Fala rapaziada!
Uma coisa que sempre me chamou muita atenção são as variações
entre as posições dos pés ou das mãos nos exercícios, dentro do contexto de se
mudar o enfoque muscular. Em uma parcela considerável dos casos, por conta da minha
experiência acadêmico-científica, o que posso dizer a vocês é que as mudanças
não passam de lendas, baseadas em achismos ou sentimentos e divulgadas a torto
e a direito...
Para quebrar mais um tabu, já que adoro fazer isto em meu
site, gostaria de lhes informar algo que até hoje não vi em lugar algum: a
farsa da diferença da posição dos pés no leg press!
É extremamente comum nos depararmos com imagens como esta que
lanço abaixo, acerca do posicionamento na plataforma do aparelho e as
modificações que elas trazem:
Reparem que existe essa crença de que colocar os pés na parte
de cima faz trabalhar mais glúteos e posteriores de coxa; no centro ou abaixo,
do quadríceps; pernas afastadas, adutores...
Tem tanta coisa, errada aí gente, tanta ilusão e
desinformação, que chega a assustar, pois sei que o embasamento científico para
desenvolverem estes textos que vocês lêem por aí foi ZERO!
Para acabar de vez com as lendas, trago um excelente artigo
científico acerca do leg press com diferentes posicionamentos dos pés: “ESCAMILLA
et al. (2001)”. LINK.
Através deste trabalho, percebeu-se que as ativações
eletromiográficas do quadríceps (vastos lateral e medial e reto femoral),
gastrocnêmios (músculo da panturrilha) e bíceps femoral (um posterior de coxa)
foram estatisticamente SEMPRE as mesmas! Ou seja, NÃO HÁ DIFERENÇA
SIGNIFICATIVA ENTRE AS VARIAÇÕES NAS POSIÇÕES DOS PÉS NA PLATAFORMA!
Sei que isso vai ofender e machucar muita gente, porém, é uma
verdade que não pode ser ignorada... Como parar por aqui seria muito pouco e
tenho certeza que o meu leitor é exigente, tentarei explicar o artigo. A tarefa
será um pouco complexa pois irá exigir capacidade de interpretação de
resultados, porém, tentarei fazê-lo da forma mais simples possível.
Primeiramente, para este estudo, 10 homens treinados foram
selecionados para executar agachamento e leg press com variações nas posições
dos pés. Como nosso foco é o segundo exercício, ignorem tudo que aparecer como
SQ/ squat (agachamento) na tabela dos resultados e prestem atenção apenas no LP
(leg press).
As posições dos pés na plataforma foram as mesmas da imagem
inicial deste texto, a famosíssima, que usa: pés na parte de cima, de baixo,
nomeio e bem afastados. Observe:
Posto isto, através de uma análise eletromiográfica (não sabe
o que é isso? Clique AQUI),
analisou-se a ativação muscular e os seguintes resultados foram obtidos:
LEGENDA - para
facilitar a compreensão, temos:
- LPL: leg press com os pés na parte debaixo da plataforma;
- LPH: leg press com os pés na parte de cima da plataforma;
- NS: pés aproximados no leg press;
- WS: pés afastados no leg press;
- Knee flexing phase: fase de flexão do joelho, quando você
está descendo o peso.
- Knee extending phase: fase de extensão do joelho, quando
você está subindo o peso.
Reparem que separei os grupamentos musculares por cores,
sendo o vermelho o quadríceps (faltou o vasto intermédio, mas não faz
diferença), laranja são os isquiotibiais/posteriores de coxa e por fim o
gastrocnêmio, que é um músculo da panturrilha.
Para que o leitor entenda o que significam estes números,
vamos analisar o reto femoral como exemplo.
No LPH com os pés próximos, temo um número 20 e depois um
sinal de + e de – e um número 9. O número 20 é um valor que representa a média
normalizada dos resultados obtidos. Porém, admitem-se desvios, que seria esse
segundo número 9, para mais ou para menos, ou seja, teríamos um intervalo de
resultados entre 11 e 29 (20-9 e 20+9). Essa variação é chamada de desvio
padrão (SD).
Aplicando esta interpretação para os outros valores, por
exemplo o do LPL com os pés próximos, temos um 23 +/- 11. Isto nos mostra que
não há diferença estatística significativa entre os resultados. O mesmo vale
com os pés afastados, que forneceram 17 e 20 para LPH e LPL, respectivamente.
Repare que todos estes números estão dentro de um mesmo
intervalo, sempre muito próximos, o que na prática nos mostra que não há
variação significativa de atividade muscular ao mudarmos a posição dos pés na plataforma do
leg press no quesito reto femoral.
