HIDRATAÇÃO/DESIDRATAÇÃO, HIPONATREMIA E MUSCULAÇÃO – PARTE 3

Fala rapaziada!

No último artigo, eu mostrei os estados de hidratação, o glicerol, os efeitos da hipoidratação e a necessidade de reidratação. Hoje, discutiremos aclimatação e hiponatremia. Boa leitura!


6. ACLIMATAÇÃO

A aclimatação, no contexto esportivo, é um processo de adaptação a um determinado clima/ambiente visando a uma melhor preparação, de forma antecipada, para que o novo local não atrapalhe o desempenho do atleta durante uma competição.

Quando ele vai de um clima quente para um frio, ela é muito fácil de ser feita, porém, o desafio ocorre quando se faz o caminho inverso, do frio para o calor, haja vista que as adaptações fisiológicas são mais complicadas e lentas, podendo demorar algo entre 3 e 15 dias.

Um bom exemplo de aclimatação pode ser visto quando um atleta vai treinar no país onde será realizada uma competição semanas antes de esta ocorrer. Outra forma, muito mais econômica, haja vista que não envolve custos de viagem e hospedagem, se dá com o treinamento em estufas, em saunas ou com a utilização de roupas térmicas impermeáveis.

A ideia aqui é a de expor o organismo prolongada e repetidamente a ambientes quentes, promovendo adaptações fisiológicas e metabólicas que melhoram o conforto térmico, produzem proteínas de choque térmico e mantêm a temperatura corporal mais estável, diminuindo a perda de eletrólitos (especialmente sódio), normalizando a sede e aumentando o tempo de tolerância ao esforço durante o exercício (Chinevere et al., 2008).

A aclimatação ao ambiente quente pode aumentar até 12% a taxa de sudorese do sujeito, porém, é capaz de reduzir em até 59% a perda de sódio no suor, quando fazemos uma comparação com indivíduos não aclimatados (Kirb e Convertino, 1986).

Sendo assim, com a redução da perda de eletrólitos, ocorre redistribuição da água nos espaços intra e extracelulares e o estímulo para a sede ocorre de forma muito mais eficaz.



7. HIPONATREMIA

A hiponatremia se traduz numa baixa concentração de sódio sérico (menor que 136 mmol/L). Ela é causada por um exagerado consumo de líquidos em provas de longa duração, seja durante, seja nas 24 horas subsequentes ao exercício.

Ela pode ocorrer tanto pelo aumento do volume de água no corpo, quanto pela diminuição do soluto (hiponatremia hipotônica). Suas subcategorias são:

- Pseudo hiponatremia: causada pelo aumento de lipídios e/ou proteínas no plasma, diminuindo a concentração de sódio pois estes outros solutos ocupam muito “espaço” no plasma, reduzindo a proporção de outras substâncias. No que diz respeito ao exercício, esta categoria não nos interessa muito.

- Hiponatremia iso/hipertônica: solutos no plasma, que não ultrapassam a membrana plasmática, atraem água para fora, diluindo sódio. No que diz respeito ao exercício, esta categoria não nos interessa muito.

- Hiponatremia eu/hipervolêmica: causada pelo consumo excessivo de água e aumento da secreção de arginina vasopressina, que reduz a capacidade de excreção renal máxima, aumentando a propensão a reter líquidos ingeridos, diminuindo volume da urina e deixando-a mais concentrada. Esta é a categoria que nos interessa no exercício físico.

Excretamos, no máximo, cerca de 0,5 a 1L de água por hora. Sendo assim, o mané que queira ter um quadro de hiponatremia precisa beber, pelo menos, 1-1,5L nesse mesmo intervalo de tempo.

Então, a principal prevenção contra o distúrbio seria consumir água apenas quando sentimos sede (em alguns casos, essa prática não serve pois, como disse em outros momentos da série, a performance esportiva já se encontra prejudicada quando sentimos sede).

Suplementar sódio, por mais absurdo que possa parecer, não adiantaria de nada na solução desse quadro, pois o problema não está na perda deste mineral, mas sim no consumo excessivo e compulsivo de líquidos. Ah, e por falar em compulsão, quem nunca viu aquele cara que bebe 2 litros/hora no treino, ou 7 ou mais litros por dia?

A água é tida como algo totalmente saudável e inofensivo, porém, em excesso ela pode sim ser prejudicial e não há a menor necessidade de ingeri-la em quantidades gigantescas, haja vista que ela não pode ser estocada como muitos imaginam ou gostariam, sendo o excesso eliminado na urina.

Apesar de ser muito mais comum em provas de longa duração, como triátlon e maratonas, a hiponatremia pode também aparecer em outros esportes, sendo seus sintomas mais comuns: dor de cabeça, vômitos, diarreia, alteração de humor e dores abdominais. Em casos muito graves, pode causar convulsões e levar ao coma.

Como esses sintomas são muito comuns e relacionados a toda sorte de problemas que uma pessoa possa ter em seu cotidiano, o diagnóstico da hiponatremia é muito difícil de ser feito, necessitando, por segurança, de análise laboratorial.

Para finalizar, uma forma simples de diferençar desidratação de hiponatremia seria pesando o indivíduo antes e depois de um treino ou de uma prova: se ele ganhou peso, ingeriu água demais e pode ter diluído o sódio corporal; se o peso reduziu, está desidratado e necessita se reidratar.

Ficamos por aqui. No próximo artigo, que será o último da série, discutiremos perda de peso em lutas e distúrbios causados pelo calor. Boa leitura!


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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