Fala rapaziada!
No último artigo da série, vimos se
é possível escolher um bom calçado baseando-nos na percepção subjetiva de
conforto e também batemos um papo sobre pronosupinação, se é possível percebê-la
e quais suas consequências. Hoje, encerraremos a série discutindo se os tênis
esportivos podem melhorar o desempenho. Boa leitura!
6. OS TÊNIS PODEM MELHORAR NOSSO DESEMPENHO ESPORTIVO?
Esta é uma das áreas em que a
indústria do calçado mais investiu, mas num geral, os resultados nunca foram
promissores.
Como o calçado poderia ajudar no
desempenho? Mexendo no mecanismo de acúmulo e restituição de energia, ou seja,
devolvendo a energia que você está gastando para correr ou saltar, como se ele
agisse como uma espécie de mola, entendem? Ele se deforma, acumula energia e
depois te devolve, permitindo que você tenha um gasto energético menor, canse
menos e pratique a atividade esportiva por mais tempo.
Porém, infelizmente, na prática
isto nunca conseguiu ser feito...
O primeiro motivo é que a
primeira parte do pé que tocamos no solo, quase sempre, é o calcanhar, sendo
assim, é ele quem leva a primeira porrada, de modo que a energia nele é que
deveria ser acumulada. Porém, a parte que nos impulsiona é a da frente dos pés,
ou seja, como você vai guardar energia num lugar se você quer aproveitar em
outro? Fica inviável restituir.
Na hipótese de quem corre de
antepé (parte da frente do pé), que discutimos ser uma estratégia limitada e
complicada na série sobre corrida aqui do site (clique AQUI), em tese isto poderia dar certo, pois o impacto e a
devolução dele aconteceriam na mesma região do pé, porém, não é possível
utilizarmos material suficiente no tênis para que ele seja capaz de acumular
energia de forma satisfatória e significativa. Se assim o fizéssemos, o tênis
ficaria extremamente alto e instável, como se você estivesse correndo com um
pula-pula em cada pé.
Por fim, para destruir de vez o
sonho, se fosse possível acumular energia no lugar onde ela deve ser devolvida
e se isso fosse possível com um material fino, com uma tecnologia extremamente
avançada que ainda não existe, o mecanismo ainda teria o problema de não
funcionar em sincronia com os nossos músculos, uma vez que eles atuam sob
comando do nosso sistema nervoso central, que regula todo mundo para que eles
trabalhem de forma harmônica, na hora certa. Como o tênis não participa disto,
ele não devolveria a energia no momento preciso e ela não seria aproveitada
corretamente. Sendo assim, a probabilidade de o
calçado afetar diretamente no desempenho é ZERO!
7. CORRER DE CANELEIRAS NOS PÉS VAI ME DEIXAR MAIS RÁPIDO?
Resolvi colocar esta pergunta
nesta série pois sempre tem algum louco querendo inovar na academia e acaba
fazendo merda...
Quem já ouviu falar do Goku do
famoso desenho japonês Dragon Ball Z deve se lembrar de uma famigerada cena
onde ele, quando morto, estava recebendo um treinamento especial com
caneleiras, que pesavam algumas toneladas, nos punhos e nos tornozelos.
Acredito que vem daí o fetiche de
muitas pessoas querem treinar socos, chutes e corrida com caneleiras, o que é
um erro bastante ingênuo e explico o motivo: quando você usa uma sobrecarga,
por exemplo, no seu tornozelo, para fazer esteira, você acaba mudando totalmente
o padrão de movimento, ferindo um princípio básico do treinamento que é o da
especificidade.
Em outras palavras, de maneira
bem grosseira, é como se você estivesse estudando alemão para aprender japonês,
ou seja, fazendo coisas que não guardam muita relação entre sim, ferindo a
questão da transferência de aprendizado entre área correlatas.
Por curiosidade, isso vale também
para o soco com caneleiras e elásticos, pois, conforme verificado no
laboratório de biomecânica da Universidade de São Paulo, a sincronia de
ativação muscular muda em relação ao soco normal, prejudicando a especificidade
da tarefa e a transferência do aprendizado.
8. E OS CALÇADOS ESPECÍFICOS DAS MODALIDADES ESPORTIVAS? SERVEM PARA
ALGO?
