CORRER PARA PERDER PESO É UMA ESTRATÉGIA EFICIENTE E SEGURA? – PARTE 6

Fala rapaziada!

No último artigo, falamos bastante sobre a questão do fortalecimento muscular como uma importante ferramenta para melhora de desempenho na corrida, assim como para prevenir lesões. Hoje, antes de encerrarmos esta série, será a vez de discutir acerca do treinamento de potência para incrementar sua performance. Boa leitura!


7. TREINANDO POTÊNCIA PARA MELHORARMOS O DESEMPENHO NA CORRIDA

Agora que já discutimos praticamente tudo sobre corrida, chegou o momento de entrarmos num tópico de nível mais elevado, cuja importância fica restrita a quem já treina faz tempo, ou seja, aos corredores experientes, uma vez que iniciantes não estão preparados para a sobrecarga gerada e devem se preocupar com coisas muito mais simples antes.

A ideia de treinarmos potência está relacionada com a questão da economia de movimento, que diz respeito à capacidade de manter o exercício numa determinada intensidade ao menor custo energético possível, o que nos permite prolongar o tempo da atividade ou mesmo realizá-la de forma mais rápida.

A ideia aqui é a de treinar o componente elástico muscular, de modo que ele melhore sua capacidade de armazenar e restituir energia, conforme discutido no artigo de pliometria que escrevi tempos atrás (clique AQUI para ler), que nada mais é do que um treinamento de potência.

Sendo assim, para realizarmos este tipo de programa, precisamos impor muita carga excêntrica ao músculo, “ensinando-o” a receber porrada e a armazená-la, porém, de forma que ele consiga restituí-la rapidamente, pois se não o fizer, ela acaba sendo dissipada.

Nos grandes centros de treinamento do mundo, que possuem alta tecnologia, um treino desses pode ser realizado numa esteira de overspeed, que nada mais é do que uma esteira de altíssima velocidade, onde o sujeito é fixado por cabos suspensos, a fim de protegê-lo quando não aguentar mais correr: neste caso, basta erguer as pernas, respirar um pouco e baixá-las quando se sentir preparado novamente. Observe a imagem ao lado.

A ideia do overspeed é a de criar velocidades altíssimas, gerando grandes impactos, obrigando os músculos a lidarem com eles, exercitando mecanismos de acúmulo e restituição de energia.

Porém, como para a maioria esmagadora do público fica totalmente inviável ter acesso a algo desse nível, a ideia seria utilizarmos estratégias alternativas, como, por exemplo, a da corrida em descidas/ladeira, pois é uma forma de simular o overspeed, uma vez que o declive aumenta bastante a porrada que recebemos, elevando a carga excêntrica. Além disso, como temos de ser rápidos, caso contrário corremos o risco de cair, a energia acumulada acaba sendo rapidamente reposta, preservando a essência do treinamento de potência.

Segundo trabalho dos pesquisadores Ebben et al., 2008, o grau de declinação ideal (caso você tenha acesso a uma esteira que faça declinação) para essa prática esportiva é de 5,8°, fato que aumenta nossa velocidade máxima em 7,09% e a aceleração, em 6,54%.

Como disse no início deste capítulo, essa abordagem é mais indicada a pessoas avançadas, pois estas já têm um nível de treinamento considerável, contando com estruturas corporais fortalecidas para lidarem com tanta sobrecarga. Além disso, é importante ter em mente que um treino com grandes cargas excêntricas causam o maior recrutamento muscular possível, rendendo dores absurdas no pós-treino. A título de exemplificação, a última vez em que fiz uma brincadeira dessas eu fiquei nada mais, nada menos, do que 8 dias com dor muscular tardia, por ter corrido numa esteira de alta velocidade dentro de 100% das minhas capacidades físicas.

Sendo assim, uma abordagem dessas deve ser muito bem pensada e planejada dentro da periodização do treinamento, pois a sobrecarga é gigantesca e um bom período de descanso pode se fazer necessário. O mesmo vale para a duração e intensidade do treino, portanto, pratique essas atividades apenas sob orientação de um treinador capacitado.

Apenas para fecharmos, já que falamos de corrida em descida, e a corrida na subida? Ela tem algum benefício também?

Sim, mas não dentro do treinamento de potência, já que os efeitos dela são totalmente opostos: a carga excêntrica é baixíssima e o tempo de contato com o solo é muito alto, o que faz dissipar energia.

Que pena, heim, amigo leitor?! Que pena nada! É justamente por conta dessas características que a corrida na subida pode ser interessante: por conta da carga excêntrica reduzida e por grande solicitação da panturrilha, as sobrecargas articulares acabam sendo diminuídas, o que faz dessa uma interessante estratégia contra elevados impactos, sobretudo em quem não está preparado. Além disso, como o ciclo de acúmulo e restituição de energia é quebrado, acabamos gastando muito mais energia do que o normal, o que torna esta prática interessante para perda de gordura corporal!


