Fala rapaziada!
Quem nunca ouviu falar da máxima:
“Musculação deixa baixinho! Só pode começar a fazer depois dos 14-18!”?
Bom, mas afinal, é verdade ou
mito que atividade física ou, mais especificamente, o treinamento de força
prejudicam o crescimento?
É algo relativamente comum vermos
pais proibindo que seus filhos pratiquem musculação antes dos 16 pois têm medo
que isto afete o crescimento deles. Em alguns casos, os próprios
estabelecimentos proíbem frequentadores menores de 18 anos, fato que, julgo eu,
é muito mais grave que o dos pais que vetam a atividade, haja vista que se
espera que donos/instrutores de academia saibam que tal prática não é nociva,
uma vez que têm (teoricamente) conhecimento técnico-científico na área...
Nesses casos, o que a maioria das
pessoas vai recomendar? “Coloque seu filho para fazer vôlei/basquete, para
ajudar no crescimento! E muito cuidado com ginástica olímpica, pois também deixa
baixinho!”.
Popularmente, as pessoas associam
o perfil clássico de um indivíduo que pratica determinado esporte com o perfil
que elas ficarão caso também o façam.
Como é comum vermos grandes
levantadores de peso, incluindo strongmen e powerlifters com baixa estatura,
assim como ginastas pequenos e jogadores de basquete altos, abraçou-se a ideia
de que essas atividades tornarão o jovem praticante com a característica da
modalidade.
Porém, de maneira geral, não se
discute que esses atletas (ou praticantes destas atividades) são assim
simplesmente por conta de uma “seleção natural” do próprio esporte, que
valoriza as estruturas corporais mais aptas, as melhores genéticas e
biomecânicas específicas, proporcionando-lhes os melhores resultados e
destaques.
Agora, deixando de lado a discussão
referente a outras práticas físicas, vamos nos ater ao cenário do treinamento
de força:
Tal atividade traz uma infinidade
de benefícios e, se corretamente executada, nenhum malefício aos jovens e
crianças que a praticarem.
Segundo American Orthopaedic
Society for Sports Medicine e a American Academy for Pediatric (1), o
treinamento de força:
· - aumenta força muscular e endurance muscular
local;
· - diminui incidência de lesões na prática
esportiva e atividades recreacionais;
· - melhora a performance nos esportes e atividades
recreacionais;
· - aumenta massa óssea;
· - aumenta o tempo de fadiga e, consequentemente,
exaustão e lesões.
Em relação ao famoso problema de
crescimento, temos o interessante trabalho de Damsgaard et al., 2000 (2), que
avaliou 184 crianças e adolescentes, entre 9 e 13 anos, praticantes de
atividades físicas diversas. A equipe elencou como fatores mais importantes no
crescimento total final do indivíduo: aspectos genéticos, nutricionais, nível
maturacional e estatura anterior à prática esportiva.
Ao final da investigação, não se
observou diferença ou correlação alguma entre o esporte praticado, quantidade
de horas despendidas nele e estatura, corroborando a ideia de que praticar
esportes não influencia no crescimento humano.
Voltando-nos, mais uma vez,
especificamente ao treinamento de força, temos trabalhos como Robert Malina,
2006 (3), e Bradney et. Al, 1998 (4), clareando o cenário de que treino de
força não interfere no crescimento antes da fase adulta.
Segundo Santos et al., 1991 (5),
até os 10 anos as crianças do sexo masculino e feminino não apresentam
diferenças quanto a ganho de força e massa no treino. Após este período, os
resultados ficam cada vez mais discrepantes, atingindo seu pico aos 16 anos.
Por conta de baixa ou ausente
produção de testosterona em crianças e pré-adolescentes, o benefício de
hipertrofia é muito pequeno com o desenvolvimento destas atividades, porém,
aumentos em força são normalmente conquistados, podendo desenvolver uma base
interessante para outros esportes, como vôlei e basquete, auxiliando o jovem a
desenvolver suas habilidades em outras modalidades (FAIGENBAUM, 1993; KRAEMER
et al. 1989; BLIMKIE, 1989, 1993 e SALE, 1989).