Com certeza, pois eles são
adequados ao ambiente em que ela será disputada, como é o caso das chuteiras de
futebol, por exemplo, que agem aumentando a aderência do solado à grama,
conferindo maior estabilidade ao jogador.
Por conta disso, começaram a
estudar a questão das travas e da forma como elas estão dispostas na chuteira.
Comparando a trava redonda
tradicional, com a laminar (dente de tubarão), não se observou diferença alguma
de desempenho ou de segurança contra lesões. Uma das ideias dos caras era a de
proteger os jogadores contra lesões de menisco e ligamento cruzado anterior no
joelho, que são comuns em esportes que utilizam chuteira, uma vez que as travas
do solado acabam fixando o pé no chão e, dependendo do movimento realizado, o
joelho pode sofrer uma grande torção, rompendo as estruturas citadas.
Por outro lado, foi observado que
dependendo da forma como distribuímos as travas da chuteira, diminuímos a
pressão nos pés, aumentando o conforto, permitindo que o jogador atue de forma
melhor, mais rápida e por mais tempo.
Por fim, outra novidade que deu
certo está relacionada às chuteiras de cano alto/prolongado. Elas melhoram a
percepção do jogador sobre onde está o próprio tornozelo, permitindo
recuperações mais rápidas em saltos e quedas, fato que pode fazer diferença na
hora de reagir ou evitar uma torção. Além disso, tal fator ainda aumenta a
precisão de chute, melhora o deslocamento e a informação sensorial.
9. CONCLUSÃO
Ao longo desta série, vimos que a
questão dos calçados esportivos é muito polêmica, pois muitas das informações
que nos passam são falsas ou incompreendidas, gerando lendas.
Foi observado que o tênis não é
capaz de reduzir impacto e que correr descalço, ou com calçado minimalista,
pode fortalecer nossas estruturas e melhorar nosso desempenho, no entanto, para
fazermos essa transição, devemos ter muito cuidado, preparando gradativamente o
sujeito, caso contrário, a lesão é certa!
Ao discutirmos sobre qual o
melhor calçado, vimos que preço/qualidade não significa nada, assim como a
subjetividade e sensação de proteção também não. Batemos um papo também sobre
os grandes riscos que corremos ao adquirirmos um calçado falso, pois ele causa
sérios danos aos pés no longo prazo.
Para encerrar, no quesito
desempenho, vimos que o calçado não ajuda tanto quanto imaginamos, sendo apenas
um método auxiliar, uma ferramenta de controle, tanto é que ele pode ser usado
quando uma pessoa é vulnerável, ou seja, que ainda não tem as estruturas do
aparelho locomotor fortalecidas, com recursos para suportar o impacto, por
exemplo.
Por outro lado, o calçado não é
absoluto, pois é possível nos virarmos bem sem ele, inclusive com um rendimento
melhor. Sendo assim, o tênis esportivo
deve ser usado como uma estratégia de treino, como aquelas rodinhas laterais
que colocamos na bicicleta quando estamos aprendendo a andar e depois, quando
estamos preparados, tiramos e seguimos sem.
É essencial ter em mente também
que não dá pra dizer que o calçado não é importante, pois ele pode fazer alguma
diferença sim, caso esteja mal ajustando (machucando seu pé, aumentando a
pressão, gerando dor e desconforto) ou bem ajustado (gerando conforto,
prolongando a atividade e protegendo contra lesões na sola dos pés, como
bolhas, por exemplo).
Ficamos por aqui. Espero que
tenham gostado da série e aprendido bastante! Até a próxima!
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- Azevedo, Ana Paula da Silva. Análise dinâmica e eletromiográfica da
locomoção com o uso de calçado esportivo falsificado. Dissertação de
mestrado. 2009.
- Azevedo, Ana Paula da Silva. Tese de
doutorado. Biomecânica da corrida:
considerações acerca das adaptações dinâmicas e eletromiográficas desencadeadas
pelo pé descalço e pelo uso do calçado minimalista. Escola de Educação
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- Azevedo, Ana Paula da Silva; NOBREGA, Clara; AMADIO, Alberto Carlos and SERRAO, Júlio Cerca. ADESÃO A SEIS MESES DE TREINAMENTO
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FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
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