Fala rapaziada!
No último artigo, conversamos
bastante sobre os riscos da utilização da caminhada por idosos, assim como
estratégias que podem ser utilizadas para contornar o problema. Hoje, será a
vez de discutir a caminhada no contexto da obesidade. Boa leitura!
4. TODOS PODEM FAZER CAMINHADA? O PROBLEMA DOS IDOSOS E OBESOS
B) CAMINHADA PARA OBESOS
A obesidade é um problema
bastante grave no mundo todo, englobando boa parte da população do planeta.
Segundo dados do Ministério da Saúde, 52,5% da população brasileira, em 2015,
estava obesa ou acima do peso.
Analisando este contexto de
outras formas, 49% das mulheres e 50% dos homens em nosso país estão com sobrepeso. Em relação às crianças de 5 a 9 anos, 33,5% delas encontram-se nesta
mesma situação, o que é muito preocupante, já que o cenário se faz cada vez mais
precoce.
Para tentar contornar este problema, muitos recomendam a prática de atividade física para os obesos, sendo a caminhada a principal sugestão, porém, o problema do obeso, ao fazê-la, não é outro senão o do excesso de peso corporal.
Como devem se lembrar, no
primeiro capítulo da série eu comentei que durante a caminhada nossas
estruturas do aparelho locomotor, como joelhos e pés, recebem o equivalente a
1,2 a 1,5 vezes o peso corporal de impacto, ou seja, se você pesa 100kg, a cada
passo seu pé leva uma porrada de 120 a 150kg.
Por curiosidade, o que determina
o número desse intervalo, 1,2 a 1,5 é a velocidade de caminhada: quanto mais
rápida ela for, mais perto do limite máximo ela será, simples assim.
“Ué?!
Fernandão, é impressão minha ou você está sugerindo que a caminhada não é um
bom exercício para obesos?!”
Exato, amigo leitor, é isto mesmo
que estou sugerindo, o que parece um baita absurdo, não é verdade?! Afinal, a
caminhada é a primeira coisa que recomendam que os obesos façam!
A título de comparação, para que
vocês entendam a gravidade da situação, quando uma pessoa de 70kg CORRE a 18km/h, o que é uma
baita velocidade, ela gera um total de 161kg de impacto nas articulações, por
exemplo. Por outro lado, quando um obeso de 120kg CAMINHA DEVAGAR, ele gera uma porrada total de 144kg nessas
mesmas estruturas!
Sentiram o drama?! Uma sobrecarga que um cara precisou se matar para conseguir, o obeso leva A TODO O TEMPO! E você
ainda vai passar/recomendar mais caminhada para ele?! Complicado...
Uma estratégia dessas, realizada
de forma amadora e mal planejada, no longo prazo, irá proporcionar desgaste
articular no indivíduo, com destaque para degeneração da cartilagem dos joelhos,
doença irreversível, sem cura, e que pode deixar o sujeito sem andar um dia.
Para piorar, por conta dos ângulos do quadril, as mulheres obesas tendem a
sofrer ainda mais danos, agravando a situação.
Fora todos estes problemas, ainda
há um bastante grande, com o qual encerrei o último artigo desta série: a
caminhada é uma atividade muito econômica, pois a natureza assim nos
selecionou, sendo assim, para perder peso com ela, precisamos caminhar por
horas, horas e mais horas, o que, além de inviável, ainda irá somar uma
sobrecarga colossal no aparelho locomotor do obeso!
“Fernandão, mas afinal, se a caminhada é tão problemática assim, então o que
podemos fazer para ajudar os obesos?”
Mais uma vez, o primeiro passo é
o de contratar um profissional de ponta, uma vez que se trata de um grupo de
risco onde erros não podem ser cometidos, já que as consequências podem ser
irreversíveis.
O segundo aspecto é ter em mente
que, como o impacto será um grande problema em nossa vida, ele precisa ser
contornado. Vejamos algumas possibilidades:
- Treinamento de força:
para reduzir a perda de massa muscular que ocorre com o sedentarismo e
envelhecimento e fortalecer o aparelho locomotor. Além disso, um músculo
treinado é capaz de absorver impactos, reduzindo a sobrecarga em outras
estruturas do corpo, como ossos e articulações, o que é ótimo. O gasto
energético aqui não é muito grande, porém, é melhor do que nada;
- Natação: é uma atividade
com um gasto energético absurdo, uma vez que a água atrapalha nossa capacidade
de economizar energia;
- Exercícios aeróbios com
impacto reduzido: como elíptico e bicicleta ergométrica. É importante ter
em mente que o impacto externo foi subtraído, porém, o interno, de uma
estrutura na outra, ainda acontece. Sendo assim, o volume e a intensidade dos
programas devem ser bem planejados.
- Caminhada: ué, ela não
era problemática?! Sim, mas podemos contornar a questão do impacto alto com
duas estratégias: fazendo caminhada na areia e na subida. Estes dois
procedimentos reduzem muito a sobrecarga, com a vantagem de aumentarem o gasto
energético.
Enfim, há vários procedimentos
que podemos adotar, minha intenção não foi a de esgotar a lista, mas apenas
mostrar aos leitores, sobretudo aos que têm sobrepeso, que há esperança! E
muita, especialmente quando informo que, para cada 1kg de peso corporal perdido,
diminuímos em 2,2kg a sobrecarga nos joelhos, o que é excelente caso você
queira continuar andando daqui há alguns anos!
Além disso, ainda temos um fator
importantíssimo que não mencionei que seria a questão da dieta, coisa que irá
auxiliar ainda mais nos resultados positivos.
Para encerrarmos, mais uma vez,
tenha em mente que tudo deve ser muito bem planejado e pensado por alguém que
realmente saiba o que está fazendo com o aluno, de modo a não correr riscos
desnecessários e colher apenas benefícios, e não malefícios, afinal, de que
adianta perder peso rapidamente hoje e ficar aleijado amanhã?!
Já vi milhares de treinadores
irresponsáveis, graduados ou amadores, recomendando corrida para obesos, HIIT,
crossfit, pular corda, entre outras atividades como auxiliares no
emagrecimento. O que estas pessoas fazem, na verdade, é prestar um desserviço,
pois na verdade estão prejudicando a vida das pessoas (lembrando que o preço
disso pode não vir hoje, mas sim daqui uns anos, na forma de degeneração
articular, dor lombar crônica, entre outras).
5. CONCLUSÃO
Vimos, ao longo desta série, como
funciona a questão da caminhada e como ela impacta em nosso organismo, seja
positiva, seja negativamente.
O principal fator que deve ser
levado em consideração é que ela pode ser usada como estratégia de
emagrecimento, porém, com algumas ressalvas, já que ela pode não ser muito
eficiente e trazer muita sobrecarga articular em algumas populações, sobretudo
idosos e obesos, que, ironicamente, são as que mais a utilizam...
Ao longo da série tracei diversas
perspectivas que podem ser levadas em consideração na hora do treinador montar
um programa de atividade física. Em nenhum momento minha ideia foi ensiná-los o
que fazer, mas sim mostrar que existem diversas abordagens adequadas para
contornar tudo que levantei como “perigoso” durante esta coletânea de três artigos.
Sendo assim, espero que tenham
gostado e, principalmente, desenvolvido senso crítico acerca do tipo de serviço
que muitos profissionais prestam por aí: exija qualidade e só aceite
orientações de profissionais altamente qualificados e
atualizados, que sabem do que estão falando, pois estudam constantemente,
conhecem a prática de trabalho e se baseiam em ciência, e não em achismos, lendas e tradições. Bons treinos e até
a próxima!
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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