O QUE É ELETROMIOGRAFIA E PARA QUE ELA SERVE? – PARTE 3

Fala rapaziada!

No último artigo vimos as vantagens de se usar eletromiografia para analisar a atividade muscular em relação à ressonância magnética e também sobre a importância de uma padronização quanto à colocação dos eletrodos. Continuemos, então, nossa discussão. Boa leitura!


6. ELETROMIOGRAFIA TAMBÉM INDICA FORÇA MUSCULAR?

Essa é uma perguntinha perigosa, que merece uma discussão especial. A informação que a eletromiografia gera pode sim nos permitir fazer alguma relação com força, porém, é importante ter em mente que esta correlação não é precisa!

A geração de atividade muscular é apenas uma parte de um fenômeno muito mais complexo, que envolve uma série de outros aspectos, não nos permitindo generalizar ou filosofar muito sobre os dados obtidos.

Por exemplo, existe uma coisa chamada alavanca, que estudamos na biomecânica, sendo um fenômeno que pode gerar maior ou menor torque potente, dependendo da fase do movimento (tem um artigo apenas sobre isso no site. Clique AQUI) e da posição articular.

Além disso, dependendo do comprimento que o seu músculo se encontra durante uma etapa da contração, ele poderá produzir mais ou menos força. Durante o início e fim do movimento, temos menor interação entre as pontes de actina e miosina, fato que gera menor produção de força. Por outro lado, conforme vamos nos aproximando da metade, a interação fica bem maior.

Continuando, temos ainda a questão do sinergismo muscular, dado que muitos músculos podem participar de um mesmo movimento, sendo a somatória da força gerada por cada um deles a carga total que você conseguirá movimentar.

Postos estes comentários, agora você entende que EMG até tem relação com força, porém, é um fator muito cru e superficial para permitir qualquer tipo de análise mais detalhada. Se o objetivo for medir força, o campo de verificação é a dinamometria, não a eletromiografia.


7. OBTENDO O SINAL

I. SINAL ORIGINAL/BRUTO

A leitura que obtemos durante a medição é um sinal bruto, também chamado de original. Na verdade, trata-se de uma medida que traz todos os sinais misturados, sem tratamento algum, que serve apenas para ver se o músculo está ou não ativo, ou seja, mostra um “liga/desliga” muscular.

Através dele, é impossível afirmar se o músculo está muito ou pouco ativo, seja em relação a si mesmo ou a outros grupamentos.

Eu já vi artigos e textos por aí que usavam sinais assim para dizer que o músculo ativa tanto ou que ativava muito num determinado exercício, porém, como vimos, não é possível afirmar nada numa situação dessas, haja vista que o sensor acaba captando, durante a medida, diversas interferências.

Uma delas é a do próprio ambiente, captando o campo eletromagnético do local. Além disso, conforme já discutido, a leitura varia dependendo do local onde se coloca o eletrodo. O sinal ainda depende da camada de gordura que está sobre o músculo, da acidose muscular e, por fim, ainda temos um outro tipo de interferência chamada cross-talk, que se refere à captação da atividade elétrica de músculos vizinhos ao que está com um eletrodo acoplado.

II. RETIFICAÇÃO
O processo de retificação é um tratamento no qual se pega a fase negativa do gráfico (a que fica abaixo do eixo das abscissas, ou eixo X, ou, ainda, da vertical, como preferir) e a cancela, seja transferindo este trecho para a fase negativa, seja simplesmente apagando-o, ignorando-o da leitura.

O primeiro destes dois últimos processos que citei se chama Onda-cheia e calcula o sinal negativo em módulo. O segundo, por sua vez, é conhecido por meia-onda, porém, ele não é muito bom pois, quando simplesmente apagamos o sinal, perdemos informação, leitura.

Você só vai saber qual o processo utilizado através do próprio autor do artigo científico, haja vista que, apenas olhando o gráfico finalizado, não é possível inferir nada a respeito do método utilizado.
Para encerrar, a ideia da retificação é tornar mais fácil a análise das fases do movimento.



III. FILTRAÇÃO
Conforme discutido no item I, o sinal colhido vem com uma série de interferências, que dificultam sua correta leitura, sendo assim, após retificação, é necessário filtrá-lo, retirando os “ruídos” captados.

A ideia é a mesma da de um coador de café, quando você côa a bebida, de modo que o líquido com a parte solúvel passe, mas o pó fique retido. Sendo assim, o filtro na EMG vai reter a interferência em si mesmo, e deixará passar o sinal que nos interessa. Na prática, o que ocorre é a utilização de um filtro digital que trabalha através de processamentos matemáticos que usam um crivo baseado na frequência, em Hertz, do sinal captado.

Como sabemos que a frequência de disparo muscular é por volta de 40Hz, podemos rejeitar sinais que estejam fora de um limite desta região. Por exemplo, há um tipo chamado “Filtro Notch” que ignora frequências de 60Hz, pois sabe-se, na prática, que este ponto normalmente está associado a interferências do ambiente.

Temos também o filtro “passa banda”, que mantém todo o sinal captado dentro de uma determinada frequência, como, por exemplo, 20 a 400Hz, e exclui todo o resto da leitura. Um ponto interessante aqui é que ele pode ser combinado com o “filtro Notch”, promovendo uma leitura mais seletiva ainda.

Por fim, também existem os filtros “passa alta” e “passa baixa”. No primeiro, estipula-se um valor de frequência e se ignora tudo que for captado abaixo dela; no segundo, o processo é exatamente o contrário, apagando tudo que for acima de um determinado valor.

A escolha do filtro a ser utilizado vai depender do tipo e da natureza do sinal que será coletado no trabalho realizado, sendo assim, o mais adequado ou menos adequado varia caso a caso.

Depois que estes três processos de obtenção do sinal forem realizados, teremos o “envelope/envoltório linear do músculo X”, onde “X” é o nome do músculo analisado. Este termo significa que aquela informação que você está lendo foi devidamente analisada e tratada, tornando-se, de fato, um dado que permite algum tipo de conclusão.

Ficamos por aqui e encerraremos a série no próximo artigo, onde discutiremos como interpretar os sinais obtidos. Até lá!


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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