DISCUSSÕES SOBRE BIOMECÂNICA ÓSSEA – PARTE 6

Fala rapaziada!

No último artigo, discutimos sobre qual seria a melhor atividade física para praticarmos e ganharmos massa óssea. Hoje, para encerrarmos a série, veremos os efeitos do envelhecimento dentro deste contexto todo. Boa leitura!


8. ENVELHECIMENTO

O tecido do nosso corpo mais sensível ao envelhecimento é o ósseo. Nas mulheres, a coisa é ainda pior e acontece mais cedo, por conta do climatério: período onde começam as alterações hormonais que antecedem a menopausa.

Os dois maiores agravamentos que temos são:
- OSTEOPENIA: processo de perda de massa óssea. A remodelagem pode acontecer de forma circunstancial em qualquer fase da vida (exemplo: desnutrição, overtraining) ou mais contínua e duradoura, podendo, no entanto, ser reversível se corretamente trabalhada.

- OSTEOPOROSE: é o agravamento da osteopenia, sendo que o que separa as duas é a intensidade do fenômeno. Que fique claro que nem todo osteopênico desenvolve osteoporose, porém, quando o quadro se instala, a chance de revertê-lo é muito pequena.

Ocorre que as trabéculas ósseas vão sumindo e as remanescentes ficam extremamente finas, deixando o osso com um aspecto poroso, atributo que rende nome a esta maldita síndrome, que é uma das maiores epidemias atuais, ao lado da obesidade.
O maior problema da osteoporose é que a doença aumenta muito as chances de que o idoso sofra fraturas por queda. A coisa é tão grave que entre 30 e 50% das mulheres com osteoporose sofrem uma fratura após caírem, enquanto os homens ficam entre 15 e 30%.

Até os 30 anos, aproximadamente, continuamos ganhando massa óssea. As mulheres, porém, ficam sempre num patamar inferior ao dos homens, e não é por conta de machismo do cálcio, mas sim por fatores hormonais! Observe o gráfico abaixo:

Posto isto, até os 55 anos, nos homens, e 45 anos, nas mulheres, temos um momento de estabilidade de massa óssea. Depois, começa a tragédia e vem a taxa de decaimento, cuja velocidade é muito mais acentuada nas mulheres.

Voltando ao assunto das fraturas, os locais ósseos mais comuns de serem arregaçados são o colo do fêmur, a cabeça do úmero (mais especificamente o colo cirúrgico) e as extremidades distais de rádio e ulna.

O fêmur paga o preço quando o idoso cai sentado; os outros, quando cai de frente e, para se proteger, faz um anteparo com a mão no chão.

Bom, mas quebrou, engessou, recuperou: simples assim, certo? Se você for um leitor insensível e ignorante, provavelmente está pensando isso...

Pois é, mas como acredito que todos perceberam, não estamos falando sobre fraturas num moleque de 20 anos, mas sim em idosos. Neles, a brincadeira não se consolida de forma natural, tendo o reparo que ser feito via cirúrgica, através da fixação de uma parte do osso na outra, com pinos.

Obviamente, o processo não é feito em casa ou na farmácia, mas no hospital e requer o uso de anestesia, primeiro problema da história, já que sempre há risco de morte por conta desse procedimento, especialmente em idosos.

Para completar, ainda há o problema de infecção hospitalar e do desenvolvimento de doenças cardiopulmonares pelo tempo de recuperação acamado. Fora o período de reabilitação...

Some todo este cenário e chegaremos a um índice de mortalidade de 25% do número de idosos que sofrem fratura! E você aí pensando que era suave, “só engessar”...

Caramba, coitados dos idosos... E não há como ajudá-los, Fernandão?! Minha avó, tia, prima, cunhada, irmã, mulher, namorada e amante, todas elas, têm osteoporose! Como irei ajudá-las?!

O problema é bastante complexo de se resolver, mas a resposta está no exercício físico, como já era de se imaginar.