8. CURIOSIDADES

Antes de encerrarmos, gostaria de trazer algumas curiosidades interessantes:

- O ser humano mais rápido do mundo é o jamaicano Usain Bolt. Ele é detentor de diversos recordes incríveis, sendo o mais interessante o de ter percorrido 100 metros em 9,58 segundos. Para tanto, ele chegou a bater velocidades de aproximadamente 45km/h. Outra marca famosa foi a de superar os 200 metros em 19,19 segundos.

- No reino animal, o prêmio de mais rápido do mundo foi vencido pela Sara, um guepardo (espécie de felino). Em 2009, ela bateu o recorde mundial de velocidade, tendo percorrido 100 metros em 6,13 segundos! Como se não bastasse, em 2012 ela bateu seu próprio recorde, superando a mesma distância em meros 5,97 segundos!

Os guepardos são animais incríveis, capazes de correr em altas velocidades, chegando a alcançar 112km/h, porém, pagam um alto preço: em um tiro de 100m, chegam a gastar incríveis 500kcal, o que é um bocado perigoso, pois se eles falharem nas tentativas de caça, chegam a correr risco de sobrevivência, pelo elevado gasto energético investido e perdido.

- O avestruz também é capaz de realizar façanhas muito interessantes, chegando a bater 60km/h, porém, de forma sustentada, ao contrário do guepardo. Um dos motivos disto deriva da forma corporal dele, com centro de gravidade alto, patas bastante longas, grande comprimento de passada e alta capacidade de acumular e restituir energia, fatos que o tornam muito rápido e econômico!

- Vocês certamente já devem ter assistido a uma competição de atletismo paralímpico, onde os atletas, com diferentes graus de amputação, correm com próteses. A título de curiosidade, elas são feitas de fibra de carbono, que é um material que tem uma elevada capacidade de restituição de energia, cerca de 30% maior que a de nossos músculos e tendões, o que, em tese, acaba construindo um cenário bem parecido com o caso do avestruz, só que não tão rápido, obviamente.

É justamente por causa disso que esses corredores não podem participar de provas de atletismo tradicionais, com atletas com as pernas íntegras, sem amputação, uma vez que a competição ficaria desleal, pois a prótese traria uma vantagem, por ser mais eficiente que o corpo humano.


9. CONCLUSÃO

Ao longo destes 6 artigos, discutimos diversos aspectos interessantes do universo da corrida. Primeiramente, vimos que ela gera uma sobrecarga elevada em nosso aparelho locomotor, que é velocidade dependente, sendo assim, para que a pratiquemos devemos estar preparados, caso contrário é lesão na certa.

E por falar em lesão, segundo as estatísticas que vimos, cerca de 70% dos corredores se lesiona em menos de um ano de prática da atividade, fato facilmente justificado pela falta de instrução.

O maior vilão desse contexto é o aumento exagerado do volume de corrida, que responde, sozinho, por algo entre 50 e 75% das lesões. Outra característica diz respeito aos erros de intensidade de treino, que guardam relação com a velocidade utilizada e o desrespeito à fadiga muscular.

Continuando, vimos como a velocidade é aumentada na prática, por conta dos fatores comprimento e frequência de passada. Além disso, também discuti em detalhes todos os grupamentos musculares envolvidos na corrida, explicando a função de cada um, sugerindo, ao final, a utilização de estratégias de fortalecimento, como a musculação.

Para fechar, tivemos nossa conversa de hoje, abarcando o treinamento de potência para indivíduos experientes, pois esta é uma excelente forma de aumentar a velocidade de corrida, assim como sua duração.
Com isto encerramos mais esta gigantesca série e espero que todos tenham gostado e aprendido diversas coisas novas, sobretudo para evitarem lesões com a corrida. Caso seja corredor, ou queira se tornar um, e tenha ficado interessado nos assuntos, clique AQUI para conhecer a minha consultoria em corrida, que é um serviço à parte das consultorias em musculação, uma vez que é totalmente voltada para melhorar seu desempenho nessa atividade, com um planejamento minucioso e individual, a fim de evitar lesões, prolongando sua vida no esporte.  

Ficamos por aqui. Até a próxima série!

BIBLIOGRAFIA
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ATENÇÃO: Essa série contém 6 partes. Continue a leitura acessando: 
- PARTE 1: A biomecânica da corrida/ Corrida Vs. caminhada/ Corrida e os impressionantes índices de lesão
- PARTE 2: Por que tantas pessoas se lesionam praticando corrida?/ Volume de treinamento
- PARTE 3: Intensidade de treinamento/ Geometria de colocação de pé/ Velocidade
- PARTE 4: Fadiga/ Como aumentar a velocidade de corrida?
-PARTE 5: Quais músculos devemos fortalecer para melhorarmos o desempenho na corrida?
- PARTE 6: Treinando potência para melhorarmos o desempenho na corrida/ Curiosidades/ Conclusão


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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