CORRER PARA PERDER PESO É UMA ESTRATÉGIA EFICIENTE E SEGURA? – PARTE 3

Fala rapaziada!

No último artigo, falamos bastante sobre a questão dos exageros cometidos pelos corredores que aumentam demasiadamente o volume de treinamento e pagam o preço, lesionando-se. Sendo assim, hoje será a vez de discutir sobre a intensidade. Boa leitura!


4. POR QUE TANTAS PESSOAS SE LESIONAM PRATICANDO CORRIDA?

B. INTENSIDADE DE TREINAMENTO

A ideia por trás da discussão de intensidade é a de tentar minimizar o tanto de impacto que você dará ao seu aparelho locomotor. Ao contrário do volume, que discutimos de uma só vez, ela deve ser analisada sob diversos aspectos, a saber, geometria de colocação de pé, velocidade e fadiga. Vejamos, a partir de agora, cada um deles:


GEOMETRIA DE COLOCAÇÃO DE PÉ

A maioria esmagadora das pessoas, e digo esmagadora mesmo, ataca o solo com o calcanhar. Isto significa que, ao colocar o pé no chão, a primeira coisa que encostamos é a parte de trás deles.

Por conta disso, resolveram avaliar em laboratório o que muda quando pisamos primeiro com calcanhar ou com o pé chapado (reto) ou com as pontas dos pés e, surpreendentemente, viram que há grandes diferenças entre os ataques.

Quando corremos nas pontas dos pés, o pico passivo (aquele primeiro impacto que mostrei no gráfico do capítulo um desta série) desaparece, ou seja, aquela baita porrada que levávamos é neutralizada.
Entrada de calcanhar, à esquerda, e de antepé, à direita.

A explicação disto é a seguinte: quando entramos de calcanhar, quem amortece a pancada por você é o joelho e o quadril, porém, se chego primeiro com as pontas dos pés, além destas articulações eu acrescento também a do tornozelo, colocando suas panturrilhas na brincadeira, que possuem uma vantagem anatômica de braço de alavanca e de tamanho de área muscular.

Que daora, Fernandão, quer dizer então que a nossa salvação é correr nas pontas dos pés?!

Não, amigo leitor, infelizmente esta estratégia não serve e pode trazer belíssimas lesões! E deixo isto claro desde já, pois tempos atrás essa informação se popularizou e muitos treinadores e entusiastas de corrida (sites, blogs, revistas, etc.) a divulgaram, recomendando que as pessoas só corressem assim, o que é um grande erro, mesmo porque, o que você espera quando leigos começam a recomendar coisas das quais não dominam e não receberam formação própria? Que dê merda, é claro...

A musculatura do tríceps sural, popularmente chamada de panturrilha, já possui uma função importantíssima que é a de nos propulsionar na corrida, empurrando-nos para frente, sendo assim, sua carga de trabalho não é nada pequena.

Quando corremos nas pontas dos pés, acrescentamos a participação delas também para amortecer impacto, o que irá sobrecarregá-la, podendo trazer, no curto prazo, bastante dor muscular tardia, ao passo que, no longo prazo, tendinite calcanear, frouxidão ligamentar, lesões na articulação do tornozelo e na própria panturrilha e fraturas por stress nos ossos do pé.

Sendo assim, tenha em mente que correr nas pontas dos pés só serve para curtos intervalos de tempo, de alguns segundos, por exemplo, em tiros de HIIT, provas de velocidade, contra-ataques de futebol, etc. Para ser honesto, não há outra solução que não esta, uma vez que só assim conseguimos grandes acelerações (um dos motivos é que a panturrilha passa a acumular e restituir energia rapidamente, quando recebe impacto, o que incrementa a propulsão).

Contudo, não faça dessa prática um estilo de vida, algo constante, como correr 40 minutos num parque, pois a sobrecarga articular será muito grande e certamente irá lhe trazer lesões no longo prazo.

Além disso tudo que falei, há ainda outro aspecto muito importante: nossa geometria de colocação de pé, nas mais variadas atividades do dia-a-dia, é automatizada, ou seja, em nenhum momento você fica pensando e calculando o que vai fazer: simplesmente chega e faz. Por curiosidade, isto é consolidado por volta dos sete anos, criando um programa motor todo certinho e pronto em seu cérebro. Sendo assim, a ideia de mudar a geometria de colocação dos pés, para reduzir a questão do impacto, é interessante, porém, não tem serventia, pois caba trazendo um problema novo muito mais grave.


VELOCIDADE

Quanto maior for a velocidade de corrida, maior será o impacto que levaremos a cada pisada, sendo assim, as pessoas só poderão incrementá-la ao longo dos treinos se estiverem preparadas, sendo que quem determinará isso é o treinador, uma vez que é ele quem sabe do tempo de supercompensação das estruturas e do planejamento dos ciclos de treino.

O grande problema aqui, mais uma vez, é a má influência que os opinadores e as grandes mídias exercem na cabeça das pessoas, pois treinamentos como HIIT, que utilizam movimentos explosivos, foram popularizados anos atrás, incentivando a prática de muitas pessoas, mesmo porque, ele dá bons resultados na perda de gordura.

O grande problema é que seu corpo precisa estar muito bem preparado para receber a porrada que esse tipo de treinamento impõe, o que não é a realidade da maioria esmagadora das pessoas. Pior ainda se forem obesas, porque a sobrecarga será ainda maior, seja pelo elevado peso corporal, seja pela velocidade.
 
Ficamos por aqui. Caso seja corredor, ou queira se tornar um, e tenha ficado interessado nos assuntos, clique AQUI para conhecer a minha consultoria em corrida, que é um serviço à parte das consultorias em musculação, uma vez que é totalmente voltada para melhorar seu desempenho nessa atividade, com um planejamento minucioso e individual, a fim de evitar lesões, prolongando sua vida no esporte.  

No próximo artigo, iremos discutir a questão da fadiga na corrida e como ela pode ser perigosa. Até lá!

ATENÇÃO: Essa série contém 6 partes. Continue a leitura acessando: 
- PARTE 1: A biomecânica da corrida/ Corrida Vs. caminhada/ Corrida e os impressionantes índices de lesão
- PARTE 2: Por que tantas pessoas se lesionam praticando corrida?/ Volume de treinamento
- PARTE 3: Intensidade de treinamento/ Geometria de colocação de pé/ Velocidade
- PARTE 4: Fadiga/ Como aumentar a velocidade de corrida?
-PARTE 5: Quais músculos devemos fortalecer para melhorarmos o desempenho na corrida?
- PARTE 6: Treinando potência para melhorarmos o desempenho na corrida/ Curiosidades/ Conclusão

FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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