DISCUSSÕES SOBRE A BIOMECÂNICA DO TREINAMENTO COM SALTOS – PARTE 2

Fala rapaziada!

No último artigo, tivemos uma longa discussão acerca da sobrecarga gerada, em nossas articulações, pelos diferentes tipos de salto. Em nosso bate-papo de hoje, o foco será debater estratégias de redução de impacto dentro deste cenário. Boa leitura!


2. REDUZINDO A SOBRECARGA NO SALTO – O QUE FUNCIONA
Existem quatro dimensões que podemos explorar, no contexto dos saltos, a fim de reduzir a sobrecarga gerada. Vejamos quais são:


2.1. DESACELERAÇÃO
Inicialmente, cogitou-se que uma técnica de movimento apurada fosse capaz de reduzir a sobrecarga. De fato, isto é observado, porém, não exatamente pela forma em si, mas sim por características como flexão de joelho e de quadril e queda em antepé. Em outras palavras, o que reduz a sobrecarga não é exatamente a técnica, mas sim os mecanismos utilizados descritos que acabam por desacelerar o movimento.

Tanto é verdade que, quando comparamos o salto simples com joelho livre Vs. imobilizado, com uma tala, por exemplo, percebemos uma diferença enorme na sobrecarga, uma vez que ela é dobrada e obtida num intervalo de tempo duas vezes menor.

Estes valores ficam ainda mais assustadores quando pensamos no caso do mortal da ginástica olímpica, citado anteriormente, onde percebemos que geramos apenas 2PC com os joelhos livres e 14 PC com ambos imobilizados, sendo que estes valores só não são maiores por conta da presença do tablado.

E por que faz tanta diferença flexionar os joelhos?

Pegando o que estudamos em física no colégio, a força gerada depende da massa vezes a aceleração (F = m x a), sendo assim, como a primeira grandeza não varia (massa), a forma que nos resta para reduzir a sobrecarga é desacelerar o movimento, através da flexão dos segmentos.


2.2. FORÇA
Para conseguir desacelerar o movimento, de forma segura, necessitamos um pressuposto que é ter força muscular, haja vista que quem diminui a velocidade do movimento não é o joelho, mas sim o quadríceps.

Sendo assim, necessariamente, o músculo deve estar devidamente preparado e fortalecido, caso contrário, além de não conseguir desacelerar o movimento, ainda iremos abrir espaço para lesões.


2.3. SINCRONIA
Sincronia absoluta entre nossos membros inferiores no momento da queda nós não iremos conseguir, haja vista a manifestação de dominância lateral que interfere neste sistema, contudo, quanto mais próxima do ideal ela for, ou seja, quanto menos assimétrica for a colocação dos pés no solo na aterrissagem, melhor será para reduzirmos a sobrecarga.

Avaliando isto em laboratório, percebemos que a falta de sincronia gera uma sobrecarga muito grande em uma única perna, poupando a outra. Em outras palavras, por conta do delay de aterrissagem simultânea, sacrificamos um membro, por utilizar apenas um “amortecedor” ao invés de dois.


2.4. PRÉ-ATIVAÇÃO
Um trabalho muito simples, realizado com o auxílio de um alçapão que abria de surpresa, fazendo com que o voluntário caísse de uma pequena altura numa plataforma de força, mostrou que, quando estamos preparados para a queda, geramos 3,6PC (Peso Corporal) de sobrecarga, porém, quando ela acontece de forma inesperada, os valores sobem para 5,1PC!

Ocorre que, quando sabemos que iremos cair, acabamos nos preparando antes que o choque aconteça, pré-ativando os músculos. Conforme dito no primeiro capítulo desta série, como o pico passivo se dá em apenas 0,009s, a única forma de nos protegermos é nos preparando antes.

Posto isto, chegamos a um ponto delicado deste item: como melhorar a pré-ativação?

A verdade é que não há como impor uma pré-programação de forma precisa e satisfatória sem que nos preparemos adequadamente antes e isto só é obtido através da experiência com uma determinada prática esportiva ou mesmo durante a aquisição de habilidades motoras.

Sendo assim, quanto maior for a experiência do indivíduo com uma determinada atividade, melhor este mecanismo irá atuar.


3. REDUZINDO A SOBRECARGA NO SALTO – O QUE NÃO FUNCIONA
Existem algumas lendas importantes que precisam ser mencionadas e destruídas neste tópico. São elas:

- Calçado: como veremos no próximo capítulo, o calçado não é capaz de reduzir a sobrecarga em atividades como saltos e corrida. Ele fornece uma proteção ínfima, incapaz de trazer uma diferença significativa neste contexto.

- Alongamento: além de não auxiliar na redução da carga, ele a aumenta, uma vez que impõe uma grande contração excêntrica ao músculo, desorganizando suas fibras, gerando grande dano. Além disso, reduz agudamente a força, o que é péssimo, pois precisamos dela para controlar o choque com o solo, desacelerando o movimento, conforme discutido acima.

- Utilização de colchonetes e superfícies macias: não são capazes de reduzir a sobrecarga de forma considerável.


Ficamos por aqui. No próximo artigo da série iremos realizar uma análise dinâmica do salto, comentando os parâmetros utilizados para classificá-lo como bom ou ruim no que tange a técnica e sobrecarga. Até lá!



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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