Fala rapaziada!
No artigo anterior eu expliquei de forma científica o porquê
de termos exercícios chamados perigosos para os ombros e vimos três exemplos
deles já. Continuemos, então, nossa discussão. Boa leitura!
4. PEC DECK
Em relação ao pec deck, o problema não está no exercício em
si, mas sim na forma como ele é executado: é comum que as pessoas mexam apenas
nas cargas da máquina antes de começar o exercício, não utilizando
adequadamente os ajustes que ele proporciona, como altura do banco, distância
de pegada para os braços e amplitude de movimento.
O mais grave de todos é este último, haja vista que se o
aparelho permitir uma amplitude muito grande, com os braços indo lá para trás,
conseguir-se-á gerar uma bela abdução com rotação externa. Para piorar, este tipo de movimento é incentivado dentro das
academias, por conta de uma lenda de que faz bem utilizar uma grande amplitude
para “alargar o peito” ou “ampliar a caixa torácica”...
Saiba que isto é uma grande imbecilidade, por dois
motivos: ao aumentar muito a amplitude ao final do movimento, acaba-se
alongando demais o músculo e ele perde capacidade de gerar tensão, ou seja, vai
trabalhar bem menos. Além disso, vai proporcionar um ótimo ambiente para lesões
por conta da rotação externa!
Tudo isto que foi discutido vale também para o exercício mãe
do pec deck, feito de forma livre com pesos, chamado de crucifixo, que pode ser
realizado com diferentes graus de inclinação e declinação.
Sendo assim, o ideal é, antes de começar o exercício, ajustar
o aparelho às características do seu corpo. Se você não souber qual amplitude
usar, a dica que dou é para prestar atenção na contração muscular e ver até que
ponto o trabalho é intenso e onde começa a diminuir. Na dúvida, se você for
iniciante ou tiver já algum problema nos ombros, menos é mais (também não vale
realizar uma amplitude reduzida demais né?!).
No caso do crucifixo, a dica é a mesma, porém, com um
macetezinho: a pegada utilizada para fazê-lo é a neutra, certo? Mude para a
pegada pronada (a mesma que você usa para fazer supino). Você verá que a
amplitude é automaticamente reduzida para um nível ótimo!
5. PULLOVER
Terminada a análise dos exercícios perigosos propostos por
Gross et al., 1993, trago mais alguns para enriquecermos a discussão, começando
pelo pullover, que é o rei da abdução com rotação externa!
Ele é um exercício muito completo, ótimo para os objetivos de
todos os indivíduos praticamente, recrutando costas, ombros, peito, tríceps,
abdômen, porém, são poucas as pessoas que conseguem realizá-lo de forma correta
e segura.
Acontece que o músculo peitoral possui várias funções, como
flexão de ombro, adução horizontal, extensão e rotação medial. Quando ele faz
esta última, a tendência é a de que abramos os cotovelos, porém, ao realizar
tal movimento, executamos uma rotação externa, que é proporcionalmente
dependente.
Eu mesmo já me lesionei assim (por sorte não foi nada grave)
e digo isto para alertar o leitor, haja vista que, ao mesmo tempo em que o
pullover é um ótimo exercício, ele também é muito perigoso e serve apenas para
um grupo específico de indivíduos que, ou tenham excelente técnica, ou
naturalmente façam pouca rotação externa durante a adução do exercício.
Conforme falei, abrir os cotovelos é uma tendência natural do
movimento. Somando isto a altas cargas e a um poderoso braço de alavanca criado
pelo pullover, o estrago pode ser muito grande, sendo assim, fique ligado e não
o utilize se não for capaz, mesmo porque, não existe melhor exercício do mundo
e você poderá colher os mesmos benefícios através de outros movimentos.
6. SUPINOS
“Porra supino é
perigoso ou proibido, Fernandão?!”
Eu sei que essa assustou, mas coloquei estes exercícios aqui
apenas para chamar a atenção do leitor, fique tranquilo!
O supino de fato é excelente para desenvolver força e
hipertrofia e, se bem feito, não tem nada de perigoso. A única ressalva que
faço em relação ao seu uso é na hora de tirar e guardar a barra do lugar, pois,
para não prejudicar a amplitude do movimento, acabamos nos posicionando mais
para baixo/frente dela certo? Caso contrário, ao descer, ela bateria no
suporte.
Ocorre que na hora de retirá-la/guardá-la, inevitavelmente,
fazemos a maldita abdução com rotação externa. Com baixas cargas, ok, o
problema ocorre com pesos consideráveis para a estrutura do indivíduo que está
a treinar.
Sendo assim, o mais seguro é ter sempre um parceiro de
treino, colega ou instrutor ajudando-lhe nestas duas etapas, para evitar uma
sobrecarga desnecessária e, quem sabe, alguma lesão oportunista.
7. LEVANTAMENTO
OLÍMPICO
Esse é um bônus que decidi trazer por conta da turma do
crossfit, que popularizou o uso do levantamento olímpico para qualquer grupo de
indivíduos, de forma negligente e impensada, conforme já discutido na série “CONHEÇA
O CROSSFIT E SEUS MALEFÍCIOS” (clique AQUI).
