Fala rapaziada!
O melhor amigo de qualquer
corredor é o calçado esportivo. Além disso, não é exagero algum dizer que se a
escolha do tênis for mal feita, ela irá impactar negativamente em todo o
programa de treinamento, inclusive aumentando a probabilidade de lesões.
Por outro lado, é importante
revelar, desde o início, algo que as grandes indústrias dos tênis esportivos
lutam há décadas para que você não descubra: o calçado não melhora o seu
rendimento, tornando-o mais rápido, e também não reduz o impacto no seu
aparelho locomotor! É, amigo leitor, muitas polêmicas e revelações estão por
vir nesta série. Boa leitura!
OBS: antes de prosseguir,
recomendo a todos que acessem a série “CAMINHADA PARA PERDA DE PESO É UMA ESTRATÉGIA EFICIENTE E SEGURA?”, uma vez que ela fornecerá informações muito
importantes para a compreensão dos temas que discutiremos neste trabalho.
1. UMA BREVE INTRODUÇÃO SOBRE O CALÇADO ESPORTIVO
Até a década de 1980,
predominavam os calçados minimalistas, sendo bastante simples, com o único
objetivo de proteger a sola dos seus pés. Porém, a partir de então, as grandes empresas
começaram a executar grandes investimentos tecnológicos no desenvolvimento de
seus tênis, por conta da crescente popularização da prática de exercícios físicos
e também pelo número de lesões que já começavam a alarmar.
Segundo estatísticas da época,
entre 19 e 65% dos corredores apresentavam algum tipo de lesão, o que levou as
pessoas a acreditarem que fazer exercício físico, por algum motivo, era algo
perigoso.
A título de curiosidade, a
empresa que mais investiu nesse cenário de pânico foi a Nike, que atribuiu os
elevados índices de lesão ao suposto impacto que a corrida impõe ao nosso
aparelho locomotor, aproveitando a deixa para lançar seu novo modelo de tênis,
que aparentemente poderia nos proteger “dessas grandes pancadas”, por conta da
tecnologia conhecida por Sistema Air,
que seria uma bolsa de ar encapsulado que funcionaria como “amortecedor”.
Interessante não? A empresa
simplesmente explodiu em vendas, tornando-se esse verdadeiro monstro que é
hoje, por ter proposto solução para um problema que eles mesmos divulgaram: o
impacto...
Apenas para encerrar esta
introdução, a área de calçados esportivos foi se tornando algo absurdamente
rentável com o passar dos anos, e os investimentos tecnológicos nunca pararam
de crescer. Para que o leitor tenha ideia de como as coisas estão hoje, os
tênis mais sofisticados têm um sistema de microprocessamento embutido em si
mesmo, que faz uma leitura do impacto recebido em tempo real, a cada passo,
alterando a densidade do solado conforme a necessidade!
Pegaram a ideia? Se você está
andando numa superfície bem dura, seu tênis “percebe” isto e deixa o solado
mais macio, a fim de aumentar o conforto e supostamente reduzir o impacto; por
outro lado, numa superfície fofa, como areia, o solado ficaria rígido,
fornecendo mais estabilidade.
O grande problema de vendas desta
tecnologia, atualmente, é que ela é muito cara. Para que o leitor tenha uma
ideia, o custo de produção de um tênis esportivo simples é de 17 dólares. O
calçado que eu citei acima, sai por 150, ou seja, quase dez vezes mais caro! E
isso porque eu disse “custo de produção”, uma vez que o preço final de venda
todos sabemos ser bastante indecente, sendo absurdamente comum encontrarmos valores
de 4 dígitos ou próximo disto, por exemplo.
2. O CALÇADO REDUZ O IMPACTO DA CORRIDA? É MELHOR QUE CORRER
DESCALÇO?
Depois que o uso do calçado
tecnológico começou a se popularizar, novas pesquisas foram realizadas, sobre
os índices de lesão, e o resultado foi o seguinte: entre 28 e 79% dos
corredores continuavam a apresentar danos no aparelho locomotor, ou seja, o
calçado não influenciou em NADA na prevenção de lesões! Sendo assim, será que o impacto
era o verdadeiro problema na corrida?
Quando começaram a investigar aquestão de forma mais profunda, para tentar descobrir o motivo de tantos
problemas, os pesquisadores perceberam que as populações com os menores índices
de lesões eram aquelas onde andar descalço é parte da cultura. Além disso, este
hábito parece ser tão eficiente que até corrige problemas clínicos, como pé
chato, por fortalecer o arco do pé.
