Fala rapaziada!
O objetivo da presente coletânea de artigos será o de
discorrer acerca do tema biomecânica óssea. Porém, ao contrário do que o leitor
talvez esteja habituado, não farei a exposição visando a um auditório
acadêmico-científico, mas sim ao público em geral.
Faço isto pois é justamente este perfil de indivíduo que é o
mais vitimado pela indústria fitness, das modinhas nas redes sociais, etc.
Infelizmente, biomecânica, nos dias atuais, está se tornando
um termo que é utilizado como um mero recurso de argumentação de autoridade,
especialmente pelas “queridas” musas/blogueiras fitness, que encantam legiões
de adolescentes que as homenageiam, religiosamente, todos os dias no
banheiro...
Quem nunca viu aquela foto da “musa” na rede social, com o
decote todo aberto e farol, dando dicas de como ativar melhor um músculo num
determinado exercício e mencionar a biomecânica, complementando, logo na
sequência, com uma frase de impacto?
“Eu soh fasso agaixamento com tenis com saltinho. A
biomecanica mostra que assim eh o legal. Assim trabalho melhor o gastroquinêmio
e o femural. Viva a vida intensamente, como se ñ ouvesse amanha!
#esmagaquecresce”
Que dissabor, não?!
Pois bem, tentemos, então, sair do comum e passemos a
discutir, de forma caprichosamente clara e acessível, o que seria a biomecânica
e, posteriormente, entremos em biomecânica óssea, que será o cerne desta série.
Escolho dissertar sobre osso pois este é a base
constitucional do nosso aparelho locomotor. Além disso, é vítima de graves
incompreensões, especialmente por parte médica, e se encontra protagonizando
problemas de saúde pública no contexto do envelhecimento, especialmente no que
diz respeito à osteoporose e fraturas na terceira idade.
1. O QUE É BIOMECÂNICA?
“A biomecânica é uma disciplina que, entre as ciências
derivadas das ciências naturais, se ocupa de análises físicas de sistemas
biológicos, consequentemente, de análises físicas de movimentos do corpo
humano.
Assim,
através de suas áreas de conhecimento correlatas, pode-se analisar as causas e
fenômenos relacionados ao movimento humano.
Levando-se
em consideração cada uma das disciplinas que compõem seu espectro científico, a
biomecânica é apresentada como uma ciência multidisciplinar para a investigação
aplicada ao movimento humano. Essa estrutura se apresenta, devido à natureza de
seus estudos, num domínio dinâmico do conhecimento científico no qual sempre se
busca um novo aspecto e/ou explicações de fenômenos a partir de problemas
interdisciplinares.”
Tranquilo heim?! Depois dessa
explicação do professor Alberto Carlos Amadio, acredito que não seja necessário
comentar mais nada e já podemos partir para o próximo capítulo!
Acho que não né?!
Como vimos, biomecânica é uma ciência interdisciplinar, que
mistura diversas áreas do conhecimento, como física e biologia. Ela descreve e analisa o movimento humano e de
animais, utilizando-se de aplicações mecânicas (E aí? Saudades das aulas de
física do colégio?), levando em conta particularidades anatômicas e
fisiológicas do ser vivo.
Seus principais objetivos de área são:
- Otimizar o rendimento;
- Reduzir a sobrecarga nas estruturas corporais.
Posto isto, agora você já sabe que biomecânica não é nada de
outra mundo, muito menos algo que aparenta ser um neologismo, utilizado para
impressionar. Comecemos, então, depois de tanta enrolação, a discutir
sobre ossos.
2. CONHECENDO O OSSO
Conforme comentei, escolhi discorrer sobre ossos uma vez que
eles formam a base de sustentação de todo nosso aparelho locomotor, sendo a
porta de entrada para a compreensão do movimento humano e dos fatores que podem
interferir nesse sistema.
Bom, mas afinal, do que é feito o osso?
“Ah, Fernandão, essa
foi fácil! Osso é feito de cálcio!”
Pois é, infelizmente, boa parte das pessoas só conhece parte
da história e se dá por satisfeita... O cálcio é apenas um dos componentes
ósseos, certamente o mais famoso, porém, nem só deste mineral ele vive.
Podemos dividir o osso em três partes principais, a saber:
I.) MATRIZ INORGÂNICA: também chamada de matriz
mineral, é composta, especialmente, por cristais de hidroxiapatita, formada por
fosfato de cálcio, nesta bonita e fácil de decorar fórmula: (Ca10(PO4)6(OH)2).
É esta parte do osso que lhe confere o aspecto de rigidez.
II.) MATRIZ ORGÂNICA: composta por colágeno e pela
substância fundamental amorfa. É responsável pela flexibilidade/maleabilidade
do osso, tornando-o altamente resistente à tração.
III.) CELULAR: esta parte está organizada em três:
- Osteoblasto (OB):
célula que deposita matriz orgânica no osso, que, posteriormente, será
mineralizada. Trabalha, continuamente, remodelando nosso osso, tornando-o mais
denso e espesso.
Além disso, sofre importante estímulo durante o crescimento, nas lesões
(durante as fraturas, percebe-se rapidamente a formação de calo ósseo, que
representa um trabalho exacerbado do OB) e no exercício físico.
- Osteoclasto (OC):
célula gigante e multinucleada que produz enzimas que digerem a matriz orgânica
do osso, liberando cálcio para o plasma sanguíneo. Sendo assim, o OC trabalha com uma remodelagem negativa, reabsorvendo osso.
Essa liberação de cálcio é muito importante para o
metabolismo deste mineral em nosso organismo, já que ele é essencial para
funções vitais como contração muscular e condução de impulsos nervosos. Sendo
assim, o osso funciona como um reservatório dele.
Sua atuação se mostra acelerada durante o envelhecimento, na
falta de íons cálcio (para liberá-lo para uso, como vimos acima), quando
imobilizamos um membro, ficamos acamados e sedentários.
Isto acontece uma vez que para mantermos grande quantidade
de massa óssea, aumentamos o gasto energético, afinal, dará mais trabalho
carregá-la conosco. Então, como nosso aparelho locomotor é voltado para
economizar energia, haja vista que o processo de seleção natural privilegiou os
seres mais econômicos, acabamos por eliminar o que não é necessário.
- Osteócitos (OT):
células que um dia foram osteoblastos. Durante o processo de deposição, os OB
vão ficando presos na matriz orgânica, coitados, sem ter pra onde ir. Seria
como se você construísse uma casa por dentro e não fizesse portas para sair,
ficando enclausurado.
Nesta etapa, os antigos OB respondem por funções celulares
básicas, com comunicação com outras células, remoção de metabólitos,
metabolismo energético, etc.
Ficamos por aqui. No próximo artigo veremos como estudar o osso e se ele é vulnerável ao treinamento. Até lá!
ATENÇÃO: Essa série contém 6 partes. Continue a leitura acessando:
- parte 1: O que é biomecânica/ Conhecendo o osso.
- parte 2: Como estudar o osso/ Discutindo a vulnerabilidade óssea.
- parte 3: Discutindo a vulnerabilidade óssea (continuação).
- parte 4: Remodelagem óssea.
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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