CONHEÇA OS FAMOSOS “EXERCÍCIOS PROIBIDOS/PERIGOSOS” DA MUSCULAÇÃO – PARTE 1

Fala rapaziada!

Certamente, muitos de vocês já ouviram falar em exercícios perigosos, prejudiciais, proibidos, de alto risco, etc., dentro de uma academia. Normalmente, quem os proíbe o faz com grandes alardes, porém, sem nenhum embasamento teórico concreto que justifique satisfatoriamente o porquê da proibição ou do perigo.

Sendo assim, tomei a iniciativa de escrever este texto para trazer alguns exercícios que, se mal utilizados, poderão trazer belíssimos danos ao ombro, articulação esta que será o carro chefe da discussão, sobretudo porque entre 22 e 36% dos praticantes de treinamento com pesos a lesiona (Goertzen et al., 1989; Konig & Bierner, 1990; Mazur, 1993; Keogh, 2006).

Enganaram-se aqueles que inocentemente pensaram que eu iria esculachar o agachamento livre e o levantamento terra. De fato são exercícios que causam grande compressão discal, porém, isto não necessariamente é maléfico, desde que a pessoa esteja preparada para suportar as cargas impostas. E caso ela não esteja, basta prepará-la... Muitas academias proíbem a execução destes exercícios, no entanto, digo para vocês que isto se dá mais por ignorância e displicência da equipe instrutora e gerenciadora do estabelecimento do que por qualquer outra coisa.


1.  QUAL O RISCO PARA O OMBRO?

Primeiramente, irei descrever o problema para depois trabalharmos em cima dos exercícios, haja vista que ele é sempre o mesmo: a abdução com rotação externa do ombro. Mais abaixo irei explicar o que seria esse movimento, pois antes quero criar um ambiente mais rico para a discussão.

A seguir, irei disponibilizar duas imagens para que os leitores entendam do que se trata o ombro: na primeira, vemos que ele é formado por uma articulação que chamamos de glenoumeral, uma vez que se dá entre a cabeça do úmero (osso do braço) e a cavidade glenoide da escápula.

Reparem que o encaixe ósseo é bem raso, fato que é uma faca de dois gumes, haja vista que ao mesmo tempo em que permite movimentação nos três eixos do movimento, também gera muita instabilidade.


A segunda imagem mostra os ligamentos desta articulação, que são o ponto delicado onde eu queria chegar.

O movimento de abdução com rotação externa que eu citei anteriormente é um movimento que vulnerabiliza a articulação glenoumeral, uma vez que a deixa apenas sob a ingerência dos ligamentos, excluindo a participação dos músculos na estabilização do movimento, não importando o quão forte a pessoa seja.

Os principais músculos envolvidos na brincadeira são a turma que recebe a alcunha de manguito rotador, composta por eles: subescapular, supraespinhal, infraespinhal e redondo menor. Eles formam uma espécie de alça que abraça e “gruda” a cabeça do úmero na cavidade glenoide, permitindo a execução dos movimentos com segurança.


Num movimento de abdução com rotação externa, que finalmente mostrarei abaixo, essa turma, pode, por exemplo, não atuar ou o fazer de forma insatisfatória, por estarem enfraquecidos por negligência de treinamento, deixando a proteção articular na mão apenas dos ligamentos, que não são tão fortes como os músculos e podem se romper com muito maior facilidade, causando graves lesões, dolorosas e de difícil e lenta recuperação (GARTH et al., 1987; NEVIASER, 1991; BAK et al., 2000; HAUPT, 2001; MIHATA et al., 2004). Não é por acaso que o movimento é utilizado em diversos estilos de artes marciais para imobilizar, render ou arregaçar o oponente.

Posto isto, agora vocês sabem, de verdade, o porquê do grau de periculosidade de alguns exercícios dentro de uma academia quando o assunto são ombros e, finalmente, saímos do senso comum, discutindo tecnicamente o problema, pois acredito que o leitor do meu site não se contenta mais com frases como: Não faça porque é perigoso! Por quê? Porque pode lesionar o ombro! Por quê? Porque é perigoso, oras, não é bom! Por quê? Porque machuca! E blá blá blá...

