre uma vez que o
triglicerídeo é muito grande para entrar diretamente.
Os ácidos graxos liberados são carregados por albuminas,
transportados até o interstício (“espaço” entre as células), onde são
carregados por novas albuminas até entrar na célula.
7. DESTINO
A
célula que vai receber o ácido graxo pode ser uma fibra muscular, por exemplo,
ou uma célula de armazenamento, que seria o caso do adipócito.
O
ácido graxo entra por transportadores de membrana, é reesterificado e forma, novamente,
a molécula de triacilglicerol, junto ao glicerol.
Desse
modo, temos uma maneira de estocar grandes quantidades de energia num pequeno
espaço, até que haja necessidade de gastá-la.
8. COMENTÁRIOS FINAIS
Quis
escrever um artigo bem simples e enxuto, sem grandes quantidades de
informações.
Não
aprofundei/mencionei nada sobre lipoproteínas, insulina, adipócitos, por que
armazenamos gordura?, como gastá-la, etc, pois isto já foi feito em outras séries aqui do site.
O
bate-papo foi pura e simplesmente sobre engolir a gordura, digeri-la e
absorvê-la.
Caso
queira maiores informações, recomendo as leituras (basta clicar nos links):
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
Para conhecer meus serviços de consultoria online, currículo, fotos de alguns alunos e muito mais, clique AQUI ou envie email para: fernando.paiotti@gmail.com
Comentários
Postar um comentário