Fala rapaziada!
No último artigo discutimos sobre
remodelagem óssea e a influência da piezoeletricidade, intensidade e
especificidade nesse contexto. Hoje será a vez de analisar se existe uma
atividade física ideal para ganhar massa óssea. Boa leitura!
6. QUAL A MELHOR
ATIVIDADE FÍSICA A SE PRATICAR?
Depois de tudo que mencionei,
acho bem comum que esta dúvida tenha surgido em sua cabeça: afinal, qual seria
a melhor atividade física que podemos escolher com o intuito de ganharmos massa
óssea e prevenirmos osteopenia?
A modalidade favorita,
especialmente dos médicos, é a tal da hidroginástica
ou alguma atividade na água, podendo, inclusive, ser natação.
Acontece que o idoso que recorre
a esta opção, por conta da péssima orientação profissional, não terá benefício
ósseo algum. A atividade em água não gera nenhum efeito piezoelétrico. Além disso, a menos que o indivíduo esteja tão debilitado que nem consiga ficar de pé, também não irá obter intensidade
satisfatória. Por fim, a especificidade também é comprometida.
O pior de tudo é que médicos e
profissionais da área da saúde com esse tipo de mentalidade ainda são muito
comuns. Como se não bastasse, ainda prescrevem programas de atividade física,
habilidade esta que é EXCLUSIVA do profissional de educação física. O mesmo
vale para fisioterapeutas e nutricionistas metidos a entendedores: fique longe
desses caras!
Alguns médicos com um ar mais
antenado às mudanças, tentando escapar dos modismos, vão recomendar a caminhada
para o idoso, porém, como vimos no capítulo
anterior, ela promove efeito piezoelétrico, mas falha quando o assunto
é especificidade, não ajudando em nada os membros superiores. Além disso, há
também a questão da intensidade, que pode falhar com aqueles idosos mais
ativos, que andam muito.
E agora, como proceder?
Se o leitor é um frequentador de
ginásios de musculação, deve ter percebido que o número de idosos treinando
aumentou muito de uns anos pra cá. O treino de força é de fato uma boa opção
para eles, como veremos no próximo capítulo, porém, no que tange à remodelagem
óssea, o efeito gerado não é completo.
No que diz respeito à
intensidade, estamos muito bem servidos pois as possibilidades de romper o
basal do indivíduo são infinitas, haja vista que basta aumentar a carga. Se a especificidade chega na
roda, sai muito bem servida, uma vez que podemos trabalhar o grupamento
muscular e ósseo que quisermos no treino. Compressão também está bonita,
porém, o problema começa quando o tópico é alta frequência, pois, infelizmente,
o treino de força está mais relacionado a cargas estáticas do que dinâmicas,
gerando baixa frequência.
Nossa, mas agora já era! Não tem
uma atividade perfeita e completa então?
Não.
Não tem?!?!
NÃO! E você, infelizmente, terá
de aceitar isso e não poderá cair nos papinhos das estrelinhas das redes
sociais, que adoram uma musculação circense para chamar a atenção e atrair
clientes que gostam de coisas bizarras e grotescas para pagarem de
“diferentes”.
Para fechar, a atividade perfeita
não existe, amigo leitor, pois dependemos de múltiplos estímulos para conseguirmos adaptação óssea de forma satisfatória. Além disso, devemos levar em
consideração os gostos pessoais da pessoa e trabalhar em cima deles,
acrescentando atividades complementares.
Não é porque natação não resolve
o problema da osteopenia que você vai impedir que façam essa
atividade, mesmo porque, ela promove trabalho cardiovascular e da musculatura esquelética! Basta complementá-la com outras
modalidades esportivas interessantes para remodelagem óssea, como o treino
de força e a corrida/trote.
7. CRESCIMENTO ÓSSEO
“Pô, de novo vai falar
sobre osso crescendo, Fernandão?!”
Tá inspirado, heim, ramelão?!
Até o momento, não falei nenhuma
vez em crescimento, mas sim em remodelagem. Como esse erro é comum, acho justo
fazermos uma distinção.
O crescimento é um processo
longitudinal, que impacta em estatura e acontece somente num determinado
período da vida (até que o disco epifisário seja calcificado), ao contrário da
remodelagem, que acontece ininterruptamente até morrermos.
Como deu parar perceber, crescimento
ocorre em jovens, crianças e adolescentes. O aparelho locomotor deles é
diferente do de um adulto, haja vista que possui muito menos matriz orgânica e,
proporcionalmente, mais colágeno.
