Fala rapaziada!
No último artigo focamos nossa
discussão sobre distúrbios nutricionais na bulimia e na anorexia. Hoje, o
assunto da vez será a vigorexia e a obesidade. Boa leitura!
4. VIGOREXIA
Para fechar a tríade, temos a
vigorexia, que seria um transtorno dismórfico muscular, caracterizado por uma
insatisfação constante com o corpo, afetando principalmente homens e levando-os
a uma prática exaustiva de atividade física e consumo de ergogênicos diversos.
Normalmente, são indivíduos que
praticam musculação e têm distorção da própria imagem, enxergando-se menores do
que realmente são no espelho, além, é claro, de valorizarem absurdamente os
próprios defeitos, potencializando-os.
Tudo isto acaba por proporcionar
intenso sofrimento psíquico generalizado sobre o corpo, lembrando, nesses
aspectos todos, algumas características da bulimia e da anorexia, só que ao
contrário, haja vista que aqui a pessoa se vê magra e pequena, sem força e sem
vigor, querendo ser grande, hipertrofiado e forte.
É comum que invistam pesadamente
em treinos exaustivos e longos, diariamente, sentindo-se um lixo no dia de
descanso. Além disso, ainda manifestam comportamentos alimentares compulsivos
seja pela neura de comer a cada x horas, seja pelo singular volume alimentar,
com quantidades exorbitantes de alimentos e, especialmente, de proteínas.
Praticamente todos fazem uso de infinitos
suplementos alimentares, sendo os clientes preferidos das lojas, e, em muitos
casos, de esteroides anabolizantes, com ciclos cada vez mais perigosos e
prejudiciais à saúde, com misturas insanas de drogas, além de doses bastante
elevadas, mesmo para os padrões de fisiculturismo.
Algumas características que
acompanham o quadro são a presença do overtraining e de diversas lesões,
causadas, normalmente, por treinamentos insanos e mal planejados, mesmo porque,
este é o grupo que mais se orgulha da máxima “No pain, no gain”, confundindo
ter garra com ter inteligência, haja vista que é totalmente imbecil treinar com
lesões e agravá-las, pois o rendimento irá cair e a recuperação ficará ainda
mais delicada, isto se o dano não virar permanente...
Complementando, são comuns os
relatos de ansiedade excessiva, irritabilidade, insegurança, cansaço e fadiga
constantes, depressão, imunidade baixa, perda de apetite, falta de motivação e
a famigerada insônia. Isso sem mencionar todos os colaterais que podem aparecer
devido ao uso de esteroides e que os leitores estão cansados de saber...
A meu ver, de tudo que mostrei nesta
série, a vigorexia talvez seja o distúrbio mais delicado e explico o motivo:
ela é discutida há pouco tempo e existem escassos trabalhos a seu respeito,
especialmente em relação aos outros transtornos. Além disso, há uma linha
muito, mas muito tênue que separa um marombeiro(a) com vigorexia de alguém que simplesmente
treina por motivos variados, como intenção de competir, gosto/paixão pessoal,
vontade de melhorar o corpo, superação pessoal, fazer sucesso sexual, melhora
de qualidade de vida, problemas de saúde, etc.
Boa parte das pessoas assume comportamentos neuróticos em relação à musculação, que vão ficando cada vez
mais compulsivos, tornando-se uma verdadeira obsessão na cabeça do indivíduo,
distorcendo toda a realidade que o cerca. Com o tempo, ele simplesmente
passa a viver em função de treinar, comer e descansar, deixando de aproveitar
diversas outras facetas da vida, sobrevivendo de forma doentia.
Muitos que estão lendo devem ter
se encaixado em algum ponto até aqui, ou mesmo discordado e me xingado bastante
(especialmente isso), porém, uma coisa que falo para vocês é que eu nunca fui
um marombeiro da modinha que está na brincadeira há pouco tempo, só para tirar
onda nas redes sociais.
Pelo contrário, além de eu odiar
essa turminha, sobretudo seus jargões e manias imbecis, já estou há bem mais de uma década no esporte e digo,
por experiência própria, que sofri de vigorexia por muitos e muitos anos, sem nem
mesmo saber, haja vista que era algo até então desconhecido e não estudado/discutido.
Para completar, diversos amigos meus entraram nesse mesmo barco e também se
foderam... Alguns, até hoje.
