Fala rapaziada!
No último artigo discutimos sobre o VLDL e LDL, inclusive
descrevendo o quadro de aterosclerose, que deu ao LDL a infeliz alcunha de
“colesterol ruim”. Hoje, por outro lado, será a vez de discutir sobre o herói,
o tal do HDL/colesterol bom...
3. DISCUTINDO
SOBRE O HDL
O HDL é produzido no fígado e intestino, na forma HDL
nascente. Para que a síntese ocorra, é necessária a presença a apolipoproteína
APO A-I, sendo que esta depende dos níveis de estrógenos no organismo para ser
metabolizada: quanto maiores os níveis desses hormônios femininos,
especialmente estrogênio, maiores as concentrações de APO A-I e de HDL.
Por isso que as chances de as mulheres desenvolverem
aterosclerose antes da menopausa são menores que a dos homens e a incidência da
doença aumenta encerrados definitivamente os ciclos menstruais.
Além disso, agora você também já sabe porque utilizar
antiestrogênicos num ciclo de esteroides pode piorar ainda mais o seu perfil
lipídico, elevando LDL e diminuindo HDL.
Voltando à síntese da lipoproteína em questão, o HDL é
secretado na circulação, numa forma discoide chamada HDL3. Ele irá passar por
um processo de maturação, incorporando cada vez mais colesterol, até atingir a
forma redonda, chamada de HDL2.
É justamente por isso que ele é conhecido como “colesterol
bom” por aí, pelo fato de retirar colesterol dos tecidos extra-hepáticos,
incorporando-o em si mesmo, e levando-o até o fígado, onde será metabolizado,
podendo, inclusive, ser eliminado do corpo pelas fezes, via sais biliares, que
dão a cor marrom característica ao seu cocô.
Esta etapa final de remoção de colesterol do organismo,
levando-o ao fígado é conhecida na bioquímica por "clearence de colesterol",
sendo o processo também chamado de transporte reverso do colesterol, por
retirá-lo dos tecidos.
Conforme já mencionado, o HDL também poderá trocar
triglicerídeos com a VLDL na circulação, dando seu colesterol em troca.
4. TREINAMENTO
FÍSICO E COLESTEROL
O treinamento físico, sobretudo aeróbio, é capaz de aumentar
a produção de APO A-I, de colesterol nascente e de HDL2, aumentando o processo
de transporte reverso de colesterol.
Além disso, ainda aumenta a defesa antioxidante do
organismo, protegendo-nos contra espécies reativas do oxigênio e radicais
livres, diminuindo os danos oxidantes.
Complementando, o treinamento físico ainda aumenta os gastos
dos triglicerídeos como fonte de energia e diminui o seu armazenamento,
reduzindo, assim, as concentrações de VLDL e, por tabela, de LDL.
Se a dieta for bem trabalhada e um programa de atividade
física desenvolvido conjuntamente, um indivíduo com dislipidemia (alteração no
metabolismo de lipoproteínas) poderá melhorar radicalmente sua qualidade de
vida, restaurando seu perfil lipídico a níveis aceitáveis.
Porém, dependendo do grau dessa dislipidemia, de repente, já
com formação da placa de ateroma, a intervenção fica mais delicada pois a
maioria dos danos são irreversíveis, sendo que a única coisa que resta é
controlar a doença para que ela não avance, coisa perfeitamente possível com a
prática regular de exercícios físicos (na intensidade adequada) e uma dieta restritiva especial.
A título de curiosidade, antes de encerrar o capítulo, e já
que estamos falando de HDL e dieta, segundo estudo do ano de 2014 da Faculdade
de Saúde Pública da USP, um consumo de 3-4g de ômega-3 por dia é o ideal para
aumentar os níveis de HDL no organismo.
5. COLESTEROL: O
BOM, O RUIM E O FEIO - CONCLUSÃO
LDL = O COLESTEROL RUIM
VLDL = O COLESTEROL FEIO (essa expressão não é usada. Eu que
inventei só para melhor casar com o título do filme que inspirou esta série)
A brincadeira até que foi legal e rendeu um título bem
bacana à série, mas agora eu volto à pergunta, já que os leitores têm subsídios
até demais para respondê-la:
Essa classificação é adequada?
Agora ficou fácil entender meu ponto de vista e ver como ela
é simplista, ingênua e idiota.
Primeiro que HDL e LDL não são “colesterol”, mas sim
lipoproteínas. Elas transportam colesterol, o que é muito diferente. Afirmar
isto seria o mesmo que dizer que um caminhão que transporta madeira é madeira
ou de madeira...
Além disso, o LDL é indispensável ao nosso metabolismo de
hormônios esteroides, haja vista que esta classe de substâncias depende da
matéria-prima colesterol para ser metabolizada. Sem colesterol, nada de
testosterona, seus putos!
O mesmo vale para a digestão e absorção de gorduras da
dieta, etapas que são facilitadas por conta da ação de sais biliares, que, por
sua vez, são produzidos a partir do colesterol.
Sendo assim, falar que essa lipoproteína é ruim é um tanto
quanto equivocado, a meu ver, ou no mínimo parcial demais.
Se ela causa danos à saúde, o faz em excesso e por conta de
um estilo de vida porco e sedentário da maioria da população, e não porque se
trata de algo nocivo que nosso corpo produz.
Para mim, fazer essa análise/comparação forçada, seria o
mesmo que enfiar a cara de alguém num balde com água, afogando o sujeito, e
depois sair por aí dizendo que água faz mal, água é ruim, mata... Faz sentido?
Ficamos por aqui. Espero que tenham gostado da série,
aprendido várias coisas novas, derrubado mitos e tabus e que parem de propagar
essa historinha de bosta de colesterol bom e ruim, ou mesmo de fazer analogias
como HDL de herói e LDL de ladrão...
Até a próxima!
BIBLIOGRAFIA:
- Aulas de
metabolismo de lipídios e lipoproteínas do meu curso de graduação em educação
física na Universidade de São Paulo;
- artigo:
HDL: o yin-yang da doença cardiovascular. Camila Canteiro Leança e
colaboradores.
- artigo:
Metabolismo lipídico durante o exercício. Edward F. Coyle.
- artigo: The effect of physical exercise on reverse
cholesterol transport. David Alexander Leaf.
- livro: Biochemistry primer for exercise science.
Michael E. Houston. 3ªedição.
ATENÇÃO:
Essa série contém 3 partes. Continue a leitura acessando:
- PARTE 1: Conhecendo as lipoproteínas: quilomícron
- PARTE 2: Conhecendo as lipoproteínas: VLDL, LDL
- PARTE 3: Discutindo sobre o HDL/ Treinamento físico e colesterol/ Colesterol: o bom, o ruim e o feio, conclusão.
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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