DISCUSSÕES SOBRE BIOMECÂNICA ÓSSEA – PARTE 2

Fala rapaziada!

No último artigo, discutimos sobre o que é biomecânica e estudamos a fundo o que seria o osso, sua composição, etc. Hoje, iremos começar a discutir biomecânica óssea propriamente dita. Boa leitura!


3. COMO ESTUDAR O OSSO?

Já pararam para pensar nisso? Como estudar as propriedades físicas do osso humano?

Uma possibilidade interessante seria a análise da resistência de materiais, um ensaio mecânico, com aplicação de cargas em diferentes intensidades e orientações, de modo que possamos observar quanto do osso se deforma, quanto do material original se alterou.

Observe o gráfico abaixo: quais os pontos mais interessantes dele?
Primeiramente, o ponto de fratura, máximo stress que o osso suporta antes de romper. Outro, seria onde temos a mudança da fase elástica para a plástica, que simboliza a transição do ponto fisiológico para o de destruição.

Continuando, temos estas regiões assinaladas como fases elástica e plástica. Repare que no começo, temos uma alta variação de carga, porém, com uma pequena deformação óssea. Posteriormente, o processo se inverte, havendo uma alta deformação, com uma pequena variação na carga, uma vez que o osso perdeu rigidez.

Depois que entramos nessa zona plástica, clinicamente falando, é muito difícil não cairmos no ponto de fratura.

Este cenário é um pouco diferente em organismos em desenvolvimento (menores de 18 anos), haja vista que estes têm fases plásticas otimizadas, obtendo, numa lesão, o que se conhece popularmente por fratura em galho verde, onde não se chega a fraturar o osso como num adulto, mas a se fazer uma pequena fissura.

Terminada esta análise inicial, sobra a pertinente pergunta: quanto deste potencial nós utilizamos, ou seja, quanto desse limite de deformação óssea usamos? Estamos seguros?

A resposta é pouco, utilizamos uma fração muito pequena do nosso potencial e temos um alto limite de resistência. Além disso, se você observar um gráfico desses de antes e depois de um período considerável de atividade física, verá que o limite de carga suportado ficou maior, mantendo estável e fixa a margem segura de proteção do osso.

Para finalizar, observe a área abaixo do gráfico: quando calculada, ela representa o total de energia mecânica que o osso pode acumular ao ser solicitado.



4. DISCUTINDO VULNERABILIDADE ÓSSEA

Tendo em vista o gráfico do capítulo anterior, a impressão que fica é que o osso é inquebrável, porém, na prática sabemos que não é assim... Estranho, né?

De fato é muito difícil quebrar um osso de uma pessoa saudável em situações normais, no entanto, é importante ter em mente que ele possui algumas vulnerabilidades, pontos estes que serão explorados a partir de agora.

I) ACIDENTES: apesar da obviedade, decidi mencionar este aspecto por fins didáticos. Num acidente, como automobilístico, por exemplo, o impacto no osso pode ser tão grande, que supere, em muito, o ponto de fratura do gráfico do capítulo anterior, estraçalhando-o.

II) MAL PLANEJAMENTO DE TREINO: este tipo de lesão, também chamada de fratura por stress, acontece por má organização do programa de treinamento, com excesso de carga, sem respeitar os descansos planejados.

Quando treinamos, causamos microtraumas no osso, reparando-os durante o período de repouso. Tal processo ocorre de forma otimizada, não se limitando a sanar as pequenas lesões, mas também em tornar o tecido ainda mais resistente. O nome deste interessante fenômeno é supercompensação, que acredito que muitos já ouviram falar, especialmente quando o assunto é musculação.

Uma boa analogia que podemos fazer seria a de tampar um buraco no chão com cimento e deixar mais um pouco de massa por cima, para prejudicar a formação de um novo dano.

O revés deste cenário ocorre quando o atleta ou praticante de atividade física começa a não respeitar os períodos de descanso e/ou os sinais que o organismo dá, prejudicando a supercompensação. Sendo assim, o osso vai sofrendo lentamente, por um longo período, causando dores e desconfortos. Nos casos mais teimosos e imbecis, digamos assim, o infeliz que não respeita a supercompensação pode até ganhar uma pseudoartrose, nível grave que já não se consolida mais.

III) ANISOTROPIA: diz respeito a estruturas cujo comportamento mecânico depende da geometria de aplicação de carga. São estruturas vulneráveis àquelas aplicadas em determinadas angulações. No caso do osso, quanto mais próximo de 90° for o impacto, maior a chance de fratura, haja vista que a quantidade de energia mecânica que ele pode acumular é muito reduzida nessa posição. Observe o gráfico abaixo.
Talvez você esteja se perguntando: evolutivamente falando, isto não seria uma desvantagem? Por que a natureza não selecionou ossos aptos a se defenderem em todas as angulações?

Isto aconteceu uma vez que o osso “blindado”, perfeito, ficaria pesado demais, aumentando absurdamente o gasto calórico para nos locomovermos, fato que traria uma desvantagem evolutiva ainda maior. Sendo assim, digamos que o custo X benefício não valeria o sacrifício.

Ficamos por aqui. Continua...

ATENÇÃO: Essa série contém 6 partes. Continue a leitura acessando: 
- parte 1: O que é biomecânica/ Conhecendo o osso.
- parte 2: Como estudar o osso/ Discutindo a vulnerabilidade óssea.
- parte 3Discutindo a vulnerabilidade óssea (continuação).
- parte 4: Remodelagem óssea.
- parte 5: Qual a melhor atividade física a se praticar?/ Crescimento ósseo.
- parte 6: Envelhecimento/ Conclusão.

FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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