Esta crônica é para jogar merda no ventilador, portanto,
pense duas vezes antes de ler, afinal, você quer mesmo se sujar e/ou sentir
aquele maravilhoso aroma “bostoso”???
...
Sinto falta da época em que marombeiros puxavam ferro. Ninguém
malhava. A “malhação” era apenas uma novelinha escrotinha da TV, não uma
atividade física...
Saudades dos tempos em que parceiro de treino não era um
maldito celular, mas sim um ser humano. Graças a deus, ninguém tinha essa porra
desse aparelho, pois era muito caro...
Como eu odeio celulares...
Saudades de quando a roupa de treino era um moletom
vagabundo, uma camiseta velha com furo debaixo do braço ou uma regata surrada e
um tênis qualquer, normalmente velho e furado também...
Ninguém percebia se o seu calçado custava o equivalente a
10 anos em mensalidades do ginásio; se na sua camiseta estava escrito “no pain,
no gain”, “bananas de pijamas”, “#EsmagaGostosoQueEleCresce”, “#FicarSaradãoPoxa!”;
se o seu relógio podia te deixar invisível, tocar música, jogar purpurina aos
seus pés ou te teletransportar; se a sua calça de ginástica secava o próprio
suor, mascarava o cheiro do seu peido e escondia a sua bunda...
Nada disso era relevante! Ou melhor, retiro o que disse
quanto a “esconder a bunda”, isso sempre foi ansiosamente reparado...
O importante ali dentro era com quanto você supinava ou
agachava... Sim, as pessoas tinham o curioso hábito de fazer agachamento! Já
ouviu falar?! Esses marombeiros das antigas, viu... A-GA-CHAR!!! Cada uma (tsc,
tsc)!
Tinha até aquela palhaçada lá o... como era mesmo... ah, o
“levantamento da terra” ou algo assim, o exercício que foi proibido porque
deixa o cara aleijado, destrói a coluna e dá câncer, segundo pesquisas
realizadas com formigas, golfinhos e empinadores de pipa de final de semana
(Lendas Mitos et al., 1729).
Hoje em dia o esquema é praticar body-pump-aero-blast-plus-hidrofit,
aulas onde o cara dança, pula, escala, brinca, canta, dá pirueta recitando
poesia, faz artesanato e, se sobrar tempo, levanta uns quilinhos no aparelho
que monta o peso por você e ainda tem show de luzes.
Ai, ai, ai...
Saudades da época em que os instrutores de musculação
eram marombeiros de verdade e treinavam pesado. Hoje em dia, na maioria das
vezes, o que vemos são estagiários de educação física que nunca levantaram 1kg
na vida e estão lá apenas para cumprir crédito hora/trabalho da faculdade e
para paquerar as teens, também chamadas de ninfetinhas ou “di menores”.
Continuando, e piorando, temos também diversos caras
formados que exercem a profissão tendo por base um conhecimento 100% teórico, de
sala de aula, sem nunca terem sentido o que é fazer um supino, um
desenvolvimento frontal, uma rosca direta, um agachamento profundo até (quase)
vomitar. Lembrem-se: ferro e papel nem sempre são a mesma coisa...
“Poxa, mas no livro do Professor Titular Doutor Fulaninho
da Silva está escrito que proteína dá câncer e diminui o pênis, portanto, não
se deve comer mais do que 0,5g/kg por dia!!”.
Ok...
Saudades da época em que os ídolos da molecada eram o
Arnold e Cia, sendo que o tal de Zyzzy/ziss/Ziz/Xis nem era nascido. Lembro-me
de que no meu quarto eu tinha duas fotos do Arnold e uma do Mike Mentzer, sendo
o físico deste último, o que eu sonhava em ter quando garoto. Eu também era
fanático pelo Dorian Yates, sempre fui, na verdade...
Minha foto do Mike Mentzer |
Outro fato curioso da minha época era a resposta para a
pergunta: por que você começou a treinar? Uma parte considerável da galera,
inclusive os mais gigantescos, respondia apenas “Arnold”. Eu já era muito fã
dele, mas quem de fato me colocou no ginásio foi o Stallone, ou melhor, o Rocky
Balboa! O Van Damme também teve seu mérito, assumo...
