Fala rapaziada!
No último artigo da série, vimos
como a história do calçado esportivo nasce, tendo em vista a grande preocupação
com os altos índices de lesão da época, que eram atribuídas ao impacto gerado
pela corrida. No entanto, vimos que esta teoria
estava errada, pois mesmo com a utilização de tênis tecnológicos, o número de
lesões não variou, sugerindo que o problema, na verdade, era outro.
Por conta disso, muitas pesquisas
começaram a ser realizadas e foi observado que correr descalço traz uma série
de benefícios, seja em fortalecimento, seja em diminuição de impacto, porém, é
um estilo de vida inviável, por destruir a sola dos pés.
A solução para este último
problema foi a utilização dos tênis minimalistas, que imitam os pés descalços,
porém, conforme observado num artigo de 2012, a transição do modelo tradicional
para este trouxe lesões em 100% dos voluntários. Sendo assim, como proceder?
3. USAR O CALÇADO MINIMALISTA É SEGURO? E CORRER DESCALÇO?
A resposta para estas perguntas é
“depende”!
Como vimos ao final do último
capítulo, uma transição do uso do calçado tecnológico tradicional, para o
calçado minimalista, deve ser feita com cuidado e planejamento, e não de uma hora
para outra, caso contrário, ela irá trazer lesões em 100% dos casos,
proporcionando mais malefícios do que benefícios.
Uma das possibilidades para essa
troca é a utilização de um calçado que esteja num nível intermediário entre
minimalista e tradicional, recebendo, por isso, o sugestivo nome de calçado de
transição.
Outra abordagem diz respeito ao
treinamento com calçados tradicionais, porém, com incrementos periódicos do uso
dos minimalistas, ou mesmo descalço. No trabalho de Azevedo, 2013, por exemplo,
que durou 4 meses, a cada semana do programa aumentava-se um pouquinho a
duração do treino sem o calçado tradicional. Tal abordagem não só fortaleceu as
estruturas do aparelho locomotor dos voluntários, como evitou o surgimento de
lesões, uma vez que tudo era bem planejado.
Com isto, é importante ter em
mente que a utilização do calçado, seja ele qual for, ou mesmo dos pés
descalços, não são fatores imutáveis ou absolutos. Na essência, nenhum deles é
totalmente bom ou totalmente ruim, devendo ser enxergados como simples
ferramentas, com hora, forma e momento correto para serem utilizados.
4. COMO ESCOLHER UM BOM CALÇADO ESPORTIVO?
Existem alguns fatores que devem
ser levados em consideração na hora de comprar um calçado. Neste capítulo,
iremos listar e discutir alguns deles:
A. QUALIDADE DO CALÇADO
Será que quanto mais caro o
calçado, melhor ele é? Para me fazer claro, neste item não entram os calçados
falsificados, pois eles apresentam problemas graves, como veremos ainda hoje. O
que estou tentando comparar são os tênis de valores mais baixos, como 100
reais, com os bem caros e supostamente “top”, de mil reais.
O pesquisador Nigg, em 1986,
avaliou 33 corredores correndo a 4,5m/s, ora usando um modelo de calçado bem
simples (solado duro), do ano de 1977, ora um top de linha para a época,
apresentando a tecnologia de bolsa de ar encapsulado (solado macio).
Ao comparar o impacto que os
corredores receberam do solo durante a corrida, nas duas condições, foi
observado o seguinte: a pancada com o calçado simplinho foi, em média,
equivalente a 2,42 vezes o peso corporal dos indivíduos; já com o tênis mais
moderninho, a cacetada foi, em média, 2,55 vezes o peso corporal.
Com estes resultados, temos
evidências que mostram que a qualidade não é um fator relevante na
escolha do calçado para a prática esportiva. A única coisa que você está
pagando a mais será estética quando compra um tênis muito mais caro.
Clarke et al., em 1983, realizou
um estudo com diversos sujeitos, individualmente, a fim de comparar a utilização
ou não do sistema air. Curiosamente, esta pesquisa gerou três resultados
distintos: não há diferença, o modelo air é ruim e o modelo air é bom. Como
explicar, então, tais resultados?
Nós temos nossas características
individuais e o tênis tem as dele: quando combinamos as duas, pode sair um
casamento bom, ruim ou indiferente. Em outras palavras, os indivíduos tendem a
se adaptar de forma particular às diferentes características de construção do
calçado. Vários são os fatores que podem influenciar neste contexto: anatomia,
histórico de lesões, experiência prévia, “estilo de movimento”, etc.
Sendo assim, não existe um
calçado esportivo universalmente adequado! O único jeito de saber se o tênis
vai funcionar bem em você é testando. Além disso, a relação entre qualidade e
proteção é pequena: não é porque um tênis é mais caro que ele seja bom, pois
talvez ele não combine com seu pé.
B. CALÇADO FALSIFICADO
Encontrar um calçado falsificado
à venda não é nada difícil, sendo um produto de fácil aquisição em camelôs e
lojas clandestinas.
Ao realizarem a compra, as
pessoas, inocentemente, acreditam que a única diferença entre o original e o
falsificado é o preço, ou melhor, “o dinheiro que estão jogando fora com lucro
das empresas e impostos do governo”...
Infelizmente, não é bem assim: segundo
investigação de AZEVEDO, em trabalho com o laboratório de biomecânica da
Universidade de São Paulo, quando comparamos o calçado original com o
falsificado, percebemos que a versão pirata gera um pico de impacto 18% maior,
num intervalo de tempo 25% menor, ou seja, você leva uma porrada muito mais
forte e de forma muito mais rápida, para garantir que você não consiga se
defender de jeito nenhum e se machuque mesmo!
Além disso, também foi observado
que na versão falsificada, a pressão na sola do pé é bem maior, devido à menor
área que as vagabundas palmilhas possuem, já que são bem finas, feitas de raspas de borracha.
Como as consequências destas
alterações no longo prazo são fratura por stress nos ossos do pé e lesão
articular severa, recomendo, vivamente, que você JAMAIS compre um calçado
falsificado, uma vez que a diferença de qualidade é absurda e não vale a pena causar
lesões graves a si mesmo só para economizar dinheiro, andar com um tênis mais
transado ou fingir status.
Com isto, ficamos por aqui. No
próximo artigo continuaremos a discutir o que é relevante na hora de escolher
um calçado. Até lá!
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FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP
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