Agora que você já entendeu a brincadeira, faça a mesma
análise com todos os outros músculos e irá perceber que a coisa é SEMPRE igual,
ou seja, a atividade deles não muda, não importando o que você faça.
A título de curiosidade, os mesmos resultados foram
observados no quesito compressão patelar (no joelho), ou seja, não daria para
usar as modificações para, quem sabe, diminuir sobrecarga.
Sendo assim, podemos concluir que não passa de uma lenda,
baseada em achismos e sentimentos pessoais, essa história de posicionar os pés
de modo a ativar mais ou menos posteriores de coxa/quadríceps.
Porém, antes de encerrarmos, gostaria de tecer alguns
comentários:
1- Estes resultados aplicam-se apenas ao leg press. Digo isto
pois, no agachamento, podemos fazer algumas modificações capazes de alterar
recrutamento muscular e compressão na coluna ou no joelho;
2- Talvez você tenha ficado curioso do motivo de no
agachamento ser possível criar alguma modificação e no leg press não. A
resposta vem fácil quando comparamos as execuções: no primeiro as costas estão
livres, enquanto no segundo, não! Sendo assim, com o eixo corporal estável, não
conseguimos variar a sobrecarga ou braços de alavancas que aumentem torque em
alguma porção muscular específica;
Isto é muito bacana, haja vista que será possível achar um
local da plataforma que lhe dê o maior conforto possível e fazer o exercício
com mais segurança. Além disso, você também poderá ficar alternando a posição
dos pés para quebrar a monotonia dos treinos, que infelizmente acontecem com
frequência, especialmente em treinos de pernas.
4- É comum um perfil de aluno que está sempre querendo fazer
algo novo no treino ou que enjoa fácil do programa. Para eles é mais
interessante ainda usar a brincadeira da mudança de posição dos pés para criar
a impressão de dinamismo no treino.
Entenda que esta é uma estratégia inteligente para motivá-lo.
Digo inteligente pois você estará mudando o local da plataforma sabendo que
aquilo não irá comprometer em nada nos resultados do treino, e não como a
maioria esmagadora faz, com a falsa ilusão de que assim estarão trabalhando
mais glúteos ou isquiotibiais...
5- A musculação está cheia de mitos e tabus que devem ser
destruídos! Para sair do senso comum, treine com inteligência e aprenda a
perguntar e investigar os porquês das coisas! Conte apenas com o auxílio de
profissionais que se baseiem em conhecimentos científicos e atualizados e que
sejam altamente capacitados.
Até a próxima série!
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
Para conhecer meus serviços de consultoria online, currículo, fotos de alguns alunos e muito mais, clique AQUI ou envie email para: fernando.paiotti@gmail.com
Olá Fernando. Achei super interessante seu artigo e também bastante polêmico. Gostaria apenas de um esclarecimento. Encontrei em outro blog, o mesmo assunto abordado aqui sobre o leg press, porém o personal comentou que, através de estudos mais atuais (referencias no final da postagem), que se for no leg 45 há uma ativação maior do posterior de coxa (posicionando pés para cima da plataforma). A minha pergunta é: pode haver diferenças significativas se o leg press for 45,90 ou 180 ou como vc disse acima, tudo continua sendo lenda?
ResponderExcluirParabéns pelo artigo!!
Att
Márcio
"Leg press
Esse exercicio mostrou grande ativação dos musculos isquiotibiais
e que os angulos de variações dos pés nao afetam os musculos
ativados quando o exercicio é realizado no aparelho em que o
individuo permanece deitado durante a execução do exercicio.
Já no aparelho em que o individuo permanece sentado em angulo
de 45º na articulação do quadril, o posicionamento dos pés para
cima ativa mais os musculos posteriores de coxa e o posicionamento
dos pés para baixo ativa mais o quadriceps."
Referencia Bibliografica:
MALDONADO, D.T; CARVALHO, M; BRANDINA, K; GAMA, E.F. Analise
anatomica e eletromiográfica dos exercicios de leg press, agachamento
e stiff. Rev Integração. Abr/Mai/Jun 2008. Ano XIV, nº53. Pag 151 - 157
Fala Márcio!
ExcluirO trabalho que eu trouxe foi feito em leg 45° também. Não observaram diferença alguma.
Sua pergunta é bastante interessante e não sei se já foi avaliada em laboratório. Fiquei bem afim de investigar isso, mas meu palpite é que muito provavelmente não haverá mudança no recrutamento muscular, independente da angulação do aparelho e posição dos pés, uma vez que as costas se encontram fixas e apoiadas no encosto. ao contrário do que se observa no agachamento livre.
Abraço!