POSSO TREINAR DOENTE? MUSCULAÇÃO E SISTEMA IMUNOLÓGICO – PARTE 3

Fala rapaziada!

No primeiro artigo da coletânea discutimos sobre as células do sistema imunológico; no segundo, sobre os principais efeitos que os treinos aeróbios e de musculação podem causar nelas.

Hoje, chegou a vez de responder a pergunta proposta pelo título da série:

IV – AFINAL, DEVO OU NÃO TREINAR DOENTE?

Essa pergunta é um pouco difícil de responder, pois a considero bastante subjetiva em alguns aspectos.

Caso você pratique esportes aeróbios com uma intensidade considerável, algumas vezes por semana, e sinta que está ficando gripado, ou já esteja, minha recomendação é para que fique de repouso, de modo que seu corpo consiga se recuperar melhor e mais facilmente.

Como vimos, a prática de atividades aeróbias, especialmente intensas, tem efeito depressor do sistema imune, sendo assim, o treino iria prejudicar a sua recuperação, aumentando o tempo de duração do quadro.

Agora, se você é um marombeiro, saiba que a intensidade do treino irá influenciar bastante na piora ou não do seu quadro. Além disso, tenha em mente que aquele mal estar que sentimos quando adoecemos é, na maior parte das vezes, proposital: é o seu corpo pedindo por repouso, para que possa canalizar suas forças no combate à doença e na sua recuperação.

Na hipótese de você ignorar estes sinais, saiba que poderá estar estendendo seu período de recuperação.

Porém... e aqui vem um grande porém, é comum que o treino ajude um bocado na melhora dos sintomas, afinal, quem nunca pegou aquele baita resfriado, ficou todo entupido e foi treinar mesmo assim? Em poucos minutos de treino, nem parece mais que você está doente!

Nesse ponto, acho até positivo ir puxar um ferro, fora que liberamos beta-endorfinas e sentimos aquele bem estar por estar treinando, além, é claro, de fortalecermos o psicológico, afinal, a grande maioria dos marombas é bastante teimosa e já acha que vai catabolizar sem parar por faltar um único dia...

Só deixo um último comentário aqui, referente a recomendações do American College of Sports Medicine: não praticar atividade física caso tenha febre, dor de cabeça, perda de memória, doenças relacionadas a calor, frio e altitude e doenças instáveis, como diabetes não tratada, por exemplo.



V- IDÉIAS CENTRAIS E DESFECHO

O tipo, a intensidade e a duração do exercício físico são variantes que irão modular o tipo de resposta imunológica que nossas células irão mostrar (Vieira,2007). A intensidade moderada nos exercícios aeróbios melhora a resposta imune (Yan et al,2001), já os exercícios de alta intensidade podem causar leucopenia, abrindo uma janela para infecções oportunistas (Nieman,1997; Nieman et al, 2004; Lakier, 2003).

Quanto às respostas na musculação, os resultados são ainda controversos, principalmente por conta da diversidade de protocolos utilizados nos estudos (forma de avaliação, perfil de grupo controle, método de treino, etc.).

Analisando a contagem de células imunes, a leucocitose é o resultado mais comumente encontrado no treinamento com pesos (Miles et al, 1998; Simonson et al, 2004; Foschini & Prestes, 2007), e se mostra mais acentuada quando utilizamos tempos mais curtos de intervalos (Mayhew et al, 2005), fato que talvez tenha relação com a quantidade de lactato produzida pela musculatura naquela sessão de treino.

No entanto, por conta da diversidade de trabalhos mencionada acima, alguns estudos verificaram que a musculação causa a diminuição de certas células do sistema imune, principalmente quando o exercício é feito de uma maneira intensa e prolongada. Felizmente, estes estudos são minoria!

De uma forma geral, observou-se que, ao longo da vasta revisão bibliográfica exposta nesta série, os neutrófilos, monócitos e as células NK são os que mais sofrem aumento na concentração corporal após o treino do marombeiro.

Já outras células do sistema imune, no caso, os linfócitos T e B, apresentam também um aumento, porém, em menor expressão se comparados ao do grupo anterior.

Por fim, os eosinófilos, ao contrário das outras células, sofrem uma queda em sua produção, fato interessante para se considerar e se estudar.

Ficamos por aqui. Até a próxima série!


(Esta série contém 3 partes. Continue a leitura acessando: parte 1, parte 2 e parte 3).

Referências
 - Immune Responses to Resistance Exercise, de Daniel J. Freidenreich e Jeff S. Volek
- Hiscock N, Pedersen BK. Exercise-induced immunodepression plasma glutamine is not the link. J Appl Physiol 2002;93:813-22.         
 - Bush JA, Dohl K, Mastro AM, et al. Exercise and recovery responses of lymphokines to heavy resistance exercise. J Strength Cond Res 2000;14:344-9.         
- Simonson SR. The Immune response to resistance exercise. J Strength Cond Res 2001;15:378-84.        
-  McDowell SL, Weir JP, Eckerson JM, Wagner LL, Housh TJ, Johson GO. A preliminary investigation of the effect of weight training on salivary immunoglobulin A. Res Quart 1993;64:348-51.         
-  Calabrese LH, Kleiner SM, Barna BP, et al. The effects of anabolic steroids and strength training on the human immune response. Med Sci Sports Exerc 1989; 21:386-92.        
- Educação Física em revista v.6 N°2,2012. Artigo: Respostas imunes agudas a dois métodos de treinamento de força (Uirá S.Farias,Valter T.de Almeida et al.)
-J Appl Physiol (1985). 1999 Jun;86(6):1905-13.
-Int J Sports Med. 1995 Jul;16(5):322-8.
-Med Sci Sports Exerc. 1993 Oct;25(10):1126-34.
-J Strength Cond Res. 2005 Feb;19(1):16-22.
-Int J Sports Med. 1996 Nov;17(8):597-603.
-Int J Sports Med. 1995 Feb;16(2):117-21.

FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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