Fala rapaziada!
No último artigo, discutimos
sobre o que é o treinamento de oclusão vascular, também chamado de Kaatsu, e
vimos que ele de fato é eficaz. Hoje, será a vez de analisar quais os grupos
populacionais que realmente podem utilizá-lo, a ponto de colher benefícios.
Além disso, veremos se existem contra-indicações ou mesmo riscos nesse método.
Boa leitura!
3. PARA QUEM ESTE MÉTODO É INTERESSANTE?
Certamente, os olhos de muitas
pessoas brilharam ao ler o texto até aqui, afinal, é muito sedutora a ideia de
treinar de forma bem leve e obter, mesmo assim, bons resultados de hipertrofia.
Para deixar claro, eu ainda sou
bem mais os programas tradicionais do que o Kaatsu no que diz respeito a ganhos
em força e hipertrofia. Sendo assim, eu separaria o método, preferencialmente, como
uma arma bastante importante contra quadros clínicos onde uma intervenção usual
fica inviável. Não que você não possa utilizar com pessoas saudáveis, pois os
resultados são legais também, mas há melhores opções...
O primeiro exemplo fica com a
velhice. Todo mundo sabe que os idosos sofrem barbaramente os efeitos da
sarcopenia (perda de massa muscular), que acaba influenciando em desgaste
articular, diminuição de força, disposição e equilíbrio.
Imagine colocar um coroa desses
para treinar, com várias reps, utilizando 80% de 1RM: impossível para a maioria esmagadora, concorda? Sendo
assim, o treinamento com oclusão vem como uma ferramenta muito útil na melhora
da qualidade de vida dessa faixa etária, permitindo que eles treinem leve, mas
obtenham resultados pesados! (Curtiu o trocadilho?!?! Ok, vtnc então...).
A brincadeira também é muito útil
no caso de pacientes acamados, em recuperação pós-cirúrgica e imobilizados,
haja vista que um treino com pesos é totalmente inviável e, no caso do Kaatsu,
neste exemplo, bastaria apenas colocar o manguito na(s) área(s) afetada(s) do
sujeito, sem nem precisar contrair a musculatura, que já se conseguiria reduzir
a perda de massa magra pela atrofia por falta de estímulo.
Segundo protocolo utilizado num
trabalho, podemos fazer da seguinte maneira: 5 séries de 5 minutos de oclusão,
com 3 minutos de intervalo entre elas, repetindo o programa diariamente.
Para finalizar, e aqui entra um
assunto delicado, existem doenças degenerativas do músculo esquelético onde o
cara vai perdendo massa magra e definhando sem parar, subtraindo totalmente a
força e a capacidade de subir escadas, caminhar, etc.
Uma delas, popularmente conhecida
como miosite, é estudada por um grupo de pesquisadores da minha universidade
(Escola de Educação Física e Esporte da USP) no Hospital das Clínicas, em São
Paulo.
Pude ver os resultados que eles
obtiveram mais de uma vez (pois conheço os envolvidos), inclusive em congresso,
e posso dizer que são surpreendentes. Tem paciente que se encontra num estágio
tão debilitado, mas tão debilitado, que não consegue se levantar de uma cadeira!
Depois de semanas de intervenção,
eles estão realizando agachamentos parciais, sentando e levantando repetidas
vezes do assento. É impressionante!
E agora eu pergunto: daria para
colocar esse cara para treinar igual todo mundo na academia? Sem chance. Então
ele que se foda? Deixaremos ele definhar? Claro que não! O grupo mostrou que
diferentes intervenções com manguito foram promovendo aumento de força e
hipertrofia, com cargas ínfimas, que são as que eles conseguem suportar e que
já são suficientes para o Kaatsu.
Posto isto, acredito que o leitor
já tem uma visão muito mais completa e crítica de todo este contexto exposto e
entende as várias possibilidades de aplicação do método. Seu principal benefício, a meu
ver, é o de permitir que as pessoas consigam treinar e obter resultados
satisfatórios, que inclusive vão fazer diferença em suas vidas, utilizando um
volume e uma intensidade absurdamente mais baixos que o convencional, que seria
baseado na utilização de 80-100% de 1RM (segundo posição do American College of
Sports Medicine).
Finalizando, se um dia você encontrar
alguém com um manguito no bíceps, flexionando o braço com carga máxima e urrando
de dor, com o braço todo preto, vai saber que ali se encontra um perfeito
idiota...
4. EFEITOS COLATERAIS E CONTRA-INDICAÇÕES?
Muito bacana tudo que vimos até
agora, mas não será que faz mal para a saúde ficar restringindo o fluxo
sanguíneo assim desse jeito?
Segundo trabalho de Nakajima et
al., 2006, 13% das pessoas que utilizam o método podem apresentar hemorragia
subcutânea: um hematoma que some após um ou dois dias. Isso não vai te
atrapalhar em nada, sendo apenas um problema estético.
Alguns outros sintomas são raros
e podem aparecer, envolvendo dores, dormência, sensação de frio e coceira.
Também há a chance de ocorrer alguma complicação cardiovascular, como prejuízo
de doença isquêmica e aumento de pressão arterial.
Abaixo disponibilizo um quadro
desse trabalho mostrando algumas possibilidades e suas porcentagens, porém, não
se assustem pois os números são baixos demais e muitos dos malefícios ou são
insignificantes ou, se são perigosos, aconteceram com grupos de risco, ou seja,
pessoas que tinham alguma doença ou propensão, como foi o caso da isquemia
(obstrução, de menor grau, de vasos sanguíneos, como com uma placa de
ateroma/gordura).
A maior dúvida dos pesquisadores relaciona-se
ao fato de que essa resistência ao fluxo, especialmente durante o treino,
aumenta a resposta do sistema simpático, elevando a pressão arterial e a
frequência e o débito cardíacos. Será que cronicamente isto não levaria a
adaptações cardiovasculares negativas, incrementando a espessura da parede do
ventrículo, pelo constante aumento do stress sistólico?
Sendo assim, maiores
investigações sobre a resposta do SNC e das adaptações cardíacas precisam ser
realizadas, sobretudo no que tange a grupos de risco, mesmo porque, existe uma
boa chance de aquele seu aluno idoso ter algum grau de risco para cardiopatias
variadas, isso se já não tiver a doença, e você poderá agravar o problema.
Ficamos por aqui. Espero que tenham gostado desta curiosa série. Até a próxima!
(Obs: para ler o artigo anterior desta série, clique AQUI).
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
Para conhecer meus serviços de consultoria online, currículo, fotos de alguns alunos e muito mais, clique AQUI ou envie email para: fernando.paiotti@gmail.com
Comentários
Postar um comentário