DISCUSSÕES SOBRE BIOMECÂNICA ÓSSEA – PARTE 4

Fala rapaziada!

No último artigo vimos como estudar o osso, além de suas vulnerabilidades. Hoje, será a vez de discutir remodelagem. Boa leitura!


5. REMODELAGEM ÓSSEA

Falamos um bocado sobre tragédias e pontos fracos. Agora chegou a vez de estudar os processos de fortalecimento do osso, ou seja, o que temos que fazer para ganhar massa óssea.

Remodelagem significa reestruturar o osso, tanto de forma negativa (reabsorvendo osso), quanto de forma positiva.

É fato que quando não usamos o osso, ele é reabsorvido. Pessoas em estado de hipocinesia, como no caso de alguém imobilizado ou acamado, podem perder até 1% da massa óssea por semana.
Imagine esse cenário se perpetuando por anos a fio e teremos, depois de 100 meses, um molusco certo? Um corpo todo molenga sem esqueleto?

Errado, afinal, você já viu alguém assim na vida real?! Existe um mecanismo de proteção corporal que freia as perdas quando elas chegam em 40%, é o chamado “steady state ósseo”, o ponto de equilíbrio do osso.

Imagine se seu corpo abrisse mão do esqueleto inteiro: nossos pulmões, coração, medula e cérebro ficariam totalmente desprotegidos, diminuindo as chances de sobrevivência. Sendo assim, quando perdemos os 40% a brincadeira acaba e o que sobra de osso é mantido.

Terminada esta pequena introdução, passemos a discutir os mecanismos pelos quais aumentamos nossa massa óssea:

I) PIEZOELETRICIDADE: já ouviram falar neste termo?

A piezoeletricidade é gerada na matriz inorgânica do osso, por conta dos cristais de hidroxiapatita. Tal efeito acontece da seguinte maneira: quando esses minerais recebem uma carga, sua geometria molecular se altera, uma vez que são muito sensíveis a este tipo de estímulo.

Posto isto, frente à carga, o cristal responde alterando seu campo eletromagnético, de tal sorte que, quando comprimido, gera um campo negativo; quando tracionado, positivo. Além disso, o efeito piezoelétrico é também sensível à intensidade de aplicação de carga, ao seu tipo e a sua frequência.

O estímulo mais importante que podemos utilizar é o da compressão, haja vista que, como gera um campo negativo, atrai íons cálcio, que são positivos, sinalizando também para que os osteoblastos venham e façam a construção óssea.

Complementando, vemos também que da piezoeletricidade decorre outro efeito já discutido nesta série, de grande importância para o osso: a alta frequência.

Conforme estudado, temos que ela se manifesta através da utilização de cargas mecânicas, não estáticas, promovendo, com isso, uma remodelagem óssea positiva. A título de ilustração, vejamos um exemplo onde o efeito piezoelétrico é retirado, para entendermos o drama da brincadeira: viagens espaciais.


Num passeio rotineiro como esse, o astronauta das antigas voltava para a terra com, acreditem, 25% menos massa óssea do que quando partiu. Como se não bastasse, essa quantidade absurda de cálcio perdida é eliminada pela urina, gerando lindas chances do desenvolvimento de insuficiência renal.

Para tentar resolver o problema, começaram a utilizar exercício físico, o que seria bem acertado, se não fosse pelas particularidades de remodelagem do osso.

A escolha se deu com exercícios de elástico, uma vez que o coeficiente de elasticidade independe de gravidade. Como esperado por nós, tal abordagem gerou apenas cargas internas, e não externas, resolvendo o problema da sarcopenia (perda de massa muscular) e não de osteopenia (perda de massa óssea).

A solução apareceu com a utilização de movimentos de centrifugação, uma vez que a força centrípeta criada simula força gravitacional, com forças externas, podendo desencadear, assim, os efeitos da remodelagem positiva.

II) INTENSIDADE: norteada pela homeostase, a intensidade refere-se à utilização de cargas acima do basal do indivíduo, ou seja, que o retirem da zona de conforto, do estímulo com o qual ele está totalmente familiarizado, a fim de desafiá-lo.

Por exemplo: você jamais vai conseguir curar osteopenia recomendando caminhada para alguém que já está acostumado a andar bastante durante o dia, como um idoso aposentado andarilho, que vai, diariamente, ao mercado, padaria, night club, açougue, bingo, boteco, bilhar, night club, farmácia, baile da saudade, etc.

Motivo disto é que para ele a caminhada seria algo rotineiro. Neste caso, o programa de exercícios precisa ser pensado, a fim de fornecer-lhe algo intenso...

III) ESPECIFICIDADE: infelizmente, aqui se encontra uma enorme "cu docisse" do nosso corpo...
Todos os nossos ossos requerem, individualmente, atenção de nossa parte, como se cada um deles fosse aquela namoradinha ciumenta. Se você não cuidar de todas elas, com muito carinho e mimo, elas vão embora, levando sua carteira, cartões, dinheiro e massa óssea.

Acontece que o efeito da remodelagem só acontece no osso que recebe estímulo, não em todos, tanto é que o nosso lado do corpo dominante possui mais massa óssea do que o não dominante, produzindo assimetrias.

A título de exemplificação, se você pratica apenas corridas, estará fixando massa óssea apenas nos membros inferiores e coluna, estando sujeito a desenvolver osteoporose nos membros superiores com o avanço da idade, caso não tome nenhuma providência.


Ficamos por aqui! No próximo artigo, veremos quais as melhores atividades físicas para ganharmos massa óssea. Até lá!


ATENÇÃO: Essa série contém 6 partes. Continue a leitura acessando: 
- parte 1: O que é biomecânica/ Conhecendo o osso.
- parte 2: Como estudar o osso/ Discutindo a vulnerabilidade óssea.
- parte 3Discutindo a vulnerabilidade óssea (continuação).
- parte 4: Remodelagem óssea.
- parte 5: Qual a melhor atividade física a se praticar?/ Crescimento ósseo.
- parte 6: Envelhecimento/ Conclusão.

FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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