O QUE É TREINAMENTO FUNCIONAL E PARA QUE ELE SERVE – PARTE 3

Fala rapaziada!

No último artigo, vimos que dizer que o treinamento funcional aumenta o recrutamento muscular é uma meia verdade, uma vez que esse incremento só ocorre nos chamados músculos posturais ou estabilizadores, e não em músculos agonistas, que são os principais responsáveis pela realização de movimentos alvos. Hoje, iremos focar a discussão mostrando quais as principais populações que são beneficiadas pelo uso do treinamento funcional. Boa leitura!


3. QUAIS OUTRAS VANTAGENS O TREINAMENTO FUNCIONAL POSSUI?

Fora o que foi falado no último artigo, outra vantagem do treinamento funcional é que ele é capaz de aumentar a velocidade com que nosso corpo ativa os músculos e faz ajustes posturais, para mantermos o equilíbrio.

Sendo assim, ocorrem ganhos em propriocepção e em co-contração muscular antagônica, o que pode ser excelente para diversas atividades esportivas, como, por exemplo, modalidades de muito contato e disputa, feito artes marciais, rúgbi, handebol e, o mais famoso do país, futebol. Tenha em mente que, em todas elas, o praticante é exposto a todo momento a posições instáveis, devendo, portando, estar preparado a lidar com elas, para não cair, perder, ser superado pelo adversário ou mesmo se lesionar.

Além disso, e aqui foi uma descoberta incrível da área, as intervenções com alta complexidade motora, como é o caso do funcional, promovem neuroplasticidade e melhoram a função cognitiva e o controle motor em idosos saudáveis (Carey et al., 2005). Isto quer dizer que esse tipo de treinamento promove o estabelecimento de um maior número de sinapses (“ligações”) entre nossos neurônios.

Quando foram testar a descoberta em pacientes com Doença de Parkinson, que sofrem de uma grande perda neural e de controle motor, observaram que o programa pode ajudar no tratamento e na melhora da qualidade de vida deles.

O mais mágico aqui é que o treinamento de força tradicional, como a musculação, promove ganhos por adaptações neurais apenas nas primeiras 8 a 20 semanas de treino, que seria naquele intervalo de tempo onde você está aprendendo a coordenar os músculos e a realizar determinados movimentos. Depois cessam.

Com o funcional, a coisa acontece ininterruptamente, sendo assim, idosos e pacientes com doenças neurodegenerativas poderão colher benefícios em grande escala com a prática de exercícios em instabilidade.

Além disso, essa neuroplasticidade acontece numa velocidade muito mais rápida que na musculação, portanto, o único momento em que um indivíduo que visa a ganho de massa e de força e a perda de gordura poderia preferir o treino funcional às outras práticas seriam nessas primeiras semanas de treino, pois iria ser beneficiado por um ganho neural mais acentuado em menos tempo, podendo aumentar as cargas no treino mais rapidamente.

Porém, como disse, essa vantagem é bem temporária, sendo totalmente opcional, e desnecessária, a meu ver, haja vista que, no final, os resultados serão os mesmos. Além disso, só se pode aplicar instabilidade depois que a técnica do movimento foi perfeitamente dominada, coisa que também leva tempo, sendo assim, cá entre nós, no final das contas nem compensa muito fazer a substituição...


4. PARA QUEM ELE É INTERESSANTE?

Acho que essa resposta ficou meio óbvia, não? Porém, deixem-me comentar algo muito delicado que ainda não apareceu na série: força.

Aguda e cronicamente, ou seja, durante o treino e no longo prazo, o que se observa é que o treinamento funcional faz o indivíduo, que já era experiente, perder força, e, no novato, traz ganhos pequenos e tímidos se comparados a um programa normal. 

Isto acontece uma vez que, na presença da instabilidade, há uma concorrência por demanda atencional, pois parte da nossa atenção é canalizada na manutenção do equilíbrio, enquanto a outra, na produção de força.

