Fala rapaziada!
Conforme combinado, estarei
escrevendo o capítulo 6 da série “DISCUSSÕES SOBRE BIOMECÂNICA MUSCULAR”
(clique AQUI para ler) neste
artigo separado, para dar maior destaque ao tema e facilitar sua busca pelos
leitores.
Recomendo que só comece a presente leitura
após ler os outros dois artigos da série, fechado?
6. TAMANHO Vs. FORÇA
Quanto maior o tamanho do
sujeito/volume muscular, mais forte ele é? Quem nunca ouviu falar naquelas
histórias sobre o powerlifter ser forte, mas ter pouca massa muscular e o
bodybuilder ser grande, porém com pouca força?
Essa discussão é muito recorrente
e digo para vocês que a ouço há anos, especialmente em relação há quem usa
esteroides, haja vista que é comum que o público leigo diga coisas como:
“fulano toma bomba! Que que adianta ser grande se não tem força nenhuma?! Pego
mais peso que ele!”.
Enfim, a ideia do artigo será a
de quebrar algumas lendas e a de responder a pergunta "quanto mais musculoso, mais forte?". Boa leitura!
A. TAMANHO MUSCULAR E CAPACIDADE DE GERAR TENSÃO
Mariusz Pudzianowski |
Relacionar tamanho com força muscular é algo
extremamente intuitivo e aceitável, haja vista que quando vemos um cara bem
grande, ele nos passa a ideia de vigor, poder, etc. Por outro lado, ao nos
depararmos com um sujeito magrelo, associamos a ele a ideia de fraqueza e fragilidade.
Deixando a vida prática de lado,
vamos ver o que a literatura nos fala sobre o assunto: segundo trabalho de
NORMAN, 1977, cada cm² de área muscular é capaz de produzir 90N de força, ou,
se preferirem, 9kgf.
A área de secção transversa do músculo,
conhecida por AST, pode ser facilmente obtida através de um exame de
ressonância magnética, permitindo-nos realizar o cálculo.
Sendo assim, baseado no que foi
exposto, podemos concluir que quanto maior o volume muscular do sujeito, mais
peso ele será capaz de aguentar, correto? Porém, este raciocínio começa a
conflitar com o que vemos na prática...
Quando comparamos o total de
força produzido por um powerlifter e por um bodybuilder e dividimos pelas suas
massas musculares totais, envolvendo toda sua AST, obtemos um valor bastante
diferente, sendo o primeiro capaz de utilizar muito mais carga do que o
segundo, mesmo tendo menos massa muscular... E agora? Então o estudo estava
errado?
Na verdade, ocorre que muito
outros mecanismos vão se somar a este fator de AST, criando um contexto muito
mais complexo de ser analisado, ou seja, a pergunta "quanto mais musculoso, mais forte?" não é tão fácil de ser respondida, bastando um simples não ou sim.
B. ÂNGULO DE PENAÇÃO
Este termo pouco discutido diz
respeito ao ângulo que as fibras musculares se dispõem em relação ao eixo
principal do músculo.
Conforme o processo hipertrófico
vai acontecendo, a área de secção transversa vai aumentando, incrementando a
capacidade de gerar tensão, porém, isto acontece somente até um limite ótimo,
sendo que, ao passarmos dele, a força, na verdade, começa a diminuir.
Observe a imagem abaixo, extraída
do trabalho de IKEGAWA et al., 2008:
Ela mostra, esquematicamente,
dois músculos (seriam as bolonas), um na esquerda e outro na direita. Nas
pontas deles há cabos, que seriam os tendões.
Repare que há um símbolo θp
em ambos, que representa o ângulo de penação, e que na figura da esquerda ele é menor
que na da direita. Isto ocorre porque esta última representa um caso de grande hipertrofia, já que a bola/músculo é bem maior.
Sendo assim, podemos concluir que
quanto maior a hipertrofia, maior a área do músculo e maior o seu ângulo de
penação. Posto isto, repare nas cores que utilizei: a vermelha é a componente
horizontal da força; a azul, a vertical; a amarela, a resultante.
De forma bastante simplificada, a
componente horizontal, que é uma força gerada que é “perdida”, é grande pra
cacete no cara hipertrofiado demais, reduzindo a vertical, de modo que ele não
utilize boa parte do esforço produzido, perdendo-o.
Por outro lado, o sujeito com uma
hipertrofia menor acaba gerando mais força, pois as estruturas trabalham mais
canalizadas para produzi-la.
Interessante, né? E é por isso
que powerlifters, num geral, possuem menos massa muscular que bodybuilders e mesmo assim
são capazes de suportar muitíssimo mais carga, mas não é por isso também que
vamos sair por aí dizendo que a galera do fisiculturismo seja fraca, muito pelo
contrário, já que caras como Ronnie Coleman, Branch Warren e Johnnie Jackson
fizeram história não só nos palcos, mas também nos treinos, haja vista os pesos
colossais que usavam.
Para finalizar, é importante que
levemos em consideração os esportes que estes tipos praticam, uma vez que o
objetivo do fisiculturismo é ter a maior quantidade de massa muscular possível,
de forma simétrica, harmoniosa, com grande qualidade, etc, etc, etc. Já no
powerlifting e strongman, de maneira bem simplificada, a ideia é levantar as maiores cargas possíveis, dentro de contextos próprios, na tentativa de ganhar pontos e vencer
o adversário.
Sendo assim, em todos estes casos,
eles não têm muito como fugir de padrões corporais, caso contrário, sairão
prejudicados em suas modalidades.
Ficamos por aqui. Continuamos nossa discussão no próximo capítulo, onde veremos se é possível ganhar força sem hipertrofia. Até lá!
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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