Recordo também de que me perguntava quanto tempo
demoraria para ficar igual a eles e se era necessário tomar algum tipo de “vitamina/remédio”,
por exemplo um Supradin (multivitamínico e mineral) ou um Biotônico Fontoura...
Na dúvida, optei pelo Sustagen, para ver o que acontecia! Foda! Como a gente
era inocente (quantas risadas)!!! Bons tempos, bons tempos...
Saudades da época em que o pré-treino não existia ou era,
no máximo, uma xícara de café da Dona Florinda ou uma banana esmagada com
aveia. O pós-treino, então, nem se fala: eram as famosas vitaminas de leite com
frutas, que serviam de acompanhamento aos ovos com pão (na época do meu pai,
era gemada mesmo).
Lembro-me que beeeeeem no meu início, meu querido pai me
fez uma gemada, totalmente escondido, já que minha mãe havia proibido a prática
pois “dava salmonella”. Foi incrível: eu me senti o Rocky Balboa e sabia que
estava um passo mais próximo de alcançar o Arnold. Podia até jurar que meus 29,3cm
de braço haviam subido para incríveis 29,4cm depois daquele episódio
extremamente “underground”!
É fato que a turma daquela época podia nem saber
pronunciar corretamente “whey protein”, na verdade ninguém sabe, mas todos conheciam
a importância da comida para desenvolver força e crescer, assim como o valor de
um bom prato de pedreiro com alimentos de verdade.
Foto cedida pelo amigo Betão Marcatto, uma das pessoas a quem dedico este texto. |
Nem se falava nessa parada, que já até virou uma moda, de
“frango com batata doce”, já que nosso esquema sempre foi arroz-feijão com
carne. Até hoje fazemos assim, o querido “arroz-feijão” brasileiro.
Saudades da época em que o cara novo na academia não era
o tal do “frango filho da puta”, como gostam de aloprar hoje em dia: era apenas
um novato (gordinho ou magrelinho) que cedo ou tarde faria amizade com a galera
e ganharia um apelido. Se persistisse no esporte, ele seria aceito pelo grupo,
e não ridicularizado e tratado como lixo...
(Curioso como a conotação dessa palavra se diversificou
não? Nos dias de hoje, frango serve para tudo. Quero ver até onde essa porra
toda vai chegar... Tá faltando humildade para caráleo...)
Havia mais solidariedade no dia-a-dia, afinal, ser
marombeiro nunca foi fácil. Acredito que os frequentadores de ginásios se
respeitavam e se valorizavam MUITO mais do que atualmente. Sinto imensa falta
disso...
Tinha sempre um companheiro para te ajudar naquela
repetição extra do supino, além de te incentivar: você sabia que naquela época
se ajudava também com palavras? Não custava nada elevar o ânimo de seu parceiro
com um “vai, filha da puta, manda mais uma! Vai aromatizar, boiola? Desce até o
peito, viado!”. Depois, ao final da série: “Boa, irmão!! Destruiu!! Dá uma
olhada pra mim agora?!”.
Quem presta ajuda, hoje em dia, entra mudo e sai calado,
morrendo de raiva pelo fato de um “frango filho da puta me pedir ajuda e
estragar o meu treino/intervalo, justo na hora em que ia checar a mensagem que
recebi no meu iPhode 30! Que raiva!”...
Outro aspecto interessante era que os frequentadores de
uma academia eram, em sua maioria, marombeiros... Exatamente isto que você leu:
MA-ROM-BEI-ROS... Hoje em dia, esta espécie está ameaçada de extinção, sendo
bastante raro achar um marombeiro de verdade dentro de um ginásio: dá até para
contar nos dedos...
Por incrível que pareça, eu tenho saudades da época em
que ser marombeiro era, aos olhos da sociedade, sinônimo de ser “burro, ignorante e
brutamontes que injetavam bomba na veia e que bebiam gororobas do
liquidificador”. Juro para vocês!
O motivo é simples: infelizmente, nos dias de hoje, a
maioria esmagadora dos que “fazem academia” está lá para seguir uma moda, já
que a onda do momento é ser essa parada de “fisioculturistas ou boribíldi”.
