Fala rapaziada!
Está é, sem dúvida nenhuma, uma das perguntas mais polêmicas
que existe dentro do contexto da musculação, dividindo a comunidade da maromba
em dois grandes grupos: os que se autodenominam marombeiros hardcore, “no pain,
no gain”, #esmagaque..., defendem com unhas e dentes o agachamento profundo;
por outro lado, aqueles mais cautelosos ou desinformados argumentam que o 90° é
a forma mais segura, haja vista que, ao descermos mais, comprometemos o joelho...
O que posso dizer a vocês é que ambos os grupos estão
totalmente equivocados, com uma visão muito, mas muito superficial e deturpada
da realidade, perdendo tempo com extremismos ao invés de entenderem o fenômeno
completo!
Além disso, não só os conceitos e opiniões desses caras são
fracos, mas também suas justificativas, baseadas em lendas e crenças,
experiências e sentimentos pessoais, sem uma gota sequer de embasamento
científico.
Para exterminarmos todos estes problemas e incompreensões sem
dó nem piedade, resolvi escrever este artigo. Boa leitura e não se esqueçam que as consultorias online estão em promoção durante todo o mês de abril! Na compra de uma, você ganha outra igual grátis! Maiores informações via email.
1. QUANTO MAIS
DESCEMOS, MAIS ATIVAMOS A MUSCULATURA?
Para respondermos esta pergunta, trago o trabalho de BARONE
et al. (2008) intitulado “Influência do ângulo e da técnica de execução em
parâmetros eletromiográficos no exercício de agachamento”.
Eles avaliaram e compararam os agachamentos parcial e
completo no quesito ativação muscular de alguns grupamentos, como quadríceps
(reto femoral, vastos medial e lateral), posterior de coxa (semitendíneo) e
adutores (parte medial da coxa, com músculos que ficam entre suas pernas),
sendo os resultados, estes:
Como puderam perceber, parece ser verdade que quanto mais
descemos no agachamento, mais ativamos músculos, sendo o profundo realmente
superior, porém, gostaria de fazer algumas ressalvas.
Reparem que tivemos um grupo de músculos que aumentaram muito
a atividade (vastos, glúteo e semitendíneo – um posterior de coxa), enquanto
outro não teve diferença significativa (reto femoral e adutores).
Quem leu um artigo que muito recomendo, “Qual o melhor
exercício para pernas: cadeia cinética aberta ou fechada?” (clique AQUI) já sabe o porquê disso: o
agachamento, por ser um exercício de cadeia cinética fechada, é vocacionado
para ativar vastos e não reto femoral, que é mais bem trabalhado em cadeia
aberta.
O que eu acho mais interessante destes gráficos é que as
pessoas recomendam acertadamente que se execute o agachamento profundo para
ativar mais músculos, porém, com a justificativa errada: trabalhar mais
isquiotibiais (posteriores de coxa).
Como puderam ver, o trabalho deste grupamento muscular no
agachamento, que foi representado por um de seus quatro músculos, o
semitendíneo, é bastante singelo e a argumentação das pessoas é muito fraca.
Realmente houve uma enorme diferença entre o parcial e o
completo (23% X 38%), tendo praticamente dobrado, porém, compare essas
porcentagens com os trabalhos de vastos e de glúteo máximo: é menos da metade!
Uma justificativa mais técnica para este fenômeno é que o
glúteo máximo, o mais potente extensor do quadril (agonista primário), consegue
trabalhar quase que sozinho contra o braço de alavanca do movimento, não
necessitando de alta ajuda dos posteriores de coxa, coisa que não se verifica
em exercícios como levantamento terra e stiff, que possuem um torque muito alto
e apenas o glúteo não é suficiente na brincadeira.
Para que o leitor tenha noção, o trabalho de glúteo máximo (GM)
é tão grande no agachamento, que um pesquisador resolveu avaliar a contribuição
deste músculo em relação a outros juntos (vastos lateral e medial e bíceps da
coxa), sendo os resultados estes (CARTESIANO et al., 2002):
- Agachamento parcial: GM 16,9% do total.
- Agachamento paralelo: GM 28% do total.
- Agachamento total: GM 35,4% do total! Ou seja, contribuindo
sozinho com uma força de trabalho que supera 1/3 da total!
Sendo assim, a real justificativa de realizarmos o
agachamento de forma profunda e não parcial, na verdade, é porque iremos
trabalhar MUITO mais os vastos do quadríceps e o glúteo máximo, ficando esse
aumento de ativação muscular na casa dos 30%, o que é coisa pra caramba!
Até aqui tudo muito bonito, mas e aquele papo de lesão,
sobrecarga na articulação, pé não poder passar o joelho, 90 graus, etc, etc,
etc: é verdade?
2. AGACHAMENTO E
SOBRECARGA
A pergunta, mais uma vez, é ótima, porém, aqui é onde
encontramos as maiores lendas e as piores respostas, baseadas apenas em
achismos ridículos que vão sendo repetidos sem a menor reflexão ou estudo...