Apenas para não nos estendermos, já que o foco são ombros,
não vou falar nada sobre compressão na coluna ou nos joelhos na realização
deste exercício, combinado? Isto ficará para um outro artigo.
Observe as imagens abaixo:
Nesta fase do levantamento, pensando só nos ombros, repare que a barra não fica exatamente acima da cabeça do indivíduo ou para frente, como no exercício de desenvolvimento. Na verdade, ela fica para trás, numa belíssima abdução com rotação externa!
Bom, mas afinal, os caras são idiotas por fazerem isto?!
Acontece que este movimento é pensado, haja vista que, ao
fazê-lo, aproximamos a carga erguida do eixo do indivíduo, diminuindo o braço
de alavanca e o trabalho imposto, permitindo a utilização de mais peso (se você
não entendeu estas coisas, clique AQUI).
Posto isto, gostaria de chamar a atenção do leitor para um
grande problema: o despreparo!
Esses caras que fazem levantamento de peso e competem, em sua grande maioria, têm um grande preparo físico, com um treinamento planejado, que respeita a adaptação dos biomateriais do organismo, como ossos, ligamentos, tendões e músculos. Além disso, é comum que tenham uma orientação profissional multidisciplinar adequada.
Por outro lado, os caras que se aventuram no crossfit,
geralmente, não têm um preparo físico adequado e são, por influências diversas,
incentivados a treinarem de forma pesada, intensa e com “garra” desde o início,
sob o signo da máxima do “no pain, no gain”, não dando o tempo adequado para as
estruturas se adaptarem. Resultado: 73% dos praticantes se lesionam, conforme
mostrado na série que escrevi sobre o crossfit, e quase 50% deles são nos ombros! Portanto, fique ligado e dê tempo ao tempo, respeitando o
desenvolvimento do seu corpo.
8. EXTRAS
Falei que iria citar modalidades esportivas que têm muitos
movimentos de abdução com rotação externa e chegou o momento. São elas:
- vôlei (saques e cortadas);
- natação (nado crawl);
- handebol (arremessos);
- tênis (saques e cortadas);
- baseball (arremessador);
- lutas (determinados golpes).
A pior de todas elas é o baseball, dada a grande velocidade e
o efeito que o arremessador tem que impor, mas o vôlei, o hand e o tênis não
ficam muito atrás.
Sendo assim, se você é um praticante de algum destes
esportes, por recreação ou não, prepare-se para fortalecer o seu manguito
rotador (em breve teremos um artigo sobre isso) e respeite as adaptações,
volume e intensidade do treinamento, combinado?
9. CONCLUSÃO
Bom, vimos ao longo da série que muitos exercícios podem ser
perigosos dependendo de como são executados. Não gosto muito desses alardes
que fazem acerca de “exercícios proibidos!”, endemonizando-os, e acredito mais
na inteligência e adequação do planejamento de treino.
O único exercício que vou realmente falar “não faça” é o
desenvolvimento para ombros por trás, também chamado de desenvolvimento na
nuca, haja vista que o trabalho muscular não é bom, é lenda que ele enfatiza
posterior de deltóides e a rotação externa não pode ser retirada, ou seja, ele
necessariamente expõe sua articulação a uma possível lesão.
Por outro lado, vimos que o pulley/puxador por trás pode ser
feito, se algumas precauções forem tomadas, porém, a atividade muscular nele é
inferior e só serve para enfatizar um movimento de adução.
O pec deck, crucifixo e supino são ótimos exercícios, no
entanto, conforme explorado, a amplitude adequada deve ser respeitada nos dois
primeiros e seria interessante ter alguém lhe auxiliando no terceiro para
retirar e guardar a barra.
O pullover também é ótimo, porém, pode ser um pesadelo para a
maioria das pessoas. Sendo assim, se você não tem boa técnica ou faz muita rotação
externa, por abrir demais, naturalmente, os cotovelos, fique longe dele por
precaução.
Para fechar, vimos o caso do levantamento olímpico, que acaba
impondo uma rotação externa para diminuir o braço de alavanca, logo, você deve
estar preparado para lidar com ela, caso contrário, estará fadado a ser mais um
na estatística dos 73% dos lesionados.
Ficamos por aqui. Espero que tenham gostado da série e que
ela tenha quebrado várias lendas e tabus imbecis. Tudo deve ser muito bem
pensado e explicado numa academia. Parem de achar que só a experiência prática
basta e de acreditar em qualquer bosta que lêem na internet. A teoria é
imprescindível também e um treinador capacitado e bem estudado deve sempre ser
consultado e, sobretudo, valorizado, pois são raros! Até a próxima!
(Para ler o artigo anterior desta série, clique AQUI).
(Para ler o artigo anterior desta série, clique AQUI).
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
Para conhecer meus serviços de consultoria online, currículo, fotos de alguns alunos e muito mais, clique AQUI ou envie email para: fernando.paiotti@gmail.com
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