Tenho certeza que já enrolaram vocês assim, seja com problemas relacionados aos ombros, seja com os da coluna ou joelhos...

A seguir, irei apresentar uma lista de seis exercícios, sendo o último um bônus, pois transcende a discussão aqui proposta: desenvolvimento para ombros por trás, pulley/puxada por trás, pec deck, pullover, supino (wtf?!) e levantamento olímpico (bônus por conta da turma do crossfit). Depois disso, irei citar modalidades esportivas que também têm seu grau de risco (se mal planejadas) e iremos concluir a brincadeira.

Observação: os três primeiros exercícios tiveram sua análise baseada no trabalho de Gross et al., 1993.


2. DESENVOLVIMENTO PARA OMBROS POR TRÁS

Resolvi começar logo com um dos piores, pois é bastante comum encontrarmos nas academias uma cadeira de desenvolvimento como essa da imagem abaixo:


O maior problema de todos acontece logo no início, que é o momento de tirar a barra do suporte, haja vista que a rotação externa imposta é brutal, especialmente com altas cargas.

Muitos de vocês devem estar pensando que bastaria pedir a ajuda de alguém que o problema estaria resolvido, certo? Pois é, se fosse apenas isso, ok, contudo, a rotação externa acontece durante 100% do exercício, para evitar que você quebre seu crânio com uma porrada da barra.

Para piorar e esmerdear ainda mais o cenário, a ativação muscular neste exercício está bem longe de ser uma das melhores, perdendo para o desenvolvimento pela frente e pela elevação no plano da escápula.

Por fim, para fechar com chave de ouro, ao contrário do que diz a lenda, não isola porra nenhuma o deltóide ou enfatiza a porção posterior dele, ficando praticamente TODO o trabalho, pasmem, com as porções anterior e média!

Sendo assim, este é um exercício de péssimo custo X benefício, haja vista que ele cobra muito e dá pouquíssimo em troca, pois é perigoso, não tem como ser amenizado já que nos obriga a fazer uma abdução com rotação externa, trabalha pouco a musculatura e não serve coisa nenhuma para enfatizar a porção posterior do deltóide!





3. PULLEY/PUXADA POR TRÁS PARA COSTAS

Este exercício tem caído em desuso, pois é tido, em muitos lugares, como um exercício proibido. O motivo, como disse anteriormente, ninguém sabe explicar, ficando no ar frases como “é perigoso”, “lesiona”, “machuca o pescoço/costas”.

Acontece que quando o cabo fica muito inclinado, afastado do eixo do indivíduo, como no caso das máquinas que têm a trava do joelho muito para frente, acaba-se aumentando muito a rotação externa e criando esse cenário descrito. Ele também ocorre quando o sujeito pega a barra bem aberta e desce demasiadamente.

Para completar, a puxada nas costas limita o trabalho de dorsais, uma vez que gera um movimento apenas de adução, sem extensão, o mesmo valendo para a realização da barra fixa nesta modalidade, inclusive no que tange à rotação externa.

Para quem não sabe, o grande dorsal, também chamado de latíssimo do dorso, é um músculo muito hábil em movimentos de extensão e de adução. Quando combinamos ambos, criamos o cenário de maior recrutamento muscular possível, por outro lado, quando um dos dois é retirado, a solicitação cai.

Sendo assim, a pergunta que resta é: puxada nas costas é um lixo e não devemos fazê-la?

Acredito que, neste caso, não precisamos ser tão maniqueístas, certo/errado ou proibido/permitido. A resposta depende de inúmeras variáveis: perfil e tipo do aluno, aparelho bom que permita uma trajetória reta de barra e de cabo, postura e cargas adequadas, execução sem rotação externa, objetivos de enfatizar apenas a adução do movimento, etc.

Sendo assim, dá para fazer, mas a maioria esmagadora das pessoas colherá mais benefícios utilizando a puxada pela frente (clique AQUI para maiores informações sobre a posição das mãos na barra fixa ou pulley/puxador).

Para ler o próximo artigo desta série, clique AQUI


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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