Fala galera! Uma
pergunta que já me fizeram milhares de vezes na minha carreira como treinador é
se a ordem dos exercícios na musculação importa. Em outras palavras, o que os
alunos querem saber é se podem trocar a ordem dos exercícios que aparecem na
ficha de treino, por exemplo, pelo fato de o aparelho estar ocupado. Sendo
assim, através do presente artigo, tentarei sanar, de forma clara, esta dúvida
cruel!
A ORDEM DOS
EXERCÍCIOS NA MUSCULAÇÃO IMPORTA? PENSANDO EM INTENSIDADE
Em um artigo do
site referente aos erros comuns no treino de peito, acabei falando sobre este
tópico, porém, vamos retomar o raciocínio: acredito que muitos de vocês
sabem que existem exercícios monoarticulares e multiarticulares, ou seja,
aqueles que envolvem apenas uma articulação, como é o caso do tríceps na corda,
e aqueles que envolvem duas ou mais, como o agachamento, que tem a do
tornozelo, joelho e quadril na jogada.
(Observação:
quando falamos de membros inferiores, tecnicamente não se usa a nomenclatura
mono e multiarticulares, e sim, de cadeia cinética aberta e fechada,
respectivamente)
No caso do
peito, os monoarticulares clássicos são o crucifixo, o pec deck e o crossover,
todos eles sendo apenas variações do mesmo movimento – a adução horizontal,
movimento este realizado pelo peitoral, com carga muito baixa de deltoide e de
tríceps e bíceps que agem em isometria. Já em relação aos multiarticulares, os
casos mais famosos são o supino, dentre suas milhares de formas de execução, e
a flexão de braços no solo.
E por falar nos
supinos, apenas para relembrar um outro artigo meu do site, sobre as diferenças
entre eles, tenha em mente que o fator que lhes serve de contraste é o trabalho
de ombros, sendo mínimo no supino declinado, alto no reto e máximo no
inclinado.
Com estas
informações em mente, o que posso lhes dizer é que a ordem dos exercícios de
peito, por exemplo, pode sim ser muito importante, de modo a manter uma
intensidade crescente tanto de trabalho de peito, quanto de ombros.
Se o aluno vai
de um crucifixo para um supino inclinado, depois para um declinado, seguido de
um crossover e finalizado com um supino reto com halteres ele, basicamente:
começou com um baixo trabalho de peitoral e de deltoides, depois os aumentou
enormemente, aí manteve o peito bem alto no declinado, mas caiu absurdamente o
de ombros, posto isto, no crossover, caiu muito o peitoral e incrementou levemente o
ombro, para depois, na saideira, arregaçar peitoral e ombros novamente no
supino reto. Em uma única palavra: bagunça!
Sendo assim,
perceba que esse treino poderia ser mais bem estruturado da seguinte maneira:
crossover ou crucifixo, supino declinado, supino reto com halteres e supino
inclinado. Com isto, garantir-se-ia um trabalho crescente e/ou contínuo tanto
de peitoral como de deltoides, ao contrário de uma prescrição de treino aleatória, uma
loteria, um bingo de seleção de exercícios... E o pior, caro
leitor, é que na prática, muitos treinadores e entusiastas que nem são da
profissão, estão fazendo isto por aí...
Antes de encerrarmos, necessariamente o treino deve guardar uma ordem crescente de intensidade? A resposta é depende! Depende do perfil do aluno. Por exemplo, para um iniciante, pode ser uma estratégia interessante inserir exercícios de menor intensidade no meio do treino, ou mesmo para outros grupos musculares, a fim de evitar uma fadiga absurda que o impeça de continuar o protocolo do dia.
A ORDEM DOS
EXERCÍCIOS NA MUSCULAÇÃO IMPORTA? PENSANDO EM ATIVIDADE MUSCULAR
Agora que já
falamos sobre a importância da ordem dos exercícios na musculação no momento de
o treinador capacitado realizar uma prescrição, dedicar-nos-emos à discussão da
capacidade de ativação muscular ao invertermos a ordem dos exercícios.
A investigação de
SONCIN e colaboradores, 2014, grupo de pesquisa este do meu laboratório de biomecânica
da USP, comparou o nível de atividade dos músculos peitoral
maior, deltoide anterior e tríceps braquial cabeça longa dentro de duas formas
de realização do seguinte treino:
TREINO A: supino
reto, crucifixo reto, desenvolvimento para ombros, elevação lateral, supino
fechado para tríceps e tríceps testa. Todos 3x8.
TREINO B: o
mesmo que o treino A, porém, de trás para frente.
Resultado: a
atividade de todos os músculos citados variou com a troca da ordem dos
exercícios, conforme análise eletromiográfica realizada. O trabalho do peitoral
maior no crucifixo reto foi cerca de 19% menor na sequência B em comparação com
a A, enquanto que o de deltoide anterior foi cerca de 20% maior neste mesmo
exercício. No tríceps testa, o deltoide anterior foi ativado quase 20% mais na
sequência A do que na B. Por fim, em relação ao tríceps, apenas no desenvolvimento
para ombros ele mostrou diferenças: foi 14% maior no treino A.
Tendo isto em
mente, repare no impacto que a inversão da ordem dos exercícios teve no
resultado final. Com isto, podemos concluir que a ordem importa sim, pois a
capacidade de atividade dos músculos irá variar e isto parece estar atrelado ao
papel que cada um deles desempenha num determinado exercício. Uma hipótese é que
a sequência de treino do maior para o menor músculo exerça uma influência na
atividade neuromuscular, de modo que, quando um músculo agonista secundário ou
terciário estiver mais fadigado, o primário tenha de trabalhar mais e
vice-versa. Para ilustrar isto, na hipótese de tríceps e deltoides fadigados, o peitoral maior teria de trabalhar mais.
A fadiga também aumenta
a variabilidade de movimentos, mudando as estratégias biomecânicas de
coordenação, assim como o padrão de atividade muscular. Por exemplo, na
sequência A, ao realizar o tríceps testa, o tríceps estava tão fadigado que o
deltoide trabalhou 20% mais para auxiliar na estabilização durante o exercício.
O mais curioso é
que, intuitivamente, esperar-se-ia que os músculos feitos logo no início teriam
um trabalho maior do que no final, porém, isto não foi necessariamente
observado ao se inverter a ordem do treino.
Tendo todas as
informações trazidas neste artigo em mente, acredito que forneci muitos
subsídios para responder a pergunta sobre a importância da ordem dos exercício
na musculação e também para mostrar que esta mesma ordem pode ser utilizada
como uma estratégia para aumentar a atividade de determinados músculos ao longo
do treino, devendo assim, ser respeitada. Contudo, como é comum que um aparelho esteja ocupado e nem sempre será possível revesar, estratégias alternativas precisam ser pensadas e discutidas com o aluno.
Ficamos por
aqui! Até o próximo artigo!
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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