Saudades da época em que a mensalidade do ginásio custava
20-30 reais, sendo os mais caros, o dos “boyzinhos”, como chamávamos, na faixa
de 60 conto. Hoje em dia, quase nem
academias temos mais, já que boa parte delas está passando por um processo de
industrialização e comércio de massas, virando um ponto de encontro, um local
de passeios/hobby, um símbolo de status, um verdadeiro shopping Center, ou até
uma balada, por que não?!
Digo isto pois já dei personal numa academia “moderninha”,
iluminada por uma luz especial azul e violeta, bem fraquinha, nem sei
descrever, mas me senti num puteiro de alto nível. Quando ia atender meu
cliente, eu sempre deixava alguns trocados no bolso, afinal, queria estar
preparado para o caso de rolar um strip, assim eu poderia me pagar algum
gracejo ou até uma dança no pós-treino, por que não?
Saudades da época em que o sujeito se matriculava numa
academia pelo simples fato de ela ter um hack de agachamento e halteres mega
pesados, e não por oferecer, já incluso na mensalidade, hidromassagem, judô,
capoeira, peteca, ballet, aula de artesanato e de dobradura, crochê, escultura
em argila, corte de cabelo mensal, manicure, guia semanal de novelas, terapia
de casais, dança de salão, zuka/zumba (é isso?), ping pong, inglês, body-hidro-pump-aero-kombatfit
e, por fim, a tal da malhação com halteres coloridos, bolas, elásticos,
argolas, canos, fitas, trepa-trepa, lantejoulas etc, etc, etc.
Meu maior medo, nos dias de hoje, é que aconteça com as
academias de bairro, o mesmo que rolou com os minimercados de outrora: sejam
engolidos pelos mega estabelecimentos... Lembram-se do que se passou com a
quitandinha do Sr. João lá da rua de baixo? E do mercadinho do Don Manoel? Pois
é, já nem existem mais: são apenas uma velha recordação dos habitantes do
bairro.
Reparem na enorme quantidade de redes/franquias de
qualquer merda que existem por aí e vocês entenderão o que falo: por que com a
musculação seria diferente? Foda, você vai virar um reles número e uma quantia
de $$$$$$$ reais no final do mês, se é que já não virou...
(Bateu um
saudosismo aqui daquelas antigas academias de ferreiro onde se tomava uma antitetânica
no primeiro dia e treinava-se que nem um gladiador.)
Não sei muito bem o porquê de ter dado vida a esta
crônica, mas foi um dos mais divertidos brainstorm que já fiz. Uma ideia foi
levando à outra e me deixei guiar pela escrita, pelo amor à musculação, viajando
por aqueles saudosos tempos de quando comecei a treinar: sem querer, vi que havia
criado este Frankenstein que desfere, sem dó, rajadas de merda no ventilador.
Apesar de estar com o coração partido, por conta de todos
estes castigos, maltratos e humilhações que a musculação vem sofrendo, fico
contente com a minha obra. Posso contar um segredo? Sabem o que eu vou fazer
até que todo este vapor merdoso abaixe?
Vou ficar aqui, à espreita, tentando fazer a diferença,
trabalhando com meus alunos, escrevendo meus textos, estudando, treinando
pesado, comendo, afinal, o maior problema das modas é que elas saem de... moda!
Em outras palavras, logo, logo, puxar ferro será algo
ultrapassado e os ginásios voltarão a ser majoritariamente habitados pelos
famigerados e queridos marombeiros “burros, ignorantes e brutamontes, que
injetam bomba na veia e que bebem gororobas do liquidificador”, assim chamados,
justamente, por sermos incompreendidos, por gostarmos de treinar, por termos
amor por este esporte, por este estilo de vida:
- Que saudades daquela musculação das antigas!
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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bacana seu texto....
ResponderExcluirSe vc é o cara burro, ignorante e brutamontes que escreveu isso, tenho até medo de um dia vc ficar inteligente, educado e sensível... vai dominar o mundo, cara...
ResponderExcluirhahaha valeu
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