Fala rapaziada!
Mais uma vez aqui reunidos para
falar sobre queima de gordura!
O assunto da série será a
cafeína! Tema este que eu já deveria ter abordado há mais de dois anos atrás,
mas sabe como é, né, caro leitor... Batia sempre aquela preguiça... Aparecia
algo mais interessante para escrever, mas enfim, criei vergonha na cara e cá
estamos! Aproveitem!
1.
INTRODUÇÃO: O QUE É A CAFEÍNA?
A cafeína é um alcaloide
farmacologicamente ativo do grupo das xantinas, sendo seu nome químico,
1,37,-trimetilxantina.
Desde que o mundo é mundo, acredito que já havia algum puto que fazia infusão de alguma planta rica em cafeína e mandava para dentro, com o intuito de ficar mais “ligeiro”.
E a história se repete até os
dias de hoje, sendo a droga mais consumida do mundo, na forma de chás, café, pó
de guaraná, refrigerantes, chocolates, energéticos, etc. Observe a tabela mais abaixo para ver algumas concentrações.
Além disso, é o mais popular
termogênico utilizado por quem quer emagrecer, seja através de fontes naturais,
como as citadas anteriormente (refri e chocolate não valem, fanfarrões!), seja
através da cafeína sintética, na fórmula de cápsulas, coisa que acho muito mais
prática.
Depois de consumida, a droga é
praticamente toda absorvida pelo intestino em até 45 minutos, tendo um
aproveitamento de 99-100%, ou seja, praticamente não ocorrem perdas.
Ela se espalha rapidamente pelo
corpo, tendo facilidade em atravessar várias barreiras por conta de seu caráter
hidrofóbico. O pico de concentração no sangue pode variar de acordo com a fonte
utilizada e a individualidade biológica, porém, se dá por volta de 30-60
minutos. Para completar, a meia-vida da cafeína gira em torno de 2,5 a 4,5
horas no corpo humano (Fredholm et al., 1999).
2.
MECANISMOS DE AÇÃO
Sinceramente, acho que este
capítulo é o filé mignon da série, já que através dele é que tudo fará sentido.
Se você está cansado de ler aquelas mesmices de sempre, como: “Cafeína te deixa
ligado! Por que?! Porque libera adrenalina! E por que ajuda a emagrecer? Porque
libera adrenalina!”, chegou o momento de ver algo diferente! Vou dividir o capítulo em 3
partes:
A. RECEPTOR DE ADENOSINA
A cafeína é uma nata antagonista da adenosina,
conseguindo ligar-se especificamente ao receptor dela nas células do corpo,
porém, sem causar efeito algum. Seria como se você colocasse aquelas porrinhas
na tomada pra criança não mexer e tomar choque: o protetor não está fazendo ou
gastando nada ali, apenas bloqueando o acesso.
Bom, mas para que serve isso,
afinal?
Os receptores de adenosina,
quando ativados, induzem reações como diminuir a frequência cardíaca, a
pressão arterial, a queima de gordura, o estado de alerta, as conexões
nervosas, a atenção e a excitação cerebral, aumentando estado de sonolência.
Em outras palavras, o receptor
ativado irá trazer mudanças que te deixam num estado de atividade reduzida e,
uma vez bloqueado pela cafeína, o resultado será exatamente o contrário,
mantendo-lhe “ativamente ativo”, com perdão pela expressão.
Existem quatro tipos de
receptores de adenosina, A1, A2a, A2b e A3, sendo o preferido da droga o A1,
porém, ela segue aquele ditado de pegador, “quem come de tudo não passa fome”,
então, acaba pegando geral. Observe a imagem abaixo:
Para finalizar, saiba que o uso crônico da cafeína promove uma upregulation de 20% nos
receptores de adenosina, ou seja, aumenta a quantidade deles.
B. INIBIÇÃO DA FOSFODIESTERASE
Descobri esse mecanismo numa
saudosa aula de bioquímica da atividade motora, tempos atrás, e nunca mais
esqueci.