Os resultados da descoberta
começaram a se mostrar uma tendência, que foi sendo reforçada por estudos
científicos, sobretudo a partir dos anos 2000. Segundo observado nos trabalhos,
andar descalço anula o primeiro pico de impacto que recebemos em nosso aparelho
locomotor, pois muda o estilo de pisada, que antes era de entrada de calcanhar
(com tênis), para entrada com o meio do pé (mediopé). Observe o gráfico abaixo:
Nas imagens, pudemos observar a
diminuição da forma como o impacto é recebido, sendo suavizado no tempo, quando
tiramos o calçado e corremos descalços. Além disso, por conta de
mecanorreceptores nos pés, detectamos rigidez do solo e somos capazes de mudar
nossa geometria de pisada a fim de nos proteger, o que não acontece com o
tênis.
Cronicamente, também foram
observadas diversas adaptações positivas em nossos pés quando corremos
descalços: Robbins & Hanna, 1987, acompanharam 17 corredores descalços por
4 meses e como resultados observaram a ocorrência de um processo de
fortalecimento, seja na musculatura dos pés, seja no arco plantar.
Azevedo, 2013, por sua vez,
observou uma diminuição do impacto no aparelho locomotor, assim como a queda do
pico passivo, que já havíamos visto no gráfico.
Outra coisa que muito chamou a
atenção das pessoas foi a assustadora façanha realizada pelo corredor da
Etiópia, Abebe Bikila, na maratona da Olimpíada de Roma, em 1960: ele ganhou em
primeiro lugar, tendo corrido todo o percurso descalço!
Quatro anos depois, nas
Olimpíadas de Tóquio, ele ganhou o bicampeonato, entrando para a história como
o melhor maratonista olímpico de todos os tempos, feito este que dura até os
dias de hoje, uma vez que ninguém mais conquistou duas medalhas de ouro nesta
prova. A título de curiosidade, por pressões de patrocinadores, nesta edição
dos Jogos ele não correu descalço, mas sim com tênis, se não me falha a
memória, da Adidas, que foi a patrocinadora oficial do evento.
“Nossa, Fernandão, quer dizer que correr descalço é a melhor coisa que
existe então?! Vamos todos sair tacando fogo em nossos tênis e nas lojas e
fábricas de calçados?!”
Não, meu caro leitor,
infelizmente a coisa não é tão simples assim! Correr sempre descalço é um
grande problema, pois destrói a sola dos pés, formando bolhas, cortes, isso sem
mencionar a questão da dor e das infecções.
Sendo assim, para permitir que
conseguíssemos os mesmos benefícios de quem corre descalço, porém, sem destruir
a sola dos pés, trouxeram como solução a utilização dos calçados minimalistas,
uma vez que, por conta do solado bem simples e baixo, eles simulam pés
descalços, com a vantagem da proteção.
Uhul! Corremos, corremos e
corremos para, no final, chegarmos novamente no ponto de partida, pois, quem
leu o texto com atenção, deve ter percebido que era esse mesmo tipo de calçado
que era utilizado nos anos 80! Veja quanta coisa errada que foi feita, quanta
propaganda enganosa realizada, quanto dinheiro investido, quanto lucro
embolsado e quanta gente lesionada a troco de nada por conta de uma simples e
maldita “hipótese” de impacto...
Antes de encerrarmos, ao testarem
a transição do calçado esportivo tecnológico para o calçado minimalista, uma
nova bomba explodiu, bagunçando de vez nossa cabeça: segundo o trabalho dos
pesquisadores Salzler e colaboradores, em 2012, dos dez corredores que
participaram dessa transição, 9 ganharam uma bela fratura por stress no
metatarso (um dos ossos do pé) e um no calcâneo (osso do calcanhar). Houve
ainda um felizardo que lesionou o tendão do tríceps sural (panturrilha).
Que bagunça, heim?! Parece que
nada dá certo! Pois é, amigo leitor, no próximo artigo desta série entenderemos
o motivo e discutiremos em detalhes como solucioná-lo! Até lá!
Ficamos por aqui. Caso seja corredor, ou queira se tornar um, e tenha ficado interessado nos assuntos, clique AQUI para conhecer a minha consultoria em corrida, que é um serviço à parte das consultorias em musculação, uma vez que é totalmente voltada para melhorar seu desempenho nessa atividade, com um planejamento minucioso e individual, a fim de evitar lesões, prolongando sua vida no esporte.
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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