Fala rapaziada!
Decidi escrever alguns artigos
que irão abordar métodos e meios de treinamento, haja vista que a grande
maioria do público que frequenta academias adora uma modinha e sai por aí reproduzindo
qualquer merda que vê nas redes sociais, sem nem saber a real finalidade da
“coisa” que estão imitando, mesmo porque, os divulgadores normalmente também
não sabem porra nenhuma e só querem chamar atenção...
Na primeira discussão desta
proposta, trouxe o treinamento de oclusão vascular, também chamado de Kaatsu (clique AQUI). Hoje será a vez de
um dos mais polêmicos de todos os tempos, que virou uma verdadeira febre, vencendo, pelo terceiro ano consecutivo, a disputa pela atividade mais popular do mundo: o famigerado
Crossfit... Boa leitura!
1. O QUE É ESTE MEIO DE TREINAMENTO?
Reparem que usei a palavra “meio”
e não método, pois o crossfit não merece esse rótulo mais complexo.
Um método de treinamento é um
processo repetitivo e sistemático composto de exercícios progressivos que visam
ao aperfeiçoamento do desempenho. O meio, por sua vez, são meros aparatos ou
materiais utilizados para treinamento e que servem para desenvolver o
rendimento físico-esportivo de forma sistemática.
O crossfit, assim como o
treinamento funcional, é uma coisa da modinha, sendo a de maior
sucesso, haja vista que é a que mais bomba nas redes sociais e mais permite que
se inventem coisas absurdas para chamar a atenção e ganhar curtidas.
Sempre tive muito preconceito em
relação a ele, porém, como sou um cara da ciência, fui atrás e pesquisei para
ver se não estava sendo extremista demais e, felizmente, a resposta foi que
não! Hoje tenho o que poderíamos
chamar de “pós-conceito” e sei que de fato o crossfit é algo muito delicado e de uso restrito, que, para
piorar, está fazendo inúmeras vítimas por aí. Bom que tal posicionamento não é
apenas meu, mas da maioria esmagadora dos profissionais sérios do meio
acadêmico-científico.
Obviamente que neste grupo não
entram aqueles treinadores extremamente limitados que, infelizmente, correspondem
a uma parcela considerável dos bacharéis em educação física, haja vista que
tudo o que eles fazem é acompanhar as redes sociais, para ver o que está na
moda e participar de algum curso igualmente limitado, normalmente de uma única
tarde, para aprender a “receita de bolo” do esquema e sair reproduzindo por aí,
sem nenhum posicionamento crítico, carga teórica ou qualquer reflexão sobre o
próprio trabalho que está prestando.
Quando a brincadeira estiver fora
de moda, lá vai ele caçar um novo curso para aprender a reproduzir mais alguma
coisa estúpida e sobreviver mais um tempo no mercado, de forma cíclica, sem
nunca desenvolver um trabalho sólido e de qualidade com as pessoas.
Está aí um dos motivos de a área
da educação física ser alvo de chacotas de todas as demais, dado que uma parte
de seus próprios profissionais contribui enormemente para isto, prestando um
serviço fraco e totalmente descartável, que qualquer Zé ruela por aí poderia
fazer, mesmo jamais tendo pisado em uma universidade.
Não é à toa, também, que há uma
infinidade de falsos entendedores sem diploma e quase sem bagagem alguma, se
aventurando a prescrever treinos para a população via internet, no famoso
“copia e cola”, especialmente através dos famosos coaching, consultorias
online, assessorias, personal trainer online, etc.
Bom, críticas à parte, vamos,
infelizmente, voltar ao tema central desta discussão, que é igualmente polêmico:
crossfit.
Esse meio de treinamento deriva
de práticas físicas militares, tendo sido reformulado com uma nova cara para
atender a uma demanda de mercado. Ele mistura treino aeróbio e anaeróbio em
altas intensidades e normalmente elevado volume, através de exercícios
exaustivos, curtos intervalos, treino realizado em formato de circuito,
movimentos multiarticulares e pesos livres.
Seus praticantes dizem usar movimentos
do dia-a-dia, para deixar o corpo mais funcional e preparado para tarefas
cotidianas, como subir em cordas, virar gigantescos e pesados pneus,
pendurar-se em barras, carregar barris, etc, enfim, como puderam perceber, são
de fato coisas muito importantes, afinal, nunca se sabe quando teremos de virar
um pneu de trator...
