CRÔNICAS DA MUSCULAÇÃO - VOLUME 11: OS FRANGOS DE PORTO SEGURO

Confesso que essa parada toda de Porto Seguro sempre me despertou uma enorme curiosidade, tanto que batizei o conjunto da “obra” como “O efeito porto seguro”. Não sei a idade do leitor que está lendo o texto, mas, na minha época, a viagem de Porto simbolizava um rito de passagem.


Para os pais, pelo menos para os mais inocentes, tratava-se de uma celebração do fim dos “duríssimos” anos de estudo do ensino médio, anos estes em que o filho tanto batalhou para colar nas provas sem ser visto, tanto se esforçou para beijar todas as meninas da sala, deu o sangue para tirar nota máxima em educação física e para dormir em sala sem ser visto. Isso, sem mencionar, as engenhosas matadas de aula!

Sendo assim, o coitado do pai orgulhosamente paga o pacote de viagem para PORTO SEGURO! Aí sim, heim, rapaziada!

Agora vem a parte dos jovens. O que é Porto Seguro?! Lá é um local onde “vale tudo”, sendo que nem a famigerada “Lei de Gil” é respeitada! Sei que estou um pouco desatualizado por não ser tão jovem, mas para a turma da década de 90, Porto significava:

- usar drogas, especialmente maconha;

- hidratar-se constantemente com álcool: quanto fdp não entrou em coma alcoólico no primeiro dia!

- pegar uma puta na zona: não tenho certeza, mas acho que elas ficavam numa tal de “Passarela do Álcool”. Lembro que um professor contou que um fdp da escola foi chorando até ele pedir ajuda porque brincou desprotegido, ou seja, descamisado!

- ir a todas as baladas do tour: na minha época, não tínhamos baladas exatamente como conhecemos hoje, sendo assim, lá o baguio era loko e havia a chance de ver como era.

- comer todas as meninas das outras escolas e, quem sabe, da sua própria: como eu me mantenho em contato com jovens adolescentes até os dias de hoje, já que são um público considerável nas academias, vejo que a libertinagem dos jovens dos anos 90, turma a qual eu pertenci, não passa de água com açúcar para a galera de hoje.

- ter caganeira (má rabugem) e intoxicação alimentar, por conta do excepcional serviço de saneamento básico da cidade.

Minha maior dó em relação aos pais é que eles não sabiam que aquela emocionante lágrima, vertida no aeroporto, não era pela alegria de ver seu filho(a) formado(a), mas por se despedirem da criança que um dia eles conheceram.  É aqui que entra a “magia de Porto Seguro”: as meninas viajam como meninas, e voltam como mulheres; os garotos, vão como meninos, e voltam como meninos (pois é, estes não têm jeito!).


Beleza, mas o que que essa porra toda tem a ver com musculação, Fernandão?!

Ok, vamos começar o texto pra valer agora. Se você analisar novamente os objetivos de um jovem em Porto, vai perceber que o principal é a metelança. Para tanto, como a viagem é curta (5-7 dias) a conquista tem de ser baseada nos sentidos, é pá-pum: olhou, gostou, pegou. olhou, gostou, pegou. olhou, gostou, pegou. olhou, gostou, pegou.

Sendo assim, na cabeça deles, o jeito seria trabalhar o corpo e ficar bombadinho. Acontece que esses putinhos só se dão conta disso nos meses de agosto/setembro. Como a viagem ocorre, tradicionalmente, nos meses de outubro/novembro, digamos que a empreitada fica impossível.

Aí, quem é marombeiro de verdade, depara-se sempre com um inesperado “boom” nas academias nessa época do ano, passando a treinar lado a lado com os famigerados “frangos de Porto Seguro”. Se até hoje você não entendia o porquê de aparecer uma criançada, do nada, no seu ginásio, agora entendeu...



As dúvidas mais comuns com as quais me assediavam eram: “eu consigo ficar grande em um ou dois meses?!?!?!. O que eu tomo pra ficar grande? Como faço pra ganhar braço?”.

Em poucos dias, esses coitados já percebiam que a chance de sucesso era menor do que zero, sendo assim, de fontes e formas inimagináveis, apareciam algumas drogas, sendo as mais famosas da minha época: winstrol (stanozolol), hemogenin, deca-durabolin e durateston e os otários começavam a usar, sem a menor ideia de como montar um ciclo, suplementar ou, o mais básico de tudo: comer! Iam apenas na deixa do amigo, do amigo, do primo, do vizinho, do irmão, do...


Resultado: não cresciam praticamente porra nenhuma. Meus casos favoritos, pena que não tão comuns, eram dos caras que ganhavam uma gineco antes da viagem. Esse estava fodido!, porque teria de ficar de camiseta o passeio todo e, na volta, procurar um médico para fazer a cirurgia.

Outro aspecto legal é que tinham caras que já iam com o fígado comprometido, formando um ótimo cenário para 25 horas de bebedeiras por dia.

Para completar, o melhor vem na volta aos treinos: o cara chega da viagem menor do que antes de começar a puxar ferro, todo desnutrido, desidratado, intoxicado, prostituído, doente, com DST, pálido e ao mesmo tempo todo queimado de sol, usando uma camiseta-abadá: “EU FUI”/”EU VOU”...

"Eu vou"... Vá é tomar no cu, isso sim!

“Porto Seguro!!
Nunca vou te esquecer, meu bem,
Me leva contigo,
Vem pra cá!
Eu só quero te amar!
Porto Seguro!!
Que saudade que dá!
Das ondas do teu mar,
Eu e você a namorar!”


OBSERVAÇÃO: só para adiantar, esta série tem continuação, afinal, quem vocês acham que vão ocupar o lugar dos frangos de porto seguro em meados de dezembro?! Os nossos queridos frangos de verão!!! Que já estão soltando as primeiras penas por aí! Até lá!


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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