Tais fatos conferem maior
flexibilidade ao osso e menor rigidez, deixando-o difícil de fraturar,
sendo que quando este fenômeno acontece, normalmente se mostra na forma de
fratura em galho verde: deforma mais do que quebra.
Se analisarmos aquele gráfico de
curva plástica e elástica de uma criança, veremos que seu limite de carga na
fase plástica é muito maior. Problema disso é que o fato de o osso não fraturar
acaba por desligar o sinal de alerta para lesões, aumentando as chances de
fazer deformações graves e permanentes, no estilo “lesão silenciosa”.
Você deve ter reparado acima que
mencionei um tal “disco epifisário”. Pois bem, faltou definir o que seja isso:
é uma estrutura, feita de cartilagem, que varia de acordo com zonas, sendo a
mais importante a de proliferação, que é onde acontece a biossíntese de massa
óssea.
O disco possui células que
garantem produção acentuada de osso, que é depositado gradativamente na região,
fazendo-o aumentar de tamanho. No caso dos ossos longos, tal fenômeno irá
impactar na estatura. Outro aspecto extremamente
relevante neste contexto é que a placa epifisária é muito frágil e sofre lesões
facilmente caso receba uma carga mal aplicada.
Existem 5 formas de lesá-la,
segundo estudo de 1964. Observe:
I- Cisalhamento: afastou as duas partes ósseas.
II- Cisalhamento e fratura oblíqua.
III- Lesão II intensificada.
IV- Lesão oblíqua completa, atingindo epífise e diáfise do
osso.
V- Esmagamento, por excessiva força compressiva.
As lesões I e II são as mais
comuns e em apenas 3-4% delas há sequelas, causando distúrbio de crescimento.
Já as outras, são mais graves, tendo a probabilidade de 20% de prejudicar
permanentemente o indivíduo.
Distúrbio de crescimento, ao
contrário do que muitos imaginam, não é deixar de crescer ou quem sabe virar um
anão ou um nanico. Ele envolve uma interrupção prematura do crescimento apenas
na peça óssea afetada. Além disso, gera angulações
ósseas anormais, desproporção no tamanho de segmentos correlatos (como pernas e
braços com tamanhos diferentes) e distúrbios articulares.
Se você analisar estes itens com
calma, perceberá que o problema é muito mais grave do que se o indivíduo
simplesmente não crescesse, haja vista que manteria a funcionalidade dos
segmentos corporais. Porém, o que acontece é que só o
osso afetado sofre distúrbio e os demais crescem normalmente, gerando diversas
desproporções e, quem sabe, inviabilizando o indivíduo a fazer tarefas básicas
como caminhas e segurar um objeto com a mão.
Sendo assim, deve-se tomar muito
cuidado ao prescrever atividade física para uma criança, haja vista que, se o trabalho
for mal executado, o treinador irá se tornar uma pessoa inesquecível na vida do
indivíduo, uma vez que lhe causou distúrbio de crescimento, prejudicando-o pelo
resto da vida.
O problema não está em nenhuma
modalidade esportiva em especial, mas na forma como a criança ou adolescente
irá dialogar com ela: é importante que se utilize uma carga de treinamento
baixa e adequada, na intensidade e volume corretos. Se tudo isto for respeitado, a
criança só irá colher benefícios, como o aumento de massa óssea, sem nenhum
efeito colateral ou chance de prejudicar o crescimento.
É importante ter em mente também
que não basta evitar atividades de alto impacto e achar que está tudo bem.
Modalidades como futebol e natação podem gerar altas cargas internas, como do músculo tracionando fortemente o osso, por exemplo, de modo que um tendão possa
lesionar o disco.
Para finalizar, outro aspecto
relevante seria o de incentivar a criança a praticar toda sorte de atividades
físicas, haja vista que é nessa fase da existência em que o repertório motor é
mais desenvolvido, impactando o indivíduo pelo resto da vida.
Ficamos por aqui. No próximo
artigo, que será o último da série, falaremos sobre os efeitos do
envelhecimento na saúde óssea. Até lá!
ATENÇÃO: Essa série contém 6 partes. Continue a leitura acessando:
- parte 1: O que é biomecânica/ Conhecendo o osso.
- parte 2: Como estudar o osso/ Discutindo a vulnerabilidade óssea.
- parte 3: Discutindo a vulnerabilidade óssea (continuação).
- parte 4: Remodelagem óssea.
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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