DISCUSSÕES SOBRE BIOMECÂNICA ÓSSEA – PARTE 3

Fala rapaziada!

No último artigo vimos como estudar o osso, além de uma parte de suas vulnerabilidades. Hoje iremos continuar o último capítulo. Boa leitura!

 4. DISCUTINDO VULNERABILIDADE ÓSSEA

CONTINUAÇÃO...

IV) FLEXÃO ÓSSEA E CONTRAINCLINAÇÃO: nossos ossos são constantemente solicitados nas atividades diárias. Em alguns casos, são submetidos frequentemente à flexão, como, por exemplo, no caso do fêmur.

O encaixe dele no quadril se dá sob o chamado ângulo-Q, que na mulher é ainda maior do que no homem, observe na figura abaixo:

Acontece que, devido a essa angulação, a carga afastada do eixo vai gerar um momento (produto da carga pela distância ou braço) de força flexor, que “puxa” a estrutura para baixo.

Para sanar o problema, precisamos de um contrapeso, que gere torque para o outro lado, de modo que a resultante dessas forças aplicadas seja a compressão, estímulo este que é aquele o qual o osso está mais adaptado a receber e se defende muito melhor.

Em outras palavras, o contrapeso vai tirar o osso da situação onde ele é vulnerável e colocá-lo onde é mais forte.

E agora vem a pergunta: quem é capaz de fazer esse papel? Os músculos!

Nesse exemplo do fêmur, o principal responsável pela contrainclinação é o glúteo médio. No caso da
tíbia, que também sofre fortes flexões, o trabalho de proteção fica por conta do tríceps sural, e por aí vai.


V) FREQUÊNCIA DE APLICAÇÃO DE CARGA: temos dois tipos a saber – a aplicação de carga em alta frequência, conhecida como dinâmica, e a em baixa, a estática.

Em sua opinião, o que é pior: jogar uma carga muito alta várias vezes no osso ou aplicar essa mesma carga mantendo-a por um tempo? Em outras palavras, o que é pior: carga estática ou carga dinâmica?

Sem dúvida nenhuma a dinâmica, Fernandão, afinal, ela vai trazer um impacto bem grande, várias vezes, enquanto a estática o causará uma vez só. Essa foi suave! Vou indo nessa pois você não está trazendo mais nada de novo...

Espera ramelão! Antes de ir embora, observe esse gráfico aqui comigo, referente à aplicação de carga numa tíbia:
Repare que, para uma mesma quantidade de deformação, a carga aplicada foi diferente entre as situações, tendo a modalidade dinâmica suportado um impacto muitíssimo maior do que a estática, desmentindo a teoria do nosso amigo acima.

Isso se dá por conta de um comportamento muito interessante de alguns tecidos biológicos nossos, como ossos, músculos e ligamentos, que são todos viscoelásticos.

A viscoelasticidade é uma característica que está num meio termo entre um sólido elástico e um líquido viscoso. Diz respeito a materiais taxa dependentes, cujas características dependem da taxa de aplicação de força, suportando muito melhor uma alta frequência do que uma baixa.

E aqui trago, novamente, o músculo na roda: ele não só nos ajuda naquela questão da contrainclinação, como também absorve energia mecânica na aplicação de carga, diminuindo a sobrecarga óssea.

O componente elástico responsável por isso é o colágeno presente no tecido conjuntivo, como nos tendões e epimísios.

Outro aspecto interessante é que essa energia acumulada na fase excêntrica do exercício pode ser liberada e usada como propulsão na fase concêntrica. Sendo assim, fortalecer a musculatura é imprescindível, uma vez que nos protege da sobrecarga, recupera funções biológicas e melhora a qualidade de vida.

Antes de encerrarmos, gostaria apenas de fazer uma ressalva: o músculo é muito bonzinho e nos protege, porém, existe um momento em que ele falha e todo esse processo vai por água abaixo. Sabe qual?


Na fadiga.

O músculo em fadiga não pode manter produção de movimento. A falência fará com que a proteção do sistema ósseo e articular seja reduzida. Além disso, ainda altera a técnica de movimento, piorando-a, vulnerabilizando ainda mais as estruturas.

Para que o leitor sinta melhor o drama, em atividades como corrida, a quantidade de impacto no aparelho locomotor pode aumentar até 40% por conta da fadiga muscular, sendo assim, o ideal seria planejar muito bem o programa de treinamento a fim de evitar lesões facilmente contornáveis.


Ficamos por aqui! No próximo artigo, discutiremos sobre remodelagem óssea. Até lá!

ATENÇÃO: Essa série contém 6 partes. Continue a leitura acessando: 
- parte 1: O que é biomecânica/ Conhecendo o osso.
- parte 2: Como estudar o osso/ Discutindo a vulnerabilidade óssea.
- parte 3Discutindo a vulnerabilidade óssea (continuação).
- parte 4: Remodelagem óssea.
- parte 5: Qual a melhor atividade física a se praticar?/ Crescimento ósseo.
- parte 6: Envelhecimento/ Conclusão.


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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