O QUE É ELETROMIOGRAFIA E PARA QUE ELA SERVE? – PARTE 4

Fala rapaziada!

No artigo anterior, discutimos se a EMG serve para expressar força muscular e vimos também o que fazer com o sinal obtido pela medição, já que ele precisa ser filtrado e tratado. Hoje, encerraremos a série falando sobre alguns tópicos avançados. Boa leitura!


8. QUANTIFICANDO O SINAL

A informação obtida com o envoltório linear, como disse no final do último capítulo, é um dado que permite ser analisado com segurança, haja vista que passou por um adequado tratamento antes. Porém, ele serve apenas para ver coordenação muscular, não dando ideia alguma sobre intensidade, sendo assim, precisamos quantificar matematicamente o resultado para melhor entendermos sua magnitude.

- ROOT MEAN SQUARE (RMS): trata-se de um processamento matemático que melhor correlação tem com intensidade, sendo obtido elevando-se a somatória de todas as frequências no tempo ao quadrado, com posterior extração da raiz quadrada.

- CÁLCULO INTEGRAL: também possui boa correlação com intensidade e é obtido através do cálculo da área do sinal no gráfico.

Sei que estas informações foram bem viajadas para a maioria das pessoas, porém, quis citar apenas para deixar a leitura do tema mais completa.


9. ANÁLISE ESPECTRAL

Este tópico também entra como curiosidade, sendo bastante interessante a meu ver: podemos plotar os sinais no gráfico não só em função do tempo, mas também da frequência dele, de tal sorte que ele nos mostre como estão distribuídas as frequências na medição realizada.

Se soubermos onde se concentram os sinais, poderemos melhor escolher o filtro que será utilizado para tratar os dados. Além disso, a análise espectral permite melhor avaliar o movimento no que diz respeito à questão da fadiga muscular, haja vista que quando fadigado, o músculo muda sua frequência.

Para finalizar, a técnica é tão interessante que permite, inclusive, ver predomínio de tipos de fibra muscular, haja vista que fibras lentas possuem frequência mais baixa.


10. NORMALIZANDO O SINAL

Posto isto, temos que usar um processo de normalização, para verificar quantos % o músculo trabalhou num determinado exercício que se queira avaliar.

Como este é um dos pontos mais explorados por aí, uma vez que é esta a informação que será fornecida em todos os livros, sites e revistas com que o leitor deve ter contato, recomendo que preste bastante atenção, afinal, você já parou para pensar que porra que significa “o glúteo máximo trabalhou 58% no exercício tal”?

Comparar informações diferentes é algo que não pode ser feito de qualquer jeito, afinal... são coisas diferentes! Como você vai querer analisar o músculo latíssimo do dorso em relação ao reto abdominal se eles não se parecem em nada?! O tamanho não bate, a localização, a atuação, o tipo e disposição das fibras, etc, etc, etc.

Complicado, não?



Sendo assim, necessitamos estabelecer um processo de normalização que permita colocar todos os envolvidos num mesmo patamar, fato que lhes possibilite competir em pé de igualdade um com o outro, viabilizando o estabelecimento de conclusões corretas e pertinentes.

A ideia aqui desenvolvida foi a de medir a atividade eletromiográfica de um determinado músculo numa situação de esforço máximo, de forma que aquele dado obtido seja a resposta mais foderosa que aquele grupamento consegue dar, em outras palavras, nos mostra nosso 100%.

Isto é feito com diversos músculos e os dados armazenados. Posto isto, passamos ao exercício que queremos avaliar e colhemos todos os dados discutidos ao longo desta série e, por fim, o comparamos com a tal da resposta máxima, obtendo, assim, um valor que refletirá a % trabalhada, como, por exemplo, 49% ou 96%.

Agora sim podemos estabelecer considerações do tipo: a rosca martelo trabalha mais braquiorradial do que bíceps braquial, ou, a rosca alternada dá mais enfoque ao bíceps braquial que ao braquiorradial.

Além disso, também podemos concluir que um determinado exercício, como o supino inclinado, é melhor para recrutar deltoide anterior que o supino reto, ou que variações nas posições dos pés e mãos modificam a área com que o músculo será mais estressado, ou, ainda, discorrer sobre a utilização de barras, halteres e máquinas ser melhor ou pior para um determinado objetivo.

Por fim, é importante ter em mente que os valores nunca podem superar 100%, haja vista que ele é o máximo que pode ser feito. Seria como se você quisesse colocar 5 litros de água num balde de 3 litros. Sendo assim, se você ler em algum lugar que o exercício tal recrutou 120% do músculo, saiba que a obtenção do 100% foi incorreta e o estudo está errado/inconclusivo!

Todo esse processo que descrevi se chama normalização pela contração voluntária máxima do sujeito, chamado de CVM ou CVMI, mas também há outras formas de se normalizar, como, por exemplo, pela média, pico.

Ficamos por aqui. Espero que tenham curtido esta série bastante diferente que escrevi e aproveitado um bocado destas informações que, garanto, não são nada fáceis de se encontrar... Até a próxima!



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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Comentários

  1. Mais uma vez, parabéns pelo excelente artigo. Só uma duvida sobre "os valores nunca podem ultrapassar os 100%". No manual de tríceps monstruosos parte 5, dica 5 tem uma imagem onde mostra a porcentagem de cada cabeça trabalhada. No DB Kickbacks, incline benchs + retroversion aparece 120% e no cable push uns 105%. Isso se aplica a eletromiografia (sendo assim estaria errado ou inconclusivo) ou esses valores se aplicam a outros fatores??
    Obrigado!!

    Márcio

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    Respostas
    1. Fala Marcio!
      Bem observado. Peguei o estudo novamente para dar uma olhada e o que pode ter acontecido foi uma dificuldade ao se obter a repetição máxima do sujeito naqueles dois exercícios em especial. No primeiro caso, não tem grandes problemas pois pode ser uma pequena margem de erro aceitável. o kickback de fato foi bem mais alto, o que me leva a crer que houve dificuldade na coleta de 1RM, ou seja, o que pensavam ser o máximo do sujeito, na verdade não o era.
      Alguns músculos são bem difíceis de se obter o máximo, por exemplo glúteo máximo e músculos abdominais.
      Abraço

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