2. ELE FUNCIONA?
Os defensores do crossfit podem
ficar tranquilos pois não serei hipócrita a ponto de ficar mentindo ou inventando
coisas. De fato o crossfit dá resultados e promove adaptações fisiológicas e
metabólicas interessantes no organismo.
Por envolver exercícios de força,
em alta intensidade e tempo prolongado, ele incrementa massa magra e força,
diminui gordura, aumenta resistência e endurance esportivo, etc, etc, etc,
gerando benefícios dos dois mundos, tanto do aeróbio, quanto do anaeróbio, ao
contrário da musculação tradicional, que acaba trabalhando quase que só o lado
anaeróbio do treinamento.
Inclusive este é um dos pontos mais
explorados pelos defensores do crossfit na hora de descer a lenha na
musculação, haja vista que eles acham a abordagem deles mais inteligente e
completa, pois é capaz de transformá-los em verdadeiros gladiadores dos tempos
modernos, quiçá espartanos da Grécia antiga!
Ah, e para não falar que eles só
se baseiam em achismos, e que estou sendo imparcial, vou trazer um dos
raríssimos estudos científicos realizados na área: Smith et al., 2012,
“Crossfit-based high intensity power training improves maximal aerobic fitness
and body composition”.
Os caras treinaram 54 pessoas,
por 10 semanas, todos os dias. Com movimentos de ginástica, levantamento de
peso, exercícios básicos e funcionais, sempre em alta intensidade e o mais
rápido possível, com inúmeras séries e repetições, como manda o figurino. Os
resultados seguem abaixo:
Reparem tanto homens (tabela 2),
quanto mulheres (tabela 3), perderam peso, reduziram gordura corporal (body
fat), aumentaram massa magra (lean mass) e VO2 máximo. Show de bola! Até aqui, pelo
menos neste capítulo, só vimos benefícios e, aparentemente, eu estava errado em
ficar criticando o crossfit. Vamos, então, virar um gladiador do século XXI?
Bora? Acho que não...
Primeiramente, o desenho
experimental deste trabalho, que foi um dos poucos já realizados envolvendo o
tema, é totalmente equivocado, haja vista que ele não possui um grupo controle,
ou seja, não havia com quem comparar esses indivíduos a não ser com eles
mesmos.
Imagine que você pegue pessoas
não muito bem treinadas e as exercite por 10 semanas. Ao final do período, o
que você acha que vai acontecer? É óbvio que elas apresentarão alguma mudança
positiva!
Para quem não entendeu o absurdo disso, vou dar um exemplo bem apelativo que vai deixar tudo mais claro: imagine que durante 10 semanas, todos os participantes do seu estudo suplementarão fezes de cachorro batidas com leite. Passado esse tempo, você vai ver que todo mundo evoluiu, agora, eu lhe pergunto: foi a merda que eles beberam?!?!? Dá para dizer isso? Segurou o absurdo? Você não tem com o que comparar, logo, qualquer informação que for jogada ali irá servir!
Além disso, e agora vem o ponto
mais grave de toda esta série, de todo esse contexto que envolve o crossfit: as
lesões e o stress absurdo que é imposto ao organismo!
Dos 54 sujeitos que começaram a
pesquisa, 11 não conseguiram ir até o final. Você poderia pensar que eles
tiveram algum problema ou que foram fracos ou ficaram de frescura, porém, vou
ter de discordar, caro leitor... Encerraremos este artigo por aqui
e, só para adiantar o que falaremos no próximo encontro, o índice de lesão no
crossfit, segundo um estudo, é de 73,5%!!! Aguardem...
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
Para conhecer meus serviços de consultoria online, currículo, fotos de alguns alunos e muito mais, clique AQUI ou envie email para: fernando.paiotti@gmail.com
Sempre suspeitei que crossfit não é uma boa coisa, tem muito impacto. Fora o achismo da galera que faz, haja hashtag!
ResponderExcluirFernandão, só você mesmo pra ter essa iniciativa. Parabéns pelo profissionalismo de sempre.
ResponderExcluirValeu, Gabriel! grande abraço
Excluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk 2018, o que vc "acha" do crossfit hj ?
ResponderExcluir