FUKUNGA, 1992(6), mostrou que o
trabalho resistido aumentou secção transversa muscular e trouxe incremento
ósseo, se comparado ao grupo controle. Isso se mostra uma abordagem
interessante para aproveitar períodos de estirão de crescimento, auxiliando no
aumento de massa óssea, especialmente no período mais crítico de aquisição de
conteúdo mineral, que se dá entre 14 e 15 anos.
É importante que se tome cuidado
para que o treino não tenha um volume e intensidade muito grandes, caso
contrário, tornar-se-á nocivo. Sugere-se que o máximo de treinamento semanal
seja algo em torno de 15 a 18 horas (Georgopoulos et al.(7)).
Efeitos deletérios do esporte na
questão do desenvolvimento só foram observadas em atletas de elite, submetidos
a treinamento exaustivo, com restrição alimentar, trazendo alterações hormonais
e de citocinas inflamatórias. (Alves e
Lima, 2008(8)).
Má técnica de execução também é
algo comum, podendo trazer danos ao aparelho locomotor, especialmente à região
lombar, haja vista que adolescentes, durante o estirão de crescimento, possuem
tendência a desenvolver hiperlordose lombar (FLECK & FIGUEIRA JUNIOR, 1997(1)).
CONCLUSÃO
Como pudemos perceber, a prática
do treinamento de força, antes da fase adulta, não traz nenhum malefício para o
indivíduo, inclusive no que tange ao famoso crescimento.
Na verdade, o que ocorre é o contrário,
haja vista que pode proporcionar ganhos em força, prevenir lesões e aumentar a
quantidade de massa óssea e o desempenho em outros esportes.
É importante que se tenha em
mente que tal cenário só é vivenciado caso o praticante treine sob a supervisão
de um profissional realmente capacitado (não serve qualquer Zé ruela que só
sabe 3x10 e que, infelizmente, corresponde à boa parte dos “profissionais” do
mercado), que saiba respeitar as limitações da criança/jovem, observando
corretos volume e intensidade, planejando satisfatoriamente o descanso e
corrigindo erros posturais.
BIBLIOGRAFIA
1- Riscos e benefícios do treinamento de
força em crianças: novas tendências. Steven Fleck e Aylton José Figueira Jr.
Revista brasileira de atividade física e saúde. V.2. N.1. 1997
2- Damsgaard R, Bencke J, Matthiesen G, Petersen JH,
Müller J. Is prepubertal growth adversely affected by sport? Med Sci Sports
Exerc 2000;32:1698-703.
3- Weight Training in Youth-Growth, Maturation, and Safety: An
Evidence-Based Review. Malina, Robert M PhD,1998.
4- Moderate Exercise During Growth in
Prepubertal Boys: Changes in Bone Mass, Size, Volumetric Density, and Bone
Strength: A Controlled Prospective Study.
M. Bradney1, G. Pearce1, G. Naughton2,C. Sullivan2, S. Bass1,3, T. Beck4, J. Carlson2 andE. Seeman M.D.1,* Article
first published online: 1 DEC 1998
5- SANTOS, Y. C. et al. Porcentagem de
maturação, velocidade de crescimento de variáveis antropométricas e
neuromotoras de duas regiões distintas. Revista Brasileira de Ciência e
Movimento, v.5, n.02, p.52-60, 1991.
6- FUKUNGA,T. et al. The effects of resistance training on muscle area and
strength in prepubescent age. Annals of Physiological Anthropology, v.ll, p.357-364,
1992.
7- Georgopoulos N, Markou K, Theodoropoulou A,
Paraskevopoulou P, Varaki L, Kazantzi Z, et al. Growth and pubertal development
in elite female rhythmic gymnasts. J Clin Endocrinol Metab 1999;84:4525-30.
8-
Impacto da atividade física e esportes
sobre o crescimento e puberdade de crianças e adolescentes. Linear growth and puberty in children and adolescents:
effects of physical activity and sports. Crésio Alves, Renata Villas Boas Lima.
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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