QUAIS AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE?

Fala rapaziada!

A questão da especialização precoce é discutida há tempos, havendo diversos prós e contras de tal prática. Ela diz respeito à inserção de crianças, desde muito cedo, em um treinamento intenso de apenas uma prática esportiva, objetivando que elas apresentem um desempenho de excelência no futuro, podendo se destacar na modalidade. 

No texto a seguir, tentarei expor diversos pontos de vista, a fim de construirmos um cenário que propicie um adequado posicionamento sobre o assunto. 

Especialização precoce, segundo Kunz (1994), seria "(...)um processo que acontece quando crianças são introduzidas antes da fase pubertária a um treinamento planejado e organizado em longo prazo, e que se efetiva em um mínimo de três sessões semanais, com o objetivo do gradual aumento do rendimento, além, de participação periódica em competições esportivas". 

Barbanti completa ressaltando que esta especialização é realizada "numa idade não indicada para tal", ou seja, num momento inadequado, em que a criança pode sofrer distúrbios de crescimento ou deixar de viver "adequadamente" esta essencial fase da vida. 

Algo que ficou claro no discurso destes profissionais foi que a introdução da criança numa determinada classe esportiva, numa intensidade competitiva é, provavelmente, inadequada, haja vista que o momento não é próprio para tanto. 

Por exemplo, segundo o que se estuda em aprendizagem motora, existem determinadas fases da infância em que devemos ser expostos a um grande número de tarefas, a fim de aprendermos habilidades motoras variadas.

Estas fases são especiais pois o aprendizado é absorvido de maneira singular, podendo fazer toda a diferença na fase adulta. Sendo assim, um indivíduo  que jogue apenas futebol, dos três aos 18 anos, nessa abordagem de especialização precoce, deixou de participar de outras manifestações esportivas como vôlei, basquete, ginástica, assim como lutas e atividades culturais, de tal maneira que pudesse desenvolver sua habilidade atlética e locomotora como um todo. 

Vale mencionar, também, que uma criança de quatro anos tem um discernimento muito limitado sobre o que gosta ou não de fazer, a ponto de já escolher praticar e se especializar numa determinada modalidade esportiva para o resto de sua vida... 

Tanto é que estudos como Oliveira et al., 2007, mostram uma alta correlação entre especialização precoce e o término da carreira prematuramente, onde os principais motivos foram resultados negativos do atleta mirim em competições, ou mesmo a pressão psicológica por participar de campeonatos, as privações sociais para treinar, saturação esportiva (desânimo de praticá-la), etc. 




Para completar,  existe ainda um considerável problema quando o assunto é treinamento infantil: distúrbios de crescimento. 

O estudo de Albanese (1989), com ginastas de 12, 13 e 14 anos, mostrou que estas sofreram a supressão do crescimento por lesão no disco epifisário, fato que resultou numa perturbação na articulação rádio-ulnar e na distribuição de forças na articulação. Além disso, Howe (1997) expôs fechamento prematuro do disco epifisário em uma ginasta de 14 anos de idade. 

Ambos estes estudos mostraram uma faceta complicada da vida esportiva: as altas cargas que o treinamento pode gerar no aparelho locomotor de um jovem, que é muito mais frágil do que o de um adulto, de tal sorte que o crescimento ósseo fique prejudicado permanentemente, gerando danos como interrupção prematura do crescimento, angulações ósseas anormais, desproporção entre os segmentos e distúrbios articulares. 

Contudo, apesar de todos estes aspectos negativos, é importante que se mencione que a especialização precoce as vezes é algo característico da própria atividade, algo inclusive essencial, por conta do tempo de criação e preparação de um atleta, de modo que ele atinja seu auge prematuramente, podendo melhor aproveitar as oportunidades de competição durante a carreira, haja vista que a vida útil de um atleta é pequena, dependendo do esporte. 

Com o envelhecimento natural, passa-se a ter perdas em performance, que seriam pequenas para uma pessoa normal, que treina por saúde, mas que poderiam fazer total diferença para um atleta na hora de bater um recorde ou conquistar uma medalha. 

Tendo em vista todo este contexto, o que parece ser mais interessante seria utilizar não a especialização precoce, mas a iniciação esportiva em crianças, que seria o período em que estas começam a aprender de forma específica e planejada a prática esportiva. Santana (2005), defende que se utilize modalidades que contemplem toda a complexidade humana, sendo o objetivo imediato o de dar continuidade ao desenvolvimento infantil de forma integral, não almejando competições regulares.  

Baker (2003) inclusive mostrou que a diversificação nos esportes, durante a infância, nesta modalidade de iniciação, mostrou-se uma excelente alternativa à especialização precoce, sendo uma ferramenta interessante para que os treinadores e professores utilizem com as crianças.

Sendo assim, você pai ou responsável, incentive seu filho a praticar atividades físicas variadas, inclusive a musculação, deixando para especializá-la, caso ela queira, apenas a partir dos 14 anos.


BIBLIOGRAFIA 

- KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.   
- Oliveira, Gabriela Sans de & colaboradores. A relação entre especialização precoce e o abandono prematuro da natação. . Movimento e percepção. Espírito Santo do Pinhal. SP. 2007. 
- Adamilton Mendes Ramos e Ricardo Lira Rezende Neves. Ginástica artística e especialização precoce: cedo demais para especializar, tarde demais para ser campeão! Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.24, n.3, p.305-14, jul./set. 2010. 
- JOSEPH BAKER. Early Specialization in Youth Sport: a requirement for adult expertise? High Ability Studies, Vol. 14, No. 1, June 2003. 



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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