Fala rapaziada!
Na presente série, iremos estudar
a biomecânica do salto, movimento fundamental cuja finalidade pode se encerrar
tanto em si mesma, feito casos no atletismo, como também ser um meio,
integrando ações mais complexas, sobretudo no ambiente esportivo, por exemplo,
em modalidades como basquete e vôlei, além, é claro, de outras mais presentes
na vida de quem faz treinamento de força, como pliometria, crossfit e
funcional.
1. O SALTO E A SOBRECARGA
Uma das maiores dificuldades no
estudo dos saltos é que eles são muito variados, pois estão atrelados a toda
sorte de movimentos culturalmente orientados, sendo assim, o do atletismo se
mostra muito interessante para fins didáticos uma vez que é bem estereotipado,
fornecendo, por isso, uma análise que pode servir de base para todas as outras
de modalidades esportivas diversas.
Quando investigamos o salto, através
de uma plataforma de força, percebemos que ele possui uma fase passiva
altíssima, representada na fase “e” do gráfico abaixo, que acontece em míseros
0,009 segundos!
Sendo assim, ocorre que levamos
um impacto, em média, de 6 vezes o nosso peso corporal em apenas 0,009
segundos, o que é muito mais rápido e intenso do que qualquer situação vista
até agora no site, levando-se em conta
as discussões dos artigos sobre caminha e corrida.
Portanto, pode-se dizer que se
trata de uma fase onde nos encontramos vulneráveis, haja vista que não há
espaço para nenhum tipo de reação de nossa parte, pois quando nossos
mecanorreceptores leem impacto e ativam uma cadeia de reação, demoramos entre
50 e 70 milissegundos para tanto, ou seja, é impossível. Com isto, nossa única
saída é a da pré-ativação muscular.
Já que estamos falando de
elevados impactos, vejamos mais alguns números: o salto em altura gera, em
média, 11 PC (peso corporal) de sobrecarga em nosso aparelho locomotor, sendo o
maior valor visto até agora nesta obra, porém, muito inferior à modalidade do
salto triplo, capaz de chegar a impressionantes 22,3 PC!
Como o nome sugere, ele é
dividido em três partes: o HOP, que representa o primeiro salto e gera
sobrecargas em torno de 12,4 a 14,4PC; o STEP, o segundo, ficando entre 14,1 e
22,3 PC; por fim, o JUMP, que seria o terceiro, com grandezas de 12,1 a 15,7
PC. A título de curiosidade, estes valores foram citados dentro de intervalos
uma vez que variam de indivíduo para indivíduo, por conta de técnicas e estilos
próprios de executar os três saltos.
O maior desafio de um atleta
desta modalidade é que cada salto deve ser feito de forma “seca”, fletindo o
joelho o mínimo possível, de modo a reduzir ao máximo o tempo de contato com o
solo, a fim de não dissipar a energia acumulada e restituí-la rapidamente.
Com estas informações em mãos,
agora o leitor é capaz de entender o que saudosos atletas de elite brasileiros,
como João do Pulo, Adhemar e Nelson Prudêncio, eram capazes de executar neste
esporte, recebendo o equivalente a 22 vezes o seu peso corporal, por 0,009
segundos, sem flexionar o joelho!
Bom, agora que discutimos a
sobrecarga no salto como fim, vejamos o outro lado da moeda, quando ele é
utilizado como meio.
Em primeiro lugar, conforme
discutido no início deste tópico, o salto cuja finalidade se encerra em si
mesmo é mais fácil de ser analisado, uma vez que é bem estereotipado. Por outro
lado, quando ele é parte de algum movimento mais complexo de uma modalidade
esportiva, enfrentamos algumas dificuldades de análise, sendo a principal a de
reproduzir uma situação de jogo em laboratório, tendo de simular adequadamente
o ambiente, com o agravante de o salto e a aterrissagem ocorrerem exatamente na
plataforma de força.
Se superarmos, ao menos em
partes, estas dificuldades, conseguiremos obter alguns valores bastante
aproximados da realidade, como os que listarei a seguir:
- Bandeja do basquetebol:
9PC (McClay, 1994);
- Handebol:
aproximadamente 9PC após salto com arremesso;
- Vôlei: os dados obtidos
na investigação são discutíveis, porém, há a sugestão de que os valores de
impacto giram em torno de 9PC;
- Drop-jump: 3PC;
- Corrida com saltos seguidos:
média de 5PC, independente da perna utilizada;
- Pliometria: 3,5PC a
20cm, 4,2PC a 40cm, 5,4PC a 60cm e 6,4PC a 80cm (Brandina, 2000);
- Polichinelo: 3PC sem
fadiga e 3,5PC em fadiga, corroborando o que já foi discutido anteriormente no
capítulo da corrida em relação ao fato de que um músculo em fadiga tem a
capacidade de absorver impacto reduzida.
- Ginástica olímpica: salto
mortal com flexão de joelho na aterrissagem gera 2PC e com as pernas
estendidas, 14PC.
Para encerrarmos este tópico,
faltou discutir um assunto importante, ainda não mencionado nesta obra, que
seriam as forças médio-laterais (grosseiramente, seriam as que cruzam do
tornozelo direito ao esquerdo e vice-versa). Para situar o leitor, geramos,
normalmente, 0,05PC de sobrecarga em situações cotidianas, como na marcha; em
momentos de corrida, onde obtemos sobrecargas mais bruscas, os valores sobem
para 0,2PC; por fim, e agora em relação ao salto, a média é de assustadores
1PC, fato bastante preocupante, uma vez que não há muito que fazer para evitar
isto, sendo a carga imposta as nossas articulações do tornozelo.
A melhor estratégia para tentar
minimizar o impacto deste cenário diz respeito à utilização de treinamento de
força, para fortalecer as estruturas envolvidas, e também utilizar preparações
que propiciem ganhos em propriocepção, como o treinamento funcional, por
exemplo.
Ficamos por aqui. No próximo
artigo iremos discutir como diminuir o impacto no treinamento com saltos. Até
lá!
FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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