GUERRILLA CARDIO: UM AERÓBIO DE ALTA INTENSIDADE PARA QUEIMAR GORDURA – PARTE 2

Fala rapaziada!

No último artigo, fiz uma breve exposição do que seria o Guerrilla Cardio, também conhecido como Protocolo Tabata, apresentando todos os benefícios defendidos pelos autores, além, é claro, de como seria estruturada esta metodologia. Continuemos, então, nossa discussão. Boa leitura!


3. GUERRILLA E AS PESQUISAS CIENTÍFICAS

Obs: Este será o último capítulo em que irei expor os argumentos dos idealizadores do método Guerrilla Cardio. Sendo assim, mais uma vez, esta fala não é minha!
O Dr. Tabata e alguns colegas realizaram experiências comparando o GC a um protocolo normal de aeróbios de moderada intensidade. Para tanto, escolheram o desempenho na bicicleta como objeto de análise e dividiram uma galera, que seria estudada por seis semanas, entre os dois tipos/grupos de cardios.

O time da intensidade moderada deveria pedalar a 70% do VO2 pico (que significa consumo de oxigênio e é considerada a melhor medida de condicionamento aeróbio) durante uma hora por dia, 5 vezes na semana. O VO2 e a capacidade anaeróbica eram medidos antes e depois dos treinamentos.

O outro grupo, que faria uso de aeróbios de alta intensidade, também se exercitaria 5 dias na semana, porém, utilizando o Guerrilla Cardio e pedalando não a 70%, mas a 170% do VO2! Assim como descrito no final do parágrafo anterior, as medidas também eram tiradas antes e depois. Ao final das seis semanas de experiência, adquiriram os seguintes resultados:

- Grupo da intensidade moderada: melhorou em 10% a capacidade aeróbica (que utiliza oxigênio) e praticamente não apresentou mudanças na anaeróbica (que não utiliza oxigênio).

- Grupo do GC: aumentou em 14% a capacidade aeróbica e em 28% a anaeróbica. Em outras palavras, o GC demonstrou que é capaz de melhorar tanto o nosso desempenho nos exercícios cardiovasculares, quanto nos anaeróbios, ou seja, trabalha todos os tipos de fibras musculares.


4. ALGUMAS CONTROVÉRSIAS

Uma coisa que chama a nossa atenção, neste estudo citado, é o seguinte: como expliquei na série “entendendo as fibras musculares”, a melhor forma de se queimar gordura é fazer exercícios de moderada intensidade de forma prolongada. Neste caso, teremos o predomínio, de forma esmagadora, das fibras do tipo-I na atividade, que utilizam como fonte energética a gordura.

Por outro lado, realizando movimentos curtos e explosivos, faremos com que as fibras do tipo-II sejam as protagonistas da brincadeira, e estas, por sua vez, têm como principal combustível o glicogênio. Além disso, o protocolo é feito de maneira tão rápida (4 minutos), que simplesmente nem teria tempo de gastar a sua gordura.

Pois bem, chegamos ao dilema que gerou a principal discussão que envolve esse assunto:

- Os defensores da baixa intensidade dizem que o GC não serve para queimar gordura, que cataboliza massa muscular e que é um péssimo aeróbio. Há inclusive quem afirme que os resultados das pesquisas do Dr. Tabata foram manipulados...

- O grupo da alta intensidade, por sua vez, diz que os outros protocolos são perda de tempo, ultrapassados, e que não promovem resultados tão amplos e completos como os seus, haja vista que o Guerrilla Cardio estimula tanto a capacidade aeróbica quanto anaeróbica, além promover a queima de gordura por horas após o final do exercício.

E agora?! Quem está certo? Para encurtarmos a história, já aviso que, a meu ver, todos estão errados!


5.  A VERDADE POR TRÁS DO GUERRILLA CARDIO

A minha leitura sobre todo este cenário é que as pessoas se prendem apenas a algumas verdades e saem defendendo métodos com unhas e dentes, qual fossem o próprio autor dele. O Guerrilla Cardio é bom? Depende!

A parte da fisiologia explicada pelos autores realmente é verdadeira: durante a atividade, praticamente não há gasto de gordura, porém, o protocolo é capaz de realizar o que vulgarmente é conhecido como “acelerar o metabolismo”, podendo, de fato, aumentar grandemente o gasto energético por várias horas.

