TREINAMENTO DE PLIOMETRIA E COMPONENTE ELÁSTICO MUSCULAR

Fala rapaziada!

Conforme combinado, estarei escrevendo o capítulo 8 da série “DISCUSSÕES SOBRE BIOMECÂNICA MUSCULAR” (clique AQUI para ler) neste artigo separado, para dar maior destaque ao assunto e facilitar sua busca pelos leitores. Fiz o mesmo com o capítulo 6, que tratou o seguinte tema: “Quanto mais musculoso mais forte?” (clique AQUI para ler) e com o capítulo 7: “Alavancas do corpo humano e sua influência na musculação” (clique AQUI para ler).

Sendo assim, recomendo que só comece a leitura após ler estes artigos citados, fechado? Para não ficar aí totalmente alienado ao contexto...


8. COMPONENTE ELÁSTICO E TREINAMENTO PLIOMÉTRICO

Antes de iniciarmos uma determinada ação é comum que executemos uma fase de preparação, e não estou me referindo ao aquecimento, mas ao movimento realizado na direção oposta da que queremos ir.

Explico melhor: tomando o salto como exemplo, antes de fazermos a extensão do joelho, mandamos uma flexão, ou seja, antes de saltarmos, agachamos. Posto isto, eu pergunto: por que fazemos isso?

CONTRA-MOVIMENTO E COMPONENTE ELÁSTICO

Quando agachamos, estamos transferindo energia para o componente elástico do músculo, que, neste momento, está em contração excêntrica. Na hora de realizar o salto propriamente dito, em outras palavras, estender o joelho, o que foi acumulado é rapidamente restituído na fase concêntrica, deixando o movimento mais “potente”, digamos assim.

Tal fenômeno é conhecido por ciclo excêntrico-concêntrico ou acúmulo-restituição, dependendo, para que ocorra, especialmente do componente elástico em série, haja vista que, por geometria, vou conseguir alongar mais e ao mesmo tempo ele do que o em paralelo, proporcionando um movimento mais rápido e intenso.

Porém, é importante que tudo isto seja realizado de forma realmente rápida, caso contrário, a energia armazenada se dissipará sob a forma de calor, pois todo tecido viscoelástico, como é o caso do músculo, quando submetido a um aumento de stress constante, responde com relaxamento, perdendo a capacidade de restituir a energia.

Um teste simples de se realizar para verificar o poder desse mecanismo é comparar o salto com contra movimento (CMJ) com um salto sem preparação, chamado de squat jump.

A diferença entre eles reside no fato de no primeiro utilizarmos o componente elástico e o contrátil e de no segundo, apenas este último aspecto.

Quando comparamos ambos estes saltos em variados grupos de pessoas, podemos perceber que, quanto maior a discrepância entre os testes, mais habilidoso é o sujeito no aproveitamento do acúmulo-restituição. Seria o caso de alguém que joga basquete, por exemplo.

Por outro lado, um powerlifter tem uma porcaria de aproveitamento, sendo os dois saltos muito parecidos, haja vista que é característica da modalidade não ficar utilizando componente elástico. Na musculação mesmo evitamos ao máximo o trabalho dele, dando aquele mínimo intervalo de 1 segundo entre as fases concêntrica e excêntrica, pois, se não o fizéssemos, perderíamos stress muscular, hipertrofia e por aí vai...

Outra maneira bastante eficiente de quebrar o ciclo excêntrico-concêntrico é na água, haja vista que neste meio só temos fase concêntrica, sendo a outra, anulada. Na areia também conseguimos prejudicar a restituição, pois ela desacelera o sistema e aumenta muito o tempo de contato, dissipando bastante energia e nos fazendo gastar mais calorias.

Por conta disso, e pelo fato de diminuírem o impacto articular, as atividades nestes dois ambientes são muito interessantes para obesos e idosos.

Posto tudo isto, vem a pergunta: há como treinarmos o componente elástico? Há como melhorá-lo?


TREINAMENTO PLIOMÉTRICO

É um treinamento originado na finada URSS, que visa a treinar a capacidade de acúmulo e restituição do componente elástico, usando, como estratégias, a diminuição do tempo de contato e o aumento progressivo da aplicação de cargas.

Tomando o clássico exemplo dos saltos, o treinamento pliométrico iria utilizar saltos sucessivos (com a ideia de reduzir ao máximo o contato com o solo, diminuindo a dissipação de energia) de alturas progressivas (quanto maior a altura, maior a carga imposta para ser absorvida).

Outra coisa muito importante a ser respeitada diz respeito ao princípio da especificidade do treinamento, ou seja, o programa de pliometria deve utilizar movimentos específicos da sua modalidade esportiva. Em outras palavras, de nada adiantará você treinar salto pliométrico se o seu objetivo é melhorar acúmulo-restituição na corrida, por exemplo.

Além disso, as cargas impostas são totalmente individuais! Já vi muita gente divulgando treinos na internet onde o sujeito pratica um movimento de agachamento com uma bola grande e pesada, arremessando-a meio alto na parede ao final da extensão do quadril. Quando ela cai o cara vai e agacha de novo.

Tem gente que não sabe dosar a carga, especialmente treinadores, e jogam todos os alunos para praticar do mesmo jeito. O resultado final é que alguns vão se dar muito bem com o programa; para outros, não servirá para nada, haja vista que a carga era leve demais e não houve melhora na capacidade de acúmulo; por fim, teremos aqueles que vão apenas se foder, pois deram muito peso para ele, sobrecarregaram negativamente suas estruturas e não conseguiram aplicar restituição adequadamente, uma vez que gastava muito tempo amortecendo a pancada, dissipando energia...

Também é importante mencionar que o tipo de solo é de total importância no treinamento pliométrico. Jamais o faça na areia ou tatame, como muitos lutadores ingenuamente mandam, haja vista que se o piso não for bastante rígido, ele desacelera o movimento, aumentando o tempo de contato e dissipando uma grande quantidade de energia!

Falei muito de salto e tenho medo de o leitor pensar que pliometria é apenas isso, então vamos usar outro exemplo agora: flexões de braço. 

Elas se mostram uma maneira bacana de treinar o componente elástico do membro superior, bastando você dosar a carga e usar sempre impulsão, diferente do que fazemos na musculação. Uma possibilidade seria começar fazendo em pé na parede, depois ajoelhado, depois normal. Há também a possibilidade de treinar arremessando uma bola na parede ou para um colega, enfim, variações é que não faltam, basta ser criativo e SEMPRE respeitar os princípios deste tipo de treinamento.

Para finalizar, a capacidade de acúmulo-restituição é barbaramente perdida com o envelhecimento, tanto é que o andar fica cada vez mais cansativo ao idoso, sendo assim, ele precisa de atenção especial e o treinamento pliométrico pode sim ser utilizado com ele, porém, com algumas adaptações, obviamente. Algumas maneiras simples seriam treinar através de caminhadas numa subida ou descendo escadas.

Ficamos por aqui e finalmente consegui encerrar esta série de inúmeros capítulos intitulada “DISCUSSÕES SOBRE BIOMECÂNICA MUSCULAR”. Até a próxima!



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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