As pesquisas divergem, tendo algumas que mostram que é possível reverter o processo, ao menos em parte, com o exercício. Outras, que só é possível brecá-lo. Há ainda aquelas que apontam que nada pode ser feito para evitar o problema... Porém, uma coisa é fato:

Um estudo de treinamento de força apontou que mesmo não havendo significativa variação no ganho de massa óssea, ocorreu um grande aumento de força muscular.


Força é uma das capacidades físicas mais estáveis na vida do ser humano, podendo ser trabalhada ao longo da vida toda, ao contrário de velocidade, agilidade e potência. A vantagem disso é que o músculo fica mais forte e aumenta a absorção de energia mecânica, protegendo o osso ao diminuir a sobrecarga. Além disso, também aumenta a estabilidade, reduzindo as chances de queda e, consequentemente, de fraturas, coisa que já sabemos ser muito perigosa nessa idade.

Para completar, esse incremento muscular e de força ainda aumentará o tempo de vida útil do idoso, de modo que ele tenha capacidade de cuidar de suas próprias coisas sozinho, melhorando sua inserção social e qualidade de vida.

Existe ainda uma outra alternativa, que vale a pena ser comentada, mas que é de delicada aplicação: reposição hormonal.

Ah, eu já faço, Fernandão!

Não é dessa “reposição” em altas dosagens, vulgo ciclo, que eu estou falando não, ramelão, mas sim de utilizar pequenas doses hormonais para repor o que o indivíduo já não sintetiza mais normalmente. Essa brincadeira de fato funciona e de dá bons resultados, porém, possui um grave efeito colateral: se a pessoa tem pré-disposição a desenvolver tumores, aumentará as chances de tê-los com a reposição. Sendo assim, é importante que se analise caso a caso, especialmente o histórico familiar do indivíduo antes de tomar uma decisão desse tipo.

Tanto é que esta nem é a melhor estratégia utilizada pelos países desenvolvidos, mas sim a de não deixar que as mulheres cheguem à terceira idade sem praticar exercício físico. Para tanto, utilizam-se de campanhas voltadas a mulheres adultas jovens.


9. CONCLUSÃO

Vimos, ao longo da série, que o osso é um tecido biológico composto não apenas por cálcio, mas por matriz orgânica e células. Dependendo do estilo de vida do indivíduo, ele terá mais ou menos massa óssea.

De acordo com o estudado, o envelhecimento, o sedentarismo, a imobilização e a recuperação de doenças de forma acamada acabam por nos fazer perder bastante osso. Além disso, temos também alguns pontos importantes de vulnerabilidade, que seriam um mal planejamento de treino, a anisotropia, a flexão sem contrainclinação e a altíssima frequência de carga no contexto da viscoelasticidade.

Para combater a perda, temos os processos de ganho, que devem contemplar o efeito compressão e alta frequência (mecanismos derivados da piezoeletricidade), intensidade e especificidade.

Vimos também que não existe “a melhor atividade física de todas” quando o assunto é ganho de massa óssea, mas sim atividades que podem se complementar num programa a ponto de gerar o efeito desejado.

Para finalizar, estudamos envelhecimento e crescimento ósseo, dois cenários antagônicos, mas com algumas limitações, pontos delicados e pontos em comum, originários dos benefícios da atividade física.

Espero que tenham aproveitado a leitura desta série. Ficamos por aqui. Até a próxima!

ATENÇÃO: Essa série contém 6 partes. Continue a leitura acessando: 
- parte 1: O que é biomecânica/ Conhecendo o osso.
- parte 2: Como estudar o osso/ Discutindo a vulnerabilidade óssea.
- parte 3Discutindo a vulnerabilidade óssea (continuação).
- parte 4: Remodelagem óssea.
- parte 5: Qual a melhor atividade física a se praticar?/ Crescimento ósseo.
- parte 6: Envelhecimento/ Conclusão.


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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