O QUE É TREINAMENTO DE OCLUSÃO VASCULAR/ MÉTODO KAATSU? – PARTE 1

Fala rapaziada!

Decidi escrever alguns artigos que irão abordar métodos e meios de treinamento, haja vista que a grande maioria do público que frequenta academias adora uma modinha e sai por aí reproduzindo qualquer merda que vê nas redes sociais, sem nem saber a real finalidade da “coisa” que estão imitando, mesmo porque, os divulgadores normalmente também não sabem porra nenhuma e só querem chamar atenção...

A discussão da vez será o treinamento de oclusão vascular. Boa leitura!


1. O QUE É ESTE MÉTODO DE TREINAMENTO?

O treinamento com oclusão vascular, cujo termo mais correto seria “com restrição do fluxo sanguíneo”, é também conhecido por “Método Kaatsu” e foi desenvolvido nos anos 60.

Reza a lenda que ele foi descoberto quando seu idealizador, Yoshiaki Sato, que é um praticante budista, estava fazendo uma longuíssima sessão de meditação sentado sobre as pernas e, quando abriu os olhos, reparou que suas panturrilhas estavam gigantes e inchadas, como se tivessem sido treinadas intensamente, efeito este que perdurou por todo o dia.

Como ele também era fisiculturista, resolver simular algum tipo de oclusão durante o treino, na ideia de mimetizar os efeitos obtidos na meditação, somando-os ao pump do treinamento: nasceu, assim, o Kaatsu.

Com o passar do tempo, ele percebeu que esse método aumentou seus ganhos de massa magra, sendo assim, começou a desenvolver diferentes tipos de garrotes e a testá-los em variadas pressões.

Nessa tentativa e erro, certa vez, ele foi hospitalizado por ter desmaiado durante o exercício, haja vista que utilizou um torniquete que aplicava uma pressão de 700mmHg (milímetros de mercúrio).

Seu método começou a ficar famoso nos anos 70 e ele passou a dar palestras e cursos para fisiculturistas e interessados na área. Tempos depois, estabeleceu algumas colaborações e o Kaatsu passou a ser investigado cientificamente, nos anos 80, na tentativa de entender o fenômeno por trás de tal prática.

O treinamento com oclusão trabalha com a ideia de restrição do retorno venoso e diminuição do fluxo arterial, provocando acúmulo de sangue e de algumas substâncias nos vasos, como lactato, hormônios, íons hidrogênio e ADP, por exemplo, causando um stress metabólico.

Esses produtos acabam gerando bastante dor no local, de forma proporcional a sua concentração, que, por sua vez, dependerá da pressão utilizada no torniquete, dado que ele é quem determinará como o fluxo sanguíneo será reduzido e os metabólitos acumulados.

É importante frisar desde já que existe uma margem segura de aplicação de pressão, que fica entre 100 e 300mmHg, não devendo ser ultrapassada, haja vista o exemplo do próprio criador do método que teve de ser hospitalizado.

Além disso, e aqui vem um ponto onde a galera erra absurdamente, a carga nos exercícios não deve ser superior a 30% de 1RM! Isso mesmo que você leu: é leve para caralho! (Não sabe o que é 1RM? Clique AQUI).

O artigo onde mais me baseei para escrever este texto ficou na casa dos 20% de 1RM e informou que, mais do que isto, seria estupidez, uma vez que não geraria nenhum benefício ao usuário, pelo contrário, pois causaria uma dor absurdamente insana e insuportável no treino, piorando o rendimento...

E esse é o grande erro que não entra na cabeça das pessoas: a galera acha que os resultados obtidos são proporcionais à carga usada, como num protocolo tradicional, porém, isto não se verifica prática!


2. POR QUE O MÉTODO FUNCIONA?

Em situações normais, com um pesinho de merda, de apenas 20% do seu 1RM, você recrutaria uma quantidade ínfima de fibras tipo-II, que são as principais responsáveis pelo volume muscular, pela sua hipertrofia. Em outras palavras, na baixa intensidade, quem paga o pato são as fibras tipo-I.

Só que no caso do Kaatsu a coisa é diferente. De forma simplificada, o que acontece é o seguinte: o manguito restringe o fluxo sanguíneo e gera um estado de hipóxia (falta de oxigênio) e de concentração de metabólitos, causando grande stress.
Yoshiaki Sato
Por conta destes fatores citados, as fibras tipo-I fadigam rapidamente, pois têm a ressíntese de ATP prejudicada, ou seja, não conseguem obter/renovar energia. Sendo assim, novas fibras musculares são recrutadas durante a contração, para substituir as que não conseguem mais trabalhar.

As fibras tipo-II não seriam recrutadas normalmente em baixa intensidade, porém, como a turma I está arregaçada, dando PT, acabamos solicitando inclusive as tipo-II, por conta de feedback neural, aumentando a participação de unidades motoras na brincadeira.

Além disso, acredita-se que esse acúmulo de metabólitos, anteriormente citado, e o grande stress imposto acabam por aumentar a concentração de lactato e, consequentemente, a de GH, elevando a liberação de NO (óxido nítrico), ativando mais células satélites, incrementando o volume hídrico celular, inibindo vias de degradação e estimulando as de síntese proteica.

Por conta disso, caros leitores, a utilização de apenas 20% de 1RM com o Método Kaatsu acaba por gerar resultados semelhantes aos que poderiam ser obtidos com 80% de 1RM em situações normais! Na prática, os resultados que encontramos nos artigos científicos são os seguintes:

- Takarada et al., 2000: o grupo que treinou com 80% de 1RM apresentou um ganho de AST (área muscular) de 18,4%, enquanto o do Kaatsu, que mandou 20% RM, aumentou 20,3% da AST.

- Kubo et al., 2006: 80% ganhou 7,4% de AST e o Kaatsu, 5,9%.

- Laurentino et al., 2012: 80% ganhou 6,1% de AST e o Kaatsu, 6,3%.

Esses resultados são, estatisticamente, todos semelhantes, mostrando que os ganhos com ambos os métodos são bem parecidos, conforme já mencionado.

Ok, mas para quem seria interessante realizar este método? Ele tem algum efeito colateral? Essas e outras respostas você encontrará no próximo artigo desta série, que terá apenas duas partes. Até lá!


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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