Como tentar manter, de alguma forma, uma estabilidade é mais importante do que mover uma carga elevada, nosso corpo prioriza o equilíbrio, dando maior cuidado a ele, sendo assim, inevitavelmente, a força do sujeito acaba diminuindo. Expanda este cenário para meses e semanas e você entenderá parte do problema.

Então, amigo leitor, por que aloprei tanto a galera que fica fazendo treininho funcional por estética no início desta série?

Porque o público alvo dele, onde o programa realmente faz acontecer e promove coisas espetaculares, são os idosos, os indivíduos com doenças neurodegenerativas, como o Mal de Parkinson, os sujeitos lesionados e/ou em reabilitação, enfermos, atletas amadores e profissionais buscando performance incrementada, pessoas que querem melhora na qualidade de vida, etc. De forma simples, funcional seria mais útil para quem necessita de reabilitação ou de ganhos específicos em performance.

Um sujeito de 20-40 anos, saudável, sem nenhuma doença, que quer melhorar apenas esteticamente o corpo, por exemplo, perdendo gordura ou aumentando massa muscular, como é o perfil de quase 100% de quem frequenta academias e lê sites e revistas da área, vai se beneficiar em que treinando com instabilidade?

Bom, vai ter benefícios sim, mas os objetivos dele seriam mais bem atendidos com o treinamento de força tradicional, como a musculação, com um investimento de tempo e de dinheiro muito menores. Pagar de alternativo aqui, de engajado praticante da modinha da rede social é uma tremenda estupidez!

Seja esperto e nade contra a maré, não seja massa de manobra das grandes academias, das revistas fitness, que não passam de lixo em sua maioria, das musas da internet e de todos estes meios que vendem apenas desinformação!

Por outro lado, se você realmente acha divertido fazer treinamento funcional, gosta dele, sente-se bem e só quer sair do sedentarismo, não tendo objetivos como perda de gordura ou ganho de força, de massa muscular e de performance esportiva, então vá em frente, continue nele e seja feliz, afinal, quem sou eu para impedir! Tenha em mente que a minha crítica principal aqui é em relação à desinformação e aos praticantes de atividade física da moda!

Para finalizarmos, sendo você parte do grupo que colherá grandes benefícios com o treinamento funcional, ou mesmo alguém que apenas faz por gosto ou por lazer, tenha em mente que você precisa tomar o devido cuidado de treinar APENAS sob a orientação de um indivíduo COMPETENTE, que realmente sabe o que está fazendo com você, e não com aquele cara que aprendeu qualquer merda por aí, num curso de uma tarde, e já pensa que é o tal.

Outra coisa: jamais saia copiando essas coisas de treino funcional que esses palhaços que só querem chamar a atenção nas redes sociais fazem! Utilizar cargas consideráveis, com má técnica, má postura, instabilidade e sem instrução/acompanhamento são um prato cheio para adquirir lindas lesões, sendo assim, tudo que você irá conseguir com o treinamento funcional será... deixar de ser um indivíduo funcional! Fique atento e boa sorte!

ATENÇÃO: Essa série contém 3 partes. Continue a leitura acessando: 
- PARTE 1: O que é este meio de treinamento funcional?
- PARTE 2: O treinamento funcional aumenta a ativação muscular?
- PARTE 3: quais outras vantagens o treinamento funcional possui?/ Para quem ele é interessante?



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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Comentários

  1. Fernando, o que pensa dos tipos de treino de musculação que evitam ao máximo máquinas e exercícios isolados? Tem gente que prega que o treino deve ser composto em sua maioria por exercícios com pesos livre e que englobem vários músculos (agachamento, supino, etc). Qual sua visão?

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    1. As duas abordagens são igualmente boas, possuem prós e contras que vão depender do caso a caso, relacionando-se ao perfil do aluno. em outras palavras, não existe proibido nesse caso, mas sim um mais ou menos adequado que irá depender da situação em específico.
      Um bom profissional de educação física sabe como lidar dentro deste contexto.

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