Duas coisas no agachamento, no que tange à sobrecarga, são
delicadas e merecem ser estudadas com atenção: compressão patelofemoral (da
patela no fêmur, ou seja, no seu joelho) e compressão discal (dos discos
vertebrais da sua coluna).
Nesta série, irei falar apenas de joelho, deixando a coluna
de lado para quando formos discutir dor lombar crônica, combinado?
Abaixo, coloco uma radiografia de um joelho para o leitor
entender melhor as coisas. Ela já está esquematizada mostrando os ossos e
tendões envolvidos:
Reparem que nesta articulação a patela está em contato apenas com o fêmur, recebendo, por isso, o nome de patelofemoral. |
O que as pessoas temem aqui, e com razão, é a compressão da
patela no fêmur, haja vista que entre eles há uma cartilagem que, se
danificada/desgastada, não se regenera mais, ou seja, o dano é para sempre,
criando, no longo prazo, um quadro inflamatório que pode terminar numa
condromalácia.
O que posso afirmar para vocês é que a compressão de fato é
alta no agachamento e aumenta de forma proporcional à quantidade de flexão do
joelho, ou seja, quanto mais profundo o agachamento, maior a sobrecarga.
Para que o leitor tenha noção, segundo alguns trabalhos, a
força de compressão gerada é de 2 vezes o seu peso corporal + a carga que você
está utilizando. Por exemplo, se você pesa 100kg e está agachando com 200kg, a
força de compressão é: (100 + 200)x 2 = 600kg! Coisa pra caramba, não? (NISELL
& EKHOLM, 1986; WRETENBERG, 1996; ESCAMILLA et al., 1998, 2001).
Algumas pessoas, com um nível de contato maior com a área,
como fisioterapeutas, podem argumentar que isso não se justifica pois, quanto
mais descemos no agachamento, mais aumentamos a angulação do exercício e a área
de contato da patela com o fêmur.
Se você se lembra das aulas de física do colégio, pressão é
igual a força dividida pela área, P = F/A, sendo assim, quanto maior a área de
contato, menor seria a pressão no joelho.
A hipótese é interessante, porém, não se verifica na prática,
como mostrado no trabalho de HUBERTI & HAYES, 1984.
Na imagem, podemos ver que de fato quanto mais descemos,
maior o ângulo e maiores as áreas de contato. A título de exemplificação, no
trabalho vemos que com 20° temos uma área total de 2,6cm², enquanto que aos
90°, 4,1cm².
Porém, o que acontece na vida real não é apenas um aumento de
área, mas também um aumento ainda maior de força aplicada, que sobe de maneira
desproporcional, incrementando, e MUITO, a pressão! Para ilustrar, saiba que
com 20° temos uma pressão de 0,92MPa, enquanto que a 90°, 10,2MPa!!
Sendo assim, não tem choro, a compressão aumenta quanto mais
profundo é o agachamento.
Um cara mais precavido pode já estar se perguntando: existe
alguma amplitude de movimento que eu possa usar para treinar e ter uma baixa
sobrecarga? Outros, mais metidos a malandros, devem estar pensando como
resposta: “ahhhh, por isso que tem que descer até 90°?!”.
O que vou dizer para vocês é o seguinte: essa resposta é um
lixo! Eu quero que o fdp que inventou isso dos 90° apodreça no inferno, pois
falou uma das maiores bobagens que existe no mundo e, quem sabe, a maior mentira
da musculação...
Observe essa imagem do trabalho do ESCAMILLA citado anteriormente,
que mostra o ângulo onde atingimos o ponto de máxima compressão do joelho:
Olhou? É por volta de 80 GRAUS! E não 90, porra!!! Sendo
assim, essa turma que agacha até as coxas estarem paralelas ao solo, na
tentativa de evitar atingir o máximo de sobrecarga no joelho, não só não a está
evitando, como está fazendo um trabalho medíocre de pernas, pois a ativação
muscular fica na casa dos 50% apenas, contra quase 90% do profundo.
Bom, já que estamos no inferno, vamos abraçar e beijar o
capeta, então? Se já estamos atingindo o máximo de compressão, então vamos
descer tudo, certo? O que é um peido para quem está cagado?
Errado, amigo leitor! A força de compressão pode não aumentar,
porém, o tempo em que você expõe sua cartilagem a ela, sim, ou seja, seria como
colocar a mão no fogo e a mantê-la lá.
Bom, mas agora está todo mundo confuso: mostrei que agachar
até o chão é muito bom para recrutar a musculatura, mas que ao mesmo tempo
aumenta demais a sobrecarga no joelho e na coluna. Além disso, vimos que o
máximo de compressão é atingido aos 80°... “Oh, e agora, quem poderá nos
ajudar?!”.
Continua no próximo episódio, neste mesmo site, neste mesmo horário...
Observação: para ler a PARTE 2 desta série, clique AQUI.
Observação: para ler a PARTE 2 desta série, clique AQUI.
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
Para conhecer meus serviços de consultoria online, currículo, fotos de alguns alunos e muito mais, clique AQUI ou envie email para: fernando.paiotti@gmail.com
Muito bom!
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