Tentando explicar de forma
simples, quando um hormônio se liga a um receptor na membrana da célula, ele
desencadeia uma cascata de reações no interior dela, com a ajuda do que se
conhece por segundo mensageiro.
Um segundo mensageiro muito comum
e famoso nas reações é o cAMP ou “AMP cíclico”. Acontece que ele pode ser
“quebrado” (hidrolisado) pela enzima fosfodiesterase no interior da célula e
ficará impedido de realizar seu trabalho, que seria o de ativar outras
moléculas (fosforilando-as).
Para que você entenda o drama, o
cAMP pode ativar, de forma resumida, a proteína quinase A e esta, por sua vez,
poderá ativar uma enzima que quebra gordura dentro da sua célula (HSL – lipase
hormônio sensível), de modo que você aumente o gasto de banha.
Bom, mas é aí que entra em cena a
cafeína: ela inibe a ação da fosfodiesterase, impedindo a quebra do cAMP e
permitindo que ele exerça seu papel, de modo que, para encurtar a história,
você gaste mais energia. Observe a imagem abaixo:
O mesmo vale para o glicogênio
muscular: o cAMP também irá estimular a quebra dele.
C. AUMENTO DE CATECOLAMINAS
A cafeína aumenta a concentração
de catecolaminas, entre elas, a famosa adrenalina, originando a famosa história
do “queima gordura”.
Esse hormônio tem lugar certo
para se ligar na célula e é onde está marcado “adrenaline”, na imagem abaixo, que se
trata de um receptor beta de um adipócito (célula que armazena gordura).
Essa ligação irá desencadear uma
série de reações, fosforilando enzimas e as ativando, numa reação em cascata.
Nessa foto o que vemos é o
receptor beta ligado ao substrato e ativando a proteína G, que ativa a
adenilato ciclase, que fosforila o AMP cíclico, que fosforila a proteína quinase
A, que fosforila a HSL, conhecida como lipase hormônio sensível.
A Lipase hormônio sensível é uma enzima que,
quando ativada, degrada (digere) lipídios do citoplasma. Observem na foto onde
temos “TAG”: ele significa um triacilglicerol, ou seja, uma molécula que
fazemos a base de ácidos graxos e glicerol para armazenar gordura.
A HSL quebra as ligações da
estrutura do TAG, liberando seus componentes para a circulação, para serem utilizados
como fonte de energia: o ácido graxo é oxidado na mitocôndria e o glicerol
passa por um processo de gliconeogênese, no fígado, produzindo glicose.
D. AUMENTO DA RAPIDEZ DO CICLO DE CORI
Você já está cansado de saber que
a musculação é uma atividade anaeróbia, sem consumo de oxigênio para oxidar os
substratos energéticos, e que, por conta disso, fermentamos a glicose até ácido
lático para realizar as repetições, certo?
Esse lactato produzido pode ser
reciclado pelo fígado, virando glicose novamente, num processo conhecido por
Ciclo de Cori.
Pois bem, é dito que a cafeína
consegue acelerar o processo e a renovação do lactato a glicose. (infelizmente,
eu perdi a fonte dessa informação...)
E. LIBERAÇÃO DE CÁLCIO
Nem ia comentar sobre isso, mas
fica aqui por curiosidade, antes de encerrar o capítulo: não sei se o leitor
sabe, mas a contração muscular é dependente de íons cálcio.
Digamos que a cafeína ajuda a
liberar mais cálcio estocado no retículo sarcoplasmático, aumentando a
disponibilidade dele, melhorando a contração muscular (Tarnopolsky & Cupido, 1985).
Ficamos por aqui. No próximo artigo
continuaremos a série falando sobre doses, protocolos e muito mais. Até lá!
ATENÇÃO: Essa série contém 5 partes. Continue a leitura acessando:
- PARTE 2: FORMAS DE ADMINISTRAÇÃO, DOSES E PRINCIPAIS PROTOCOLOS/ PRINCIPAIS EFEITOS DA CAFEÍNA
- PARTE 3: PRINCIPAIS EFEITOS DA CAFEÍNA (continuação)
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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