Só com muita luta e ajuda de
familiares e da vida é que consegui cair na real e mudar minha cabeça e
comportamento, tendo hoje uma visão mais realista e “adequada” do esporte. O
pior de tudo, como já disse, é que são coisas muito sutis e difíceis de serem
percebidas, especialmente pelo fato de a turma da vigorexia ter
atitudes que podem ser facilmente taxadas como saudáveis.
Por muita sorte, durante esses
anos de transtorno, eu não estudava educação física, nem trabalhava na área, caso
contrário, poderia ter afundado inocentes comigo. Digo isto pois muitos
instrutores e treinadores têm vigorexia e não sabem e acabam fazendo uma lavagem
cerebral na cabeça dos alunos, tornando-os neuróticos e, possivelmente, ótimos
candidatos a terem o distúrbio também...
Para finalizar, que fique claro
que de forma alguma estou criticando paixões e dedicações pelo esporte. A
musculação é uma das minhas áreas de trabalho, vivo, em partes, dela, treino
muita gente e sou muito feliz e realizado.
Apenas gostaria de convidar o
leitor a refletir um pouco sobre seu diálogo com a academia, haja vista que o meu já
foi doentio tempos atrás e eu não percebia. Quem sabe você pode se perceber
muito bem e este texto serviu apenas para orientar seus amigos. Por outro lado,
pode ser que ele tenha desvendado algo que já lhe incomodava ou que você
desconfiava que tinha: aí seria o momento de repensar suas atitudes.
Quando você perceber que o maior
desafio é manter-se no esporte e superar a si mesmo, pois a vida sempre vai
dificultar, entenderá que pegar 1kg a mais do que aquele cara da sua gym, ou
ter 1cm a mais de coxa que sua amiga, não significa grandes coisas para a vida
prática, pois um dia, inevitavelmente, tudo isto acabará, tendo sido mais sábio
aquele que aproveitou mais de tudo.
5. OBESIDADE
Para finalizar, temos o maior dos problemas deste catastrófico cenário, a obesidade e o sobrepeso, que já acometem
uma parte muito significativa da população mundial, como, por exemplo, 1/3 dos
EUA e pouco menos que isso no Brasil.
Quando se manifesta na infância,
o distúrbio aumenta consideravelmente as chances de obesidade na fase adulta,
diminuindo a expectativa de vida, haja vista que incrementa a probabilidade de doenças
coronarianas, resistência à insulina, pressão arterial elevada, dislipidemia,
etc.
Uma das principais causas do
problema é o grande consumo de alimentos industrializados ricos em carboidratos
simples e gorduras, porém, o ponto mais grave do cenário é o sedentarismo e a
inatividade física, sendo hábitos sociais cada vez mais comuns em nossa
sociedade.
Este tema já foi mais do que
discutido aqui em meu site e na mídia, então, acredito que não temos muito mais
que ficar falando, alertando e ameaçando pois todos já sabem o que fazer e o
que evitar para sanar o problema.
6. ENCERRAMENTO
Tanto a anorexia, quanto a
bulimia e vigorexia são frutos da chamada “ditadura da beleza”, criada pela
manutenção de padrões estéticos, muitas vezes, inalcançáveis pela maioria
esmagadora da população.
Por conta das mídias sociais, as
pessoas acabam incorporando hábitos e pensamentos distorcidos, perseguindo
ilusões e prejudicando a saúde. Sendo assim, todos estes problemas são mais de
cunho psicológico do que qualquer outra coisa.
A obesidade, por sua vez, pode
ser oriunda de transtornos fisiológicos e metabólicos também, além de
problemas psicoafetivos ou mesmo escolhas pessoais, logo, necessita
melhor investigação.
Sendo assim, na tentativa de
intervir e solucionar qualquer um desses transtornos, precisamos da ajuda de uma
equipe multidisciplinar, que envolva a presença de nutricionistas, psicólogos,
profissionais de educação física e, em alguns casos, mesmo de médicos.
O mais importante de tudo é que o
treinador, instrutor e personal trainer nunca alimentem estes padrões
compulsivos e obsessivos em seus alunos, haja vista que estarão ajudando a
agravar um comportamento negativo e nada saudável nele, que poderá, inclusive, levá-lo à morte em casos mais extremos.
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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