Fala rapaziada!
No último artigo vimos as
vantagens de se usar eletromiografia para analisar a atividade muscular em relação
à ressonância magnética e também sobre a importância de uma padronização quanto à
colocação dos eletrodos. Continuemos, então, nossa discussão. Boa leitura!
6. ELETROMIOGRAFIA TAMBÉM INDICA FORÇA MUSCULAR?
Essa é uma perguntinha perigosa, que merece
uma discussão especial. A informação que a
eletromiografia gera pode sim nos permitir fazer alguma relação com força,
porém, é importante ter em mente que esta correlação não é precisa!
A geração de atividade muscular é
apenas uma parte de um fenômeno muito mais complexo, que envolve uma série de
outros aspectos, não nos permitindo generalizar ou filosofar muito sobre os
dados obtidos.
Por exemplo, existe uma coisa
chamada alavanca, que estudamos na biomecânica, sendo um fenômeno que pode
gerar maior ou menor torque potente, dependendo da fase do movimento (tem um
artigo apenas sobre isso no site. Clique AQUI)
e da posição articular.
Além disso, dependendo do
comprimento que o seu músculo se encontra durante uma etapa da contração, ele
poderá produzir mais ou menos força. Durante o início e fim do movimento, temos
menor interação entre as pontes de actina e miosina, fato que gera menor
produção de força. Por outro lado, conforme vamos nos aproximando da metade, a
interação fica bem maior.
Continuando, temos ainda a
questão do sinergismo muscular, dado que muitos músculos podem participar de um
mesmo movimento, sendo a somatória da força gerada por cada um deles a carga
total que você conseguirá movimentar.
Postos estes comentários, agora
você entende que EMG até tem relação com força, porém, é um fator muito cru e
superficial para permitir qualquer tipo de análise mais detalhada. Se o objetivo for medir força, o
campo de verificação é a dinamometria, não a eletromiografia.
7. OBTENDO O SINAL
I. SINAL ORIGINAL/BRUTO
A leitura que obtemos durante a
medição é um sinal bruto, também chamado de original. Na verdade, trata-se de uma
medida que traz todos os sinais misturados, sem tratamento algum, que serve
apenas para ver se o músculo está ou não ativo, ou seja, mostra um
“liga/desliga” muscular.
Através dele, é impossível
afirmar se o músculo está muito ou pouco ativo, seja em relação a si mesmo ou a
outros grupamentos.
Eu já vi artigos e textos por aí
que usavam sinais assim para dizer que o músculo ativa tanto ou que ativava
muito num determinado exercício, porém, como vimos, não é possível
afirmar nada numa situação dessas, haja vista que o sensor acaba captando,
durante a medida, diversas interferências.
Uma delas é a do próprio
ambiente, captando o campo eletromagnético do local. Além disso, conforme já
discutido, a leitura varia dependendo do local onde se coloca o eletrodo. O sinal ainda depende da camada
de gordura que está sobre o músculo, da acidose muscular e, por fim, ainda
temos um outro tipo de interferência chamada cross-talk, que se refere à
captação da atividade elétrica de músculos vizinhos ao que está com um eletrodo
acoplado.
II. RETIFICAÇÃO
O processo de retificação é um
tratamento no qual se pega a fase negativa do gráfico (a que fica abaixo do
eixo das abscissas, ou eixo X, ou, ainda, da vertical, como preferir) e a
cancela, seja transferindo este trecho para a fase negativa, seja simplesmente
apagando-o, ignorando-o da leitura.
O primeiro destes dois últimos
processos que citei se chama Onda-cheia e calcula o sinal negativo em módulo. O
segundo, por sua vez, é conhecido por meia-onda, porém, ele não é muito bom
pois, quando simplesmente apagamos o sinal, perdemos informação, leitura.
Você só vai saber qual o processo
utilizado através do próprio autor do artigo científico, haja vista que, apenas
olhando o gráfico finalizado, não é possível inferir nada a respeito do método
utilizado.
Para encerrar, a ideia da
retificação é tornar mais fácil a análise das fases do movimento.
III. FILTRAÇÃO
Conforme discutido no item I, o
sinal colhido vem com uma série de interferências, que dificultam sua correta
leitura, sendo assim, após retificação, é necessário filtrá-lo, retirando os
“ruídos” captados.
A ideia é a mesma da de um coador
de café, quando você côa a bebida, de modo que o líquido com a parte solúvel
passe, mas o pó fique retido. Sendo assim, o filtro na EMG vai reter a
interferência em si mesmo, e deixará passar o sinal que nos interessa. Na prática, o que ocorre é a
utilização de um filtro digital que trabalha através de processamentos
matemáticos que usam um crivo baseado na frequência, em Hertz, do sinal
captado.
Como sabemos que a frequência de
disparo muscular é por volta de 40Hz, podemos rejeitar sinais que estejam fora
de um limite desta região. Por exemplo, há um tipo chamado “Filtro Notch” que
ignora frequências de 60Hz, pois sabe-se, na prática, que este ponto
normalmente está associado a interferências do ambiente.
Temos também o filtro “passa
banda”, que mantém todo o sinal captado dentro de uma determinada frequência,
como, por exemplo, 20 a 400Hz, e exclui todo o resto da leitura. Um ponto
interessante aqui é que ele pode ser combinado com o “filtro Notch”, promovendo
uma leitura mais seletiva ainda.
Por fim, também existem os
filtros “passa alta” e “passa baixa”. No primeiro, estipula-se um valor de
frequência e se ignora tudo que for captado abaixo dela; no segundo, o processo
é exatamente o contrário, apagando tudo que for acima de um determinado valor.
A escolha do filtro a ser
utilizado vai depender do tipo e da natureza do sinal que será coletado no
trabalho realizado, sendo assim, o mais adequado ou menos adequado varia caso a
caso.
Depois que estes três processos
de obtenção do sinal forem realizados, teremos o “envelope/envoltório linear do
músculo X”, onde “X” é o nome do músculo analisado. Este termo significa que
aquela informação que você está lendo foi devidamente analisada e tratada,
tornando-se, de fato, um dado que permite algum tipo de conclusão.
Ficamos por aqui e encerraremos a série no próximo artigo, onde discutiremos como interpretar os sinais obtidos. Até lá!
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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