Fala rapaziada!
No último artigo desta série, conhecemos o que é o
treinamento funcional. Hoje, veremos para que ele serve, discutindo,
principalmente, se é verdade que ele aumenta a ativação muscular. Boa leitura!
2. O TREINAMENTO FUNCIONAL AUMENTA A ATIVAÇÃO MUSCULAR?
A literatura demonstrou que, de
maneira aguda, ou seja, na própria sessão de treino, o treinamento funcional
aumenta a ativação do core, de músculos estabilizadores e de antagonistas
juntamente a agonistas (não sabe o que é isso? Clique AQUI).
Em estudos com eletromiografia,
podemos comparar um exercício realizado numa plataforma estável com o mesmo
sendo executado numa instável. No caso do agachamento, do trabalho de Anderson
e Behm, 2005, temos o seguinte:
Como o leitor pode perceber, a
ativação do músculo sóleo (SOL), da panturrilha, é absurdamente maior com a
instabilidade. No caso do vasto lateral (VL) e do bíceps femoral (BF),
estatisticamente, os valores são semelhantes.
O que ocorre aqui é que, para
manter o equilíbrio e não cair, o indivíduo acaba recrutando uma quantidade
maior de unidades motoras e fibras musculares, inclusive da musculatura
antagonista, que normalmente é muito pouco ativada ou apagada durante o
movimento do agonista.
E isto se mostra muito
interessante, pois a carga que foi utilizada nessa comparação dos agachamentos
foi sempre a mesma, ou seja, com uma baixa carga o treinamento funcional consegue
promover grande ativação.
O grande problema que vejo aqui é a má interpretação dos
dados! Quem visse a figura e parasse a leitura por aqui iria concluir que o
treinamento funcional é até superior aos programas mais tradicionais e
abraçaria a causa com bastante força, inclusive ridicularizando os marombeiros.
Tenho certeza que muitos, ao longo dos anos, fizeram isso...
Acontece que, por a plataforma
ser bastante instável, muitos cuidados são necessários para evitar quedas e
graves lesões, sendo assim, não dá para treinar na instabilidade com o mesmo
peso que você usa normalmente, mesmo que seja muito habilidoso.
Portanto, um grande erro deste
artigo foi o de utilizar a mesma carga em todos os exercícios, deixando a
tarefa desafiadora na instabilidade e, ao mesmo tempo, muito fácil no
agachamento livre tradicional. Não é à toa que os resultados de ativação do
quadríceps estão errados.
BOSCO DE MELO, em 2008, fez esse
mesmo teste, porém, tornando a comparação muito mais justa e correta:
primeiramente, ele preparou a turma da instabilidade por algumas semanas, para
que eles adquirissem técnica de execução.
Posto isto, mediu qual o máximo
de carga que cada um dos sujeitos era capaz de agachar em cada uma das
condições (com ou sem estabilidade) e colocou todo mundo para fazer o teste
final, o da avaliação do trabalho, com 80% do maior peso que levantaram.
Reparem que, agora, a comparação
ficou muito mais adequada, pois ele não está analisando quantidade de peso em
si, por exemplo 50kg contra 50kg, mas sim a porcentagem de peso total, que no
caso é 80%. Em outras palavras, se no livre o cara aguenta, no máximo 100kg, a
carga do teste foi 80kg; por outro lado, se na instabilidade ele suporta até
45kg, na avaliação colocaram 36kg (80% de 45).
Passadas estas explicações, vamos
aos resultados: a ativação de quadríceps foi a mesma em todas as condições, com
ou sem instabilidade! Ou seja, o treinamento funcional não aumenta a ativação
de músculos agonistas, que são os principais responsáveis pela realização de um
movimento!
A única variação observada, mais
uma vez, foi na panturrilha, no músculo sóleo. Isto ocorreu, assim como no
trabalho citado anteriormente, porque se trata de um grupamento responsável por
estabilização do movimento: como a pessoa tinha de se equilibrar, ele
trabalhava mais, simples assim.
Outros dois trabalhos
interessantes que posso citar, dentro deste contexto do aumento da ativação de
músculos estabilizadores, sem influenciar agonistas, são:
- SNARR & ESCO, 2013: avaliaram o uso da flexão de braço
no chão, em comparação àquela executada com TRX (Total-body Resistance
eXercise), que seria uma instabilidade gerada por cabos/tiras que geram
suspensão (como ilustrado na primeira foto deste artigo), comum no treinamento funcional.
Nele, observaram que não há
diferença de ativação do músculo peitoral maior entre as modalidades, porém, no
que diz respeito ao deltoide anterior, responsável por orientar a articulação
glenoumeral (articulação do seu ombro), houve um aumento, indo de 59 para 81%.
- SEO et al., 2013: concluíram, através deste trabalho, que
os músculos estabilizadores da escápula trabalham mais intensamente na
instabilidade, melhorando o ritmo escapular. Isto pode ser interessante na
proteção da articulação do ombro, uma vez que o treinamento funcional pode
aumentar o espaço subacromial, diminuindo pinçamento. Em outras palavras, isto
quer dizer que ele pode incrementar o espaço por onde passam tendões embaixo do
osso acrômio, diminuindo as chances de eles serem prensados, o que causa dor,
tendinite e bursite (pois ali também há uma bursa).
Com estas informações, agora você
já sabe que dizer que o treinamento funcional aumenta o recrutamento muscular é
uma meia verdade, uma vez que esse incremento só ocorre nos chamados músculos
posturais ou estabilizadores, e não em músculos agonistas, que são os
principais responsáveis pela realização de movimentos alvos (exemplo: peitoral
maior no supino, grande dorsal em remadas, tríceps no pulley, etc.).
Por hoje, ficaremos por aqui. No
próximo artigo continuaremos a discussão mostrando quais os principais grupos
sociais que são beneficiados pelo uso do treinamento funcional. Até lá!
ATENÇÃO: Essa série contém 3 partes. Continue a leitura acessando:
- PARTE 2: O treinamento funcional aumenta a ativação muscular?
- PARTE 3: quais outras vantagens o treinamento funcional possui?/ Para quem ele é interessante?
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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