Sendo assim, se formos comparar a perda de gordura entre um aeróbio de baixa intensidade com um de alta (e aqui não entra só o Guerrilla Cardio, mas o método HIIT como um todo), veremos que o gasto energético total será maior na alta intensidade, pois o importante a ser mensurado não são apenas as calorias perdidas no processo, mas também depois do treino, até que o metabolismo volte ao normal, o que leva horas e horas a acontecer.

Outra coisa interessante, que não mencionaram, é que a liberação de catecolaminas, como a adrenalina, é bastante alta nessas modalidades de exercício, ajudando na perda de gordura visceral (aquela que forma uma pança nas pessoas), uma vez que esse tipo de tecido adiposo possui receptores próprios para elas, ao contrário do que ocorre em aeróbios de baixa intensidade, onde a perda de gordura visceral é quase insignificante.

Por fim, é importante e bastante recomendado que a pessoa tenha realizado exames do coração, sobretudo quando pertence a algum grupo de risco (obesos, diabéticos, fumantes, idosos, com parentes com problemas cardíacos), antes de realizar protocolos de alta intensidade assim, uma vez que, caso ela tenha alguma doença e não saiba, poderá ter uma parada cardíaca durante a atividade (já repararam que vira e mexe aparece uma notícia de alguém que infartou numa academia?!).

Posto isto, vem a parte mais importante e delicada desta série: a biomecânica, mais especificamente, o estudo da sobrecarga!

Como puderam perceber ao longo deste artigo e do anterior, as corridas utilizadas são feitas de forma explosiva, na maior intensidade possível, e isto demanda um condicionamento físico absurdo, que poucas pessoas têm. Para piorar, os choques gerados nas articulações, por conta dos impactos no solo, são bastante altos, sobrecarregando todo o aparelho locomotor. 

Por exemplo, a título de curiosidade, uma pessoa de 120kg caminhando lentamente gera uma sobrecarga nos joelhos equivalente a uma pessoa de 70kg correndo numa velocidade bastante alta! Sentiram o drama?! Imagine, então, colocar alguém com sobrepeso para fazer HIIT ou uma de suas vertentes que é o Guerrilla Cardio: vai dar merda (lesão)!

Ocorre que o impacto que geramos em nossas estruturas ao corrermos é proporcional ao nosso peso corporal e à velocidade utilizada, ou seja, quanto mais pesado/rápido, pior é a porrada.

No médio prazo, essas sobrecargas impostas vão se somando e causando danos silenciosos e crônicos às estruturas corporais, com destaque para tendões, ligamentos, cartilagens e ossos, proporcionando quadros como: fratura por stress, tendinite e desgaste de cartilagem (é irreversível). Também não é impossível ver alguém rompendo um músculo ou tendão, principalmente de posteriores de coxa, por correrem de forma bastante explosiva sem antes estarem preparadas, com um fortalecimento adequado.

Para resumirmos a história, os aeróbios de alta intensidade parecem ser os melhores para perda de gordura, porém, contraditoriamente, eles são os mais indicados a quem já tem baixa gordura corporal e grande preparo físico!

Sendo assim, se está acima do peso, seja com obesidade, seja com sobrepeso, o ideal para você são aeróbios de baixa a moderada intensidade, realizados, principalmente, em meio líquido e na bicicleta ergométrica.

Por outro lado, mesmo que você esteja dentro do peso, o uso da alta intensidade só será interessante caso você tenha passado por um treinamento muscular, sobretudo de potência, bastante adequado, caso contrário, é lesão na certa, pois suas estruturas não estão preparadas a lidar com a porrada gerada.

Então, mais uma vez, invista em aeróbios de menor intensidade, realize uma preparação muscular adequada e vá, aos poucos, adentrando na alta intensidade, porém, tenha em mente que, caso queira fazer algo bem feito e seguro, você irá necessitar da orientação de um treinador qualificado, haja vista que só profissionais altamente capacitados sabem montar um programa adequado, que seja capaz de gerar resultados interessantes e, ao mesmo tempo, proteger e fortalecer as estruturas do seu corpo.

Não acreditem, muito menos utilizem, receitas de bolo prontas de internet ou de revistas: o treinamento deve ser pensado de forma individual e, muito provavelmente, aquela informação não servirá para você, podendo, inclusive, causar danos irreversíveis ao seu corpo!

Ficamos por aqui! Espero que tenham gostado